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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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O que mais me revolta não é assistir à arrogância dos poderosos mas à subserviência e ao conformismo dos pobres. E o que se está a passar neste momento no mundo do futebol português é o espelho do nosso país. Também aqui os Clubes-do-Arco-da-Governação estão apostados em ir além da "troika", ou seja, em aprofundar ainda mais as desigualdades e as assimetrias existentes entre clubes ricos e pobres, apresentando isso como uma inevitabilidade para a redenção do futebol português.

Enquanto nas outras ligas europeias, com a centralização dos direitos televisivos, se procura atenuar as assimetrias e, dessa forma, aumentar a competitividade, em Portugal a ganância dos Donos-Disto-Tudo não consente sequer que os outros clubes aspirem a lutar como gladiadores, ainda que com desigualdade de armas, no circo romano em que se transformou o futebol. Pelo contrário, em Portugal, o papel que os Grandes-de-Lisboa-Porto reservam aos outros clubes é o de simples cristãos destinados a ser devorados pelas três feras para gáudio das suas legiões de fiéis. 

É bom, no entanto, recordar aos mais distraídos que Benfica, Sporting e Porto apenas venderam os direitos televisivos dos jogos nos seus estádios, o que significa que os seus milhões de adeptos, como gostam de se vangloriar, também hão-de querer ver os jogos fora disputados em casa dos “pequenos”, como gostam de nos tratar do alto da sua soberba. 

Ora, bastava que os tais “clubes pequenos” tivessem à sua frente gente com o meu feitio, que prefere morrer de pé a viver de cócoras, para que os Grandes-de-Lisboa-Porto tivessem de engolir a sua arrogância e a sua altivez. Das duas uma: ou as operadoras pagavam o dobro do que pagaram aos três grandes juntos ou os jogos em casa dos “grandes” seriam transformados num festival de auto-golos não dando sequer oportunidade aos jogadores da equipa da casa de tocarem na bola.

Veríamos, então, se os milhões de adeptos dos “Grandes” continuavam a exultar com tão gloriosas vitórias de 150 e 160 a zero e se as televisões davam por bom o investimento feito.

Santana-Maia Leonardo - Diário As Beiras de 6-1-2016

29 Dez, 2015

Peregrino

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Santa Margarida, 1984

Passo a passo

Fui subindo a colina

Do fracasso

Cada verso foi um passo

Do Paço

Que me destina

 

Minha sina

Peregrina

De poeta está  cumprida

Camões de um só braço

Do naufrágio salvo a vida

27 Dez, 2015

O doutor

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Sou médico no Centro de Saúde,

Passo receitas, vejo se está mal,

Se estiver, vai ter de ir prò hospital,

Porque eu até já fiz mais do que pude.

 

Lá vai o bom tempo da gente rude

Que de noite enfrentava o temporal...

Agora que me importa se é fatal?

E que ninguém já espere que isto mude...

 

É a economia de mercado

E a saúde está cara e vende bem

Ou já viram algum desempregado?

 

E esta vida assim sem olhar a quem

Sempre me vai deixar bem preparado

Pra vir a ser político também.

 

Ponte de Sor, 20 de Outubro de 2005

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Imagine o leitor que numa certa cidade existia uma ponte pedonal e que o presidente da câmara, contra o clamor geral da Ordem dos Arquitectos, da Ordem dos Engenheiros Civis, do Automóvel Clube de Portugal e do sindicato das obras públicas, decidia abrir a ponte ao tráfego automóvel e de veículos pesados. O que acha que aconteceria? Não me estou a referir ao facto de a ponte cair porque isso é a consequência óbvia de tão estúpida decisão, refiro-me ao que sucederia após a queda da ponte.

Imagine agora que o senhor presidente vinha pedir desculpa pela queda da ponte porque tinha confiado na palavra do vereador das obras de que a ponte aguentava. Quem acha que era o culpado da queda da ponte: o autarca que mandou construir a ponte pedonal ou o autarca que a abriu ao trânsito de veículos pesados?

