A condenação do Dr. A. Vara
Recordar a actualidade de uma das Crónicas de Maldizer do maior cronista do Ribatejo
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Eurico Heitor Consciência - Ribatejo de 14-9-2014
A sentença não é sobre a acusação... Tem a ver com a minha circunstância – disse Armando Vara, sobre a Sentença do Tribunal de Aveiro que o condenou a 5 anos de prisão.
Tem. Tem mesmo. Vão ver que tem. Assim: quando ocorreu o 25 de Abril de 1974, Armando Vara era um modesto empregado da Agência da Caixa Geral de Depósitos duma mais do que pacata Vila de Trás-os-Montes. Com toda a probabilidade, se não tivesse acontecido o 25 de Abril, Armando Vara estaria hoje a gozar, no sossego, encanto e paz de Trás-os-Montes, a sua reforma de empregado da Caixa, com uma pensão razoável. Não teria preocupações, nem canseiras, nem, de certeza, estava condenado numa dura pena de prisão. Que 5 anos de prisa, serão 5 anos duros na idade dele, depois de ter conhecido o conforto material de que gozam os que têm muito dinheiro – se na prisão não lhe forem proporcionadas condições diferentes das dos restantes presos, como já tem acontecido.
Mas Vara tem o que procurou ou consentiu. Como certa vez escrevi, o mais notável salto à vara realizado neste país foi dado por Armando Vara: meteu-se na política activíssima e saltou de empregado de modesto balcão da Caixa para Director da mesma, pouco depois saltou para a sua administração e de seguida, saltou para Vice-presidente do BCP. Um triplo-salto à Vara.
Abro um parêntesis para dizer que não deverão levar à conta de desconsideração não tratar Armando Vara por Dr. A. Vara – como, curiosamente, faz o seu amigo Engº Sócrates, que obteve o diploma na mesma Universidade Independente em que, pelos vistos, o Dr. A. Vara alcançou um diploma de Relações Internacionais que leva o Engº Sócrates a tratá-lo por Dr. A. Vara.
Tornando ao rego: se Armando Vara se tivesse reformado como empregado da Caixa estaria gozando agora a serenidade da sua reforma entre os seus conterrâneos de Trás-os-Montes, entre homens sérios, frontais e verticais como são quase todos os transmontanos.
Mas optou pela Porca, meteu-se na Política e passou a movimentar-se entre as pessoas que fazem contorções da coluna a toda a hora, para resistirem à concorrência dos seus pares do partido, primeiro, depois para enriquecerem.
E é assim que os robalos se transformam em tubarões.