12 Nov, 2008
DIFERENÇAS
por António Belém Coelho
Começa o ano escolar. Em todas as Escolas públicas a data é celebrada como se fosse um feriado nacional cheio de significado. Alunos, professores, pais e encarregados de educação participam empenhadamente na cerimónia, que contempla a evocação da história do país (incluindo o hino nacional), uma vertente religiosa e a interiorização da importância de adquirir conhecimentos quer para o indivíduo, quer para a comunidade e o respeito devido à Instituição e a quem nela trabalha.
Os alunos chegam nas suas fardas ou em roupa de cerimónia; muitos professores vestem trajes tradicionais; toda a comunidade faz gala se apresentar impecavelmente neste dia. Sector público e sector privado libertam os Pais e Encarregados de Educação para que possam estar presentes.
A cerimónia que se estende por boa parte do dia é levada de princípio a fim com o máximo de ordem, civismo e mesmo com uma emoção que se sente no ar. A escola, embora já antiga e um pouco degradada, está imaculada. Não há graffitis, não há um risco nas mesas ou cadeiras dos alunos. Nem nunca houve, não se trata de qualquer maquilhagem de ocasião.
A escolaridade obrigatória é de 11 anos e vai agora passar para 12 anos. Os alunos faltam muito pouco e devem avisar antecipadamente quando tal aconteça; os professores idem e são obrigados a assegurar a própria substituição. Os alunos não compram livros; estes passam de mão em cada ano lectivo. E embora se apresentem com um ar gasto, a sua conservação é cuidada. Toda a comunidade está ciente desse facto. No seu interior, poucas imagens e poucos desenhos, apenas os estritamente indispensáveis aos objectivos, que isto de ensinar e aprender é um processo muito sério.
A escala de avaliação é de 0 a 12. É efectuado exame de admissão e nem todos conseguem entrar, tendo de procurar outra escola de tipo profissional. Os alunos não reprovam na escolaridade obrigatória, mas quem tem 4 ou menos de classificação sai da escola (que prepara o acesso à Universidade) e vai para as escolas profissionais. 99,7 da população tem 11 anos de escolaridade; 31,6% são detentores de cursos profissionais, 1,6% tem o bacharelato e 11,7% tem curso superior. 16% não acabaram o ensino superior!
Esta realidade passa-se na Ucrânia e repete-se em muitos dos Países ditos de Leste, que há cerca de uma década começaram a mudar o seu destino. E por cá sente-se pontualmente quando temos nas nossas escolas alunos dessas origens.
Talvez que esta realidade (e certamente muitas outras variáveis) possa ajudar a explicar o sucesso que têm tido e também o facto de alguns deles já nos terem ultrapassado em diversos domínios e outros existirem com previsão de ultrapassagem a curto prazo.
Não vou enumerar as diferenças. Qualquer um de nós as pode ver a olho nu. E meditar!