15 Abr, 2009
PSD OU PS? EIS A QUESTÃO
Santana Maia - in Nova Aliança de 3/4/2009
Olhando para o actual espectro partidário, até parece, assim à primeira vista, que não há qualquer diferença substantiva entre um social-democrata e um socialista. Aliás, em bom rigor, ambos os partidos disputam o mesmo espaço político e o mesmo eleitorado.
É certo que os comentadores bem tentam empurrar o PSD para a direita, mas a realidade não lhes faz a vontade, na medida em que é manifesto que a direita dos interesses (banqueiros e grandes capitalistas) está unha com carne com os socialistas (basta ouvi-los falar), enquanto cabe aos sociais-democratas a difícil missão de defender no terreno os valores da justiça social e da solidariedade social.
Da esquerda, os socialistas só já têm a agenda fracturante (casamentos homossexuais, legalização da droga, eutanásia, etc.), cabendo aos sociais-democratas defender, à direita, os valores da liberdade e da família, os pequenos e médios agricultores, as pequenas e médias empresas, os pequenos e médios comerciantes.
Se me perguntassem por que razão, em Portugal, sou social-democrata e nunca poderia ser socialista, a minha explicação seria simples. É certo que, hoje, o PS e o PSD estão cada vez mais descaracterizados, fruto dessa massa de gente volúvel e oportunista que vai enchendo um ou outro partido, ao sabor das suas conveniências e dos seus interesses. Mas, se formos à substância, ainda é possível ver algumas diferenças significativas.
O social-democrata é reformista e prudente; por sua vez, o socialista é fracturante e pretensamente revolucionário.
O social-democrata não gosta do Estado; o socialista vive do Estado.
O social-democrata prefere sacrificar a excepção do que perder a regra; o socialista prefere sacrificar a regra do que perder a excepção.
O social-democrata norteia-se pela ideia de Liberdade, privilegia o Trabalho, valoriza o Mérito, tem uma consciência ética e preocupa-se com o ser humano; por sua vez, o socialista norteia-se pela ideia de Igualdade, privilegia o Emprego, premeia a Mediocridade, tem uma consciência ideológica e preocupa-se com a Humanidade.
Para o social-democrata, quem produz mais e melhor deve ganhar mais; para o socialista, dois operários com a mesma categoria profissional devem ganhar o mesmo, independentemente da qualidade do trabalho prestado.
Para o social-democrata, os homens são capazes do Bem e do Mal, cabendo à sociedade discipliná-los e orientá-los para o Bem; para o socialista, o Bem e o Mal são conceitos relativos.
O social-democrata preocupa-se com a segurança de pessoas e bens, defende as forças da ordem e coloca-se ao lado das vítimas; o socialista preocupa-se com as garantias de defesa do arguido, tem sempre uma justificação sociológica para o crime e acha sempre excessiva a intervenção da polícia.
Para o social-democrata, o primeiro responsável por um determinado acto é quem o pratica; para o socialista, o responsável é sempre e invariavelmente a sociedade ou o sistema.
O social-democrata avalia os regimes políticos de forma objectiva; o socialista avalia-os de forma subjectiva.
Para o social-democrata, todos os homens são iguais; para o socialista, os homens de esquerda são dotados de uma superioridade moral que os coloca necessariamente num patamar ético acima do resto da maralha.
Para o social-democrata, os Estados Unidos são o principal aliado; para o socialista, são o inimigo a abater.
Finalmente, o social-democrata nunca se define como sendo de direita ou de esquerda, enquanto o socialista proclama-se orgulhosamente de esquerda.
Também, no que respeita, aos símbolos, há uma diferença significativa: os sociais-democratas têm um símbolo (três setas verticais que representam a liberdade, a igualdade e a solidariedade), enquanto os socialistas têm dois símbolos (o punho fechado e a rosa). Até nisto prefiro a verticalidade do símbolo social-democrata à duplicidade dos símbolos socialistas.
Aliás, os dois símbolos socialistas ilustram bem a distância que vai entre as suas promessas eleitorais (o tempo da rosa) e a sua governação (o tempo do punho fechado). Neste momento, como se vê pela agenda dos governantes e candidatos socialistas, estamos manifestamente no tempo da rosa. Esperemos, no entanto, que, até às eleições, as rosas agora distribuídas ao povo não o iludam para que não voltemos a sofrer na carne a governação do punho fechado.