11 Out, 2009
SANTANA MAIA NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Amar Abrantes
Durante mais de uma década, Santana-Maia Leonardo deu voz à indignação de um povo. Falou contra os poderes instituídos, os compadrios e a corrupção. Hoje, é o rosto do PSD por Abrantes e fala, em discurso directo, à Revista da Qualidade, explicando o porquê deste desafio e abrindo o livro da sua candidatura.
Qual a razão da sua candidatura à Câmara Municipal de Abrantes?
Do ponto de vista do PSD, penso que foi a vontade de mudar a sério. Durante mais de uma década, fui colunista de diversos jornais e escrevi contra a forma pouco séria de fazer política em Portugal. E o PSD de Abrantes reviu-se nas minhas ideias. Do meu ponto de vista, as razões foram diferentes. Por um lado, senti a obrigação de me entregar de alma e coração a um concelho onde tenho as minhas raízes familiares, seguindo o bom exemplo dos meus tios. Por outro lado, senti a obrigação moral de dar a cara pelas minhas convicções e ideias. A mudança que eu represento e defendo, saliente-se, tem a ver com a forma como se exerce o poder e não apenas com a mudança de partido no poder.
Num dos seus recentes discursos referiu que o trabalho a fazer em Abrantes e em Portugal era digno de Hércules. Sente que consegue levar a cabo essa tarefa?
Sim, é preciso realmente um trabalho de Hércules. Referi-me a Hércules porque este lutou contra a Hidra, animal mitológico que ganhava força a cada golpe. E Portugal tem também a sua Hidra: a corrupção. A corrupção é o imposto mais caro que os portugueses pagam. Hoje as autarquias locais são as principais fontes de corrupção, sendo o urbanismo uma área de enriquecimento ilícito incontrolável. Acredito, no entanto, que consigo ter essa força porque candidato-me à Câmara sem telhados de vidro e despido de quaisquer interesses. Com 50 anos, tenho a minha vida resolvida: não tenho família para empregar, nem dívidas para pagar… Exercerei o cargo de autarca de Abrantes de forma livre e sem interesses, apenas em prol da população. Penso que só assim, de forma desprendida, se pode ser um bom autarca.
Aborda muitas vezes o tema das verbas comunitárias. Um dos seus intuitos é aproveitar as verbas deste novo Quadro Comunitário para desenvolver Abrantes?
Obviamente. No entanto, o que tem acontecido, em Abrantes e em Portugal, é que todos querem fazer obras faraónicas com vista a perpetuar os seus nomes e a enriquecer os mesmos, sem que haja a preocupação com o verdadeiro retorno para as populações que dizem servir. Abrantes não fugiu à regra. O problema é que, depois, damos uma volta pelo concelho e vemos estradas intransitáveis, centros de dia sem condições, idosos ao abandono, escolas fechadas, populações sem saneamento básico e sem qualquer infra-estrutura de lazer ou desportiva… Ora, isto é inadmissível. A primeira obrigação das autarquias é fazer as pessoas felizes e nenhuma pessoa é feliz com um mega-estádio de basebol, mas sem esgotos. Os concelhos só têm futuro se crescerem de forma equilibrada. Em Abrantes gastou-se muito, mal e em poucos sítios, sem grande retorno sequer para os sítios onde os investimentos foram feitos, e o resto do território ficou completamente ao abandono. Tornar o concelho mais harmonioso, corrigindo as gritantes assimetrias, será um dos nossos grandes objectivos.
Qual a razão de querer criar a marca «Abrantes»?
Abrantes tem potencialidades que todos os concelhos gostariam de ter. Abrantes tem um castelo e um património histórico valioso, tem uma barragem e um rio, tem uma gastronomia excelente, uma cultura muito rica e uma localização privilegiada. Estamos no centro do país. E aquilo que se tem verificado é que, ao longo destes anos, Abrantes não tem conseguido atrair visitantes e tem perdido população. Quantas pessoas no país sabem que Abrantes tem um castelo? Quantas pessoas associam a barragem de Castelo de Bode a Abrantes? Os abrantinos consomem-se, muitas vezes, em pequenas rivalidades, fruto, na maioria das vezes, de pequenas invejas. Ora, Abrantes só será grande se não se deixar consumir nestas ninharias. Abrantes precisa de alguém que faça apelo à sua verdadeira alma, que promova Abrantes e a coloque no mapa de Portugal.
