UM ESTADO SEM REFORMA?
O Governo jura a pés juntos que vai restaurar a nossa sanidade financeira, diminuindo a despesa. Até agora não se viu nada ou o que se viu acabou sempre por ser pouco e mau. A cada pedra que se levanta aparece um novo buraco; e as receitas, um eufemismo para um assalto sistemático ao nosso dinheiro, continuam a aumentar como se a salvação só chegasse no dia em que nenhum português tivesse dinheiro para nada. Há uma explicação para isto. Diminuir a despesa implica naturalmente a reforma do Estado e o Governo começa por não saber o que o Estado é, uma situação quase única na história das sociedades modernas. A ganância, a desonestidade e a saloiice indígena acabaram por criar um enorme labirinto sem fronteiras, que ninguém conhece e em que ninguém se entende.
Constava, por exemplo, que existiam 281 empresas municipais. Mas de repente o ISEG descobriu que afinal existiam 408, com um pequeno passivo de 2500 milhões de euros. Com as fundações sucede o mesmo ou ainda pior: não se conseguem contar, por razões que nem 700.000 funcionários públicos são capazes de esclarecer. E quase não vale a pena acrescentar à lista as centenas de institutos, de "observatórios", de gabinetes, de "serviços", que vivem num limbo entre o sector público e o sector privado, sem qualquer utilidade visível, e que se destinam no essencial a espremer o contribuinte ou a empregar a populaça imprestável e analfabeta, de que os partidos gostam e que a pátria se envergonha de deixar na rua, com um grau universitário sem valor e um ressentimento ruidoso. (...)
Vasco Pulido Valente - in Público de 7/8/2011