E uma última pergunta: face à derrocada e à tragédia, acha possível não só o executivo manter-se em funções como também o vereador responsável pelos erros de cálculo continuar no seu posto a liderar os trabalhos de reconstrução da ponte?

Ora, o que se passou na Justiça [1], é muito mais grave do que a derrocada da ponte 25 de Abril (existem alternativas à travessia, ao contrário do que acontece com os tribunais), vai demorar muito mais tempo a reconstruir (dentro de dez anos ainda vamos estar a sofrer e a pagar as consequências desta derrocada) e tem custos muito mais elevados (dava para construir várias pontes).

Outubro de 2014

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[1] Refiro-me à Reforma do Mapa Judiciário levada a cabo pelo Governo de coligação PSD-CDS.

23 Dez, 2015

É Natal!

Santana-Maia Leonardo - Diário As Beiras de 7-12-2015 

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Reconheço-me na herança judaico-cristã, mas não sou cristão, nem crente. Aliás, com o passar dos anos, cada vez são menos as coisas em que acredito e em Deus já deixei de acreditar há muito tempo. Isso não significa, obviamente, que não acredite no Bem e no Mal (por enquanto) ou que partilhe a opinião tão em voga de que tudo é relativo.

Acontece que o exemplo dos cristãos que fui conhecendo ao longo da vida, salvo muito raras excepções, em vez de me fazerem aproximar da Igreja, apenas contribuíram para que fugisse dela a sete pés.

E o Natal não é, infelizmente, uma quadra que abone muito em relação ao verdadeiro espírito do cristão. Basta entrar num centro comercial e ver toda aquela azáfama de cristãos a gastar o que lhes faz falta (a eles e a muita gente) num sem número de brinquedos, jogos e prendas absolutamente inúteis e que não vão contribuir, em boa verdade, para a felicidade de ninguém, para se ficar logo vacinado contra o espírito natalício e a cristandade.

Até hoje ainda nunca comprei uma prenda de Natal aos meus filhos. E também não vai ser ainda este ano. Espírito de contradição? Provavelmente, mas sobretudo porque gostava deles e tinha a perfeita consciência de que comprar um brinquedo a quem já tinha brinquedos em excesso era extremamente prejudicial para a sua formação.

E não só não lhes comprei brinquedos pelo Natal como os incentivava a desfazerem-se da maior parte dos que tinham e recebiam, mais que não fosse para poderem valorizar os brinquedos com que ficavam. Além disso, a selecção de brinquedos tinha ainda a enorme vantagem de fazer felizes outras crianças que não tinham brinquedos. Era o chamado efeito dois em um: fazia bem aos meus filhos, que se livravam de brinquedos inúteis e que literalmente os asfixiavam, e fazia felizes aqueles que os recebiam e que, por terem poucos ou nenhuns, lhes davam uma atenção que na minha casa seria impossível de encontrar.

É verdade que, de vez em quando, ainda se vê e ouve por aí uma alma caridosa em campanha de recolhas de brinquedos usados para distribuir pelos infelizes. Mas, em regra, estas campanhas são aproveitadas pelos cristãos apenas com a finalidade de libertar espaço em sua casa para que esta possa receber a nova colecção de inutilidades que já não incluem apenas brinquedos, mas uma série de jogos, equipamentos e adereços quase sempre tão caros quão perniciosos. Hoje em dia uma família cristã já não consegue viver sem atafulhar os quartos dos seus jovens rebentos com doses maciças destas inutilidades. O excesso de brinquedos atrofia a imaginação e amolece o carácter. Mas quem não tem tempo para os filhos têm de os compensar com alguma coisa. E pelo número de brinquedos e jogos de uma criança, facilmente se avalia o tempo que os pais lhe dedicam.

Para quem não saiba, é muito fácil distinguir um bom pai de um mau pai: o bom pai faz o que tem de ser feito porque gosta dos filhos, o mau pai faz o que for preciso para que os filhos gostem dele. Não é fácil ser um bom pai. Por isso, há tão poucos.

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