E se não há visitas, não há atracção de população. Sem população, o concelho fica desertificado…
Exactamente. A minha luta prende-se precisamente com a desertificação e com a forma centralizada de fazer política em Portugal. Invocamos na Europa o facto de sermos um país periférico para recebermos fundos comunitários, mas, quando esses fundos chegam, os governantes de Lisboa esquecem-se da periferia do país. E nas autarquias acontece o mesmo. Reclamam-se investimentos e dinheiros do Estado e da Europa, em nome da interioridade, e, quando as verbas chegam, o dinheiro é todo gasto na sede do concelho. Somos todos filhos de Deus. Este é o princípio que defendo. É preciso que o dinheiro e o desenvolvimento cheguem a todo o lado, para que as pessoas não fujam do interior para o litoral e das pequenas aldeias e vilas para as cidades.
Sente-se com força para enfrentar o descrédito da população na classe política?
Só gente sem vergonha não pensa duas vezes antes de entrar na vida política porque, efectivamente, corremos o risco de sermos enxovalhados e de acharem que somos iguais aos anteriores. Mas a verdade é que os políticos portugueses reflectem apenas aquilo que a maioria dos portugueses é. Dou o exemplo do futebol. As regras do futebol são iguais aqui e na Inglaterra mas a seriedade e a competitividade do jogo não são as mesmas. Aqui o jogador simula, descaradamente, faltas, lesões e penaltis, sempre com o apoio dos seus adeptos e a complacência dos árbitros. Ora, isto reproduz a nossa cultura, uma cultura que desculpabiliza a fraude quando a mesma nos favorece ou beneficia. É natural que, sendo nós assim, os nossos governantes também o sejam. É, pois, importante remar contra esta cultura de falta de honestidade. Mas quem manda tem de dar o exemplo. Só assim é possível mudar Portugal.
Costuma referir-se às pessoas não como destinatários mas sim como participantes…
Eu defendo as pessoas como os verdadeiros agentes da mudança e não apenas como destinatárias de políticas. O nosso problema é o tractorista, não é o tractor. E o grande falhanço das nossas reformas reside precisamente em andar sempre a mudar de tractor, sem mudar o tractorista. Acredito que a educação, no verdadeiro sentido da palavra, pode mudar as pessoas e que, através das associações desportivas e culturais e das escolas, será possível implementar uma sociedade de valores e um Homem novo. Temos de conseguir que os jovens interiorizem os valores de cidadania, da liberdade de opinião e de expressão, da honra, da solidariedade e do respeito pelos outros. Este é o caminho.
Qual a adesão das pessoas à sua forma de pensar, ao seu programa eleitoral?
Existe, em Abrantes, neste momento, um grande desencanto. Tenho procurado incutir a esperança nessas pessoas e mostrar-lhes que a mudança é segura. E, apesar de reconhecer que o desencanto está a corroer a alma dos abrantinos, acredito que ainda vão encontrar, dentro de si, uma réstia de forças e de alma para lutar pela mudança.
Gostaria de deixar alguma mensagem aos abrantinos?
A única mensagem que posso deixar é de esperança. Vou apresentar nestas eleições uma lista completamente renovada, onde as qualidades humanas foram o primeiro critério de escolha. Parafraseando o meu primo e ilustre penalista Conselheiro Maia Gonçalves, também eu considero que os políticos devem ser, antes de mais, pessoas boas e sensatas. Ponto final. E, se possível, letradas. Por sua vez, a renovação da classe política é sempre importante porque o poder cria vícios.
Acha que Abrantes pode ser um exemplo no país?
O exemplo é a melhor forma de ensinar e Abrantes vai ser esse exemplo. E seremos seguramente uma voz contra a forma como se faz política neste país, contra o centralismo de Lisboa e a escandalosa concentração de meios na capital.