O PAÍS DAS ORELHAS DE BURRO
Santana-Maia Leonardo - in Nova Aliança
Hoje todos reconhecemos o grande falhanço da reforma educativa de Roberto Carneiro. Mas a principal causa do falhanço da reforma residiu precisamente no facto de Roberto Carneiro ter cedido aos sindicatos de professores, associações de pais e à mediocridade das nossas elites, sacrificando as duas paredes mestras da reforma proposta por Fraústo da Silva: o fim das reprovações na escolaridade obrigatório e a introdução de exames para prosseguimento de estudos.
Aliás, qualquer pessoa que saiba somar dois mais dois facilmente constata que defender, simultaneamente, a escolaridade obrigatória, as reprovações e um ensino público de qualidade é uma impossibilidade matemática, como facilmente se demonstra.
Com efeito, são precisamente as reprovações, na escolaridade obrigatória, que obrigam a que se aldrabem os resultados, se nivele por baixo, se diminuía o grau de exigência e de rigor e se inflacionem as notas. Isto é uma evidência!
Da mesma forma que, no salto em altura, à medida que se sobe a fasquia cada vez são menos os que a conseguem transpor, também, nas nossas escolas, quanto maior for o grau de exigência, maior é o número de reprovações. E, mantendo-se a exigência e as reprovações, só há duas formas de impedir que os alunos menos dotados fiquem eternamente no mesmo ano de escolaridade: ou baixam a fasquia ou põem-lhes uma escada. Mas, neste caso, não me venham falar de exigência e de mérito, onde só existe fraude e aldrabice.
Acresce que as reprovações impõem um sistema tão fraudulento que os alunos (quer os que nada sabem, quer os que sabem alguma coisa) acabam todos a escolaridade obrigatória com a mesma nota: nível 3.
E se acabassem as reprovações na escolaridade obrigatória, a situação só por si melhorava? É óbvio que melhorava e em benefício de todos: alunos, pais, empresários e contribuintes.
Em primeiro lugar, os professores podiam ser exigentes, cabendo aos alunos, se quisessem ter boas classificações, trabalhar e esforçar-se para isso. Neste momento, os alunos passam, praticamente, todos com nível 3. Com o fim das reprovações, uns passariam com 2, outros 6 e outros com 16 valores. Era, aliás, fundamental que, com o fim das reprovações, as classificações passassem a ser de 0 a 20, para serem mais informativas, diferenciar os alunos e premiar o mérito, e fossem introduzidos os exames nacionais no fim de cada ciclo para aferir as classificações e avaliar os professores.
Em segundo lugar, as classificações e os certificados de habilitações passavam a ter, consequentemente, credibilidade e valor informativo porque reflectiam o que os alunos efectivamente sabiam.
Em terceiro lugar, os alunos que, no actual sistema, reprovam (ou passam por favor) poderiam, por um lado, iniciar o novo ano lectivo logo integrados em turmas de recuperação às disciplinas a que não tinham obtido aproveitamento e, por outro, não ficariam impedidos de prosseguir os estudos nas disciplinas a que obtiveram aproveitamento. Ou seja, não só tinham mais possibilidades de melhorar às disciplinas em que tinham dificuldades como também não ficavam a marcar passo nas disciplinas a que obtiveram aproveitamento.
Em quarto lugar, evitava-se que alunos matulões e cheios de vícios liderassem turmas de alunos mais novos e com vontade de aprender. Se os alunos acompanhassem sempre os da sua idade, grande parte dos problemas de disciplina dentro da sala de aula seriam evitados.
Finalmente, reduzir-se-iam em muitos milhões de euros os custos na Educação (cerca de 20%) com a vantagem de se aumentar a qualidade, premiar o mérito, diminuir a indisciplina e apoiar, efectivamente, os mais necessitados.
Acontece que, para se chegar a esta conclusão óbvia, é necessário, como acima referi, saber somar dois mais dois. Ou, como diz o povo, pensar um bocadinho. E pedir isso, nos dias que correm, a um professor já é pedir de mais, quanto mais a um deputado ou a um governante.