O PODER AUTÁRQUICO
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O poder autárquico foi muito importante a seguir ao 25 de Abril, quando se tratava de democratizar o funcionamento das instituições e de criar novas infra-estruturas de saneamento básico, vias de comunicação e algumas estruturas sociais. Entretanto, o poder político autárquico instalou-se, rodeou-se de clientelas e de conivências, usou e abusou dos recursos – humanos e financeiros – e, chegaram a corrupção e o nepotismo.
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Relativizar a questão com o argumento de que o poder autárquico é mais eficiente e mais económico, para a mesma função, do que o poder central poderá ser verdade, mas não justifica os vícios do poder autárquico.
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Na maioria das autarquias, a aliança dos autarcas com as empresas de construção e de obras públicas arruinou a paisagem portuguesa, consumiu recursos enormes enormes, nacionais e europeus, e terá criado algumas grandes fortunas que por aí andam e se vêem sem precisar de óculos. Será esta a razão por que os governos de José Sócrates nunca aceitaram a criminalização do enriquecimento sem causa justificada.
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Acontece também que as autarquias se habituaram, pelas razões descritas ou mero atavismo, a serem meras comissões de obras públicas e raramente se assumem como governo do concelho.
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Henrique Neto, in UMA ESTRATÉGIA PARA PORTUGAL, pág.199-200