Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

por António Belém Coelho

 

A actual responsável da equipa do ministério da Educação encontrou, à semelhança dos seus antecessores, (mais) um sector em que efectivamente os gastos são demasiados para os resultados obtidos e que enferma de muitos outros problemas, a começar pelo clima dentro e fora da sala de aula.
 
Para além da riqueza vernácula e da variedade de situações que evidenciam as mais básicas lacunas de educação que são comuns nos espaços não lectivos das nossas escolas, no que respeita à sala de aula, hoje, salvo raras excepções de turmas escolhidas a dedo, é impossível ter um minuto seguido de uma aula produtiva. Mas adiante.
 
É evidente que a equipa ministerial tem conhecimento disto. Ao contrário do que possa parecer, vivem cá, não são alienígenas caídos de repente cá no burgo.
 
Simplesmente, por mera facilidade, para não lhe chamar outra coisa pior, resolveram ignorar esse magno problema, sem a resolução do qual nenhum outro tem resolução no âmbito da educação.
 
E voltaram-se para a parte aparentemente mais fraca, lançando mão da questão da avaliação, que é sem dúvida outro problema que urgia resolver, mas nem de longe nem de perto da maneira como o querem fazer, prenhe de injustiças que a serem levadas a tribunais a sério, lá fora a nível europeu, muito penalizariam o Estado português.
 
Mas a dura e triste realidade é a indisciplina na sala de aula; muitas reportagens de televisão o têm mostrado; muitos mais relatos em jornais diários e semanários disso dão conta. Uns mais graves, outros menos.
 
A tendência de desculpabilizar e dizer que essa indisciplina é resultado do meio social, do contexto socio-económico e todas essas balