Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

Santana-Maia Leonardo - in Nova Aliança 

 

Se a Câmara Municipal de Abrantes defendesse o programa de regeneração urbana global do centro histórico, recentemente apresentado, há dez ou vinte anos, ainda se compreendia, apesar de, mesmo nessa altura, a prudência já não o aconselhar. Mas, nessa altura, os nossos autarcas e governantes viviam absolutamente embriagados com a facilidade com que se fazia obra à conta dos milhões de euros que todos os dias desaguavam no nosso país, esquecendo a mais elementar regra de prudência: «não há almoços grátis».

 

Mas hoje até mesmo os economistas mais optimistas e que contribuíram para alimentar esta verdadeira loucura em que vivemos nos últimos vinte anos, já reconheceram aquilo que qualquer dona de casa não pode deixar de saber: não há crescimento sustentado sem orçamentos equilibrados.

 

Como todos sabemos, Portugal vai entrar num ano de forte recessão económica, situação que se irá agravar substancialmente no final do ano de 2013, quando o Estado começar a pagar, à razão de dois mil milhões de euros ao ano, os cinquenta mil milhões de euros da dívida das parcerias publico-privadas.

 

A Câmara de Abrantes, como todas as câmaras, vai ter, nos próximos anos, o seu orçamento inevitavelmente reduzido e, consequentemente,  vai ter dificuldades de pagar aos seus funcionários, de manter o quadro de pessoal, de cumprir os compromissos já assumidos e de fazer a simples manutenção dos equipamentos e das obras já executadas. Para já não falar de coisas básicas e essenciais que ainda estão por fazer em todo o concelho e, para as quais, provavelmente já não vai haver dinheiro...

 

Nos próximos anos, os poucos recursos que vão sobrar deviam ser destinados exclusivamente: ou a apoiar os mais pobres dos efeitos da crise ou a apoiar a economia reprodutiva. E foi, precisamente por esta razão que, no passado dia 7 de Junho, os vereadores do PSD apresentaram a proposta de criação do Regulamento de Apoio a Estratos Sociais Desfavorecidos que a maioria do executivo acabou por rejeitar. Era, precisamente, na criação deste Regulamento que a Câmara se devia ter empenhado com carácter de urgência.

 

Com efeito, lançar, neste momento, um programa de regeneração urbana global do centro histórico com estas características (que inclui a construção do museu ibérico e o novo edifício da câmara municipal) revela uma inconsciência da situação dramática em que vivemos e em que vamos viver, na melhor das hipóteses, nos próximos dez anos, que não pode deixar de nos assustar.

 

Faço minhas as palavras de Carlos Abreu Amorim, no Diário de Notícias de 10/11/10, e que colam como uma luva à presente situação: «Entre nós, as decisões políticas situam-se num contexto de impunidade sem retorno. A tal ponto que o político que asneou sente-se habilitado, até encorajado, para repetir a estultícia gastadora ainda com maior convicção».

 

O Estado e as Câmaras servem para servir as pessoas e não para se servir das pessoas. Consequentemente, a Câmara Municipal devia empenhar-se, neste momento, em agilizar procedimentos ao serviço da economia, para evitar continuar a ser um entrave, em vez de um fomentador daquilo que o país produz.

 

Além disso, a Câmara já deveria ter aprendido com os erros do passado.

 

Com efeito, os milhões de euros que a Câmara, nos últimos vinte anos, já gastou no centro histórico em projectos do mesmo género não só não revitalizaram o centro histórico como ainda tiveram o condão de afugentar os poucos que aí residiam e o frequentavam. Não é, pois, com milhões de euros que se resolve o problema do centro histórico mas remediando o mal que foi feito com os milhões já aí gastos. Ou seja, fazendo regressar ao centro histórico serviços que dali saíram para que se volte a retomar, lenta e progressivamente, o hábito de vir ao centro da cidade.

 

O programa de regeneração urbana global do centro histórico vai ser certamente uma mina de ouro para alguns (sempre os mesmos), mas os abrantinos vão ser apenas os mineiros que vão ficar soterrados no fundo da mina. E não se esqueçam de uma coisa: as histórias de mineiros soterrados são sempre trágicas e só muito raramente têm um final feliz...

in Mirante de 25/11/10

 

Vereadores da oposição consideram que os tempos de crise que se vivem desaconselham investimentos de milhões e referem que anteriores projectos municipais para revitalização do centro histórico falharam.

 

O anúncio de um investimento de “vários” milhões de euros na regeneração do centro histórico de Abrantes levou os vereadores do PSD com assento no executivo municipal a reclamarem a “suspensão imediata” do programa.

 

O pedido dos eleitos sociais-democratas surge na sequência do anúncio da autarquia, de maioria socialista, de elaborar um plano de regeneração urbana da cidade, com o objectivo de revitalizar o centro histórico e que engloba intervenções ao nível dos transportes, comércio tradicional e edifícios devolutos, um plano de intervenção que pode ascender a “alguns milhões” de euros.

 

“Lançar neste momento um programa de regeneração urbana global do centro histórico deste teor revela uma inconsciência da situação dramática em que vivemos e em que vamos viver, na melhor das hipóteses, nos próximos dez anos”, disse o vereador social-democrata Santana-Maia Leonardo.

 

“É uma situação que nos assusta”, acrescentou o vereador, tendo afirmado que a autarquia “tem de estar preparada para ver o seu orçamento substancialmente reduzido nos próximos anos”. Segundo referiu o autarca em reunião de câmara, “os milhões de euros que a câmara já gastou no centro histórico em projectos do mesmo género não só não revitalizaram o centro histórico como ainda tiveram o condão de afugentar os poucos que aqui residiam e aqui vinham”. “A câmara já deveria ter aprendido com os erros do passado”, observou. (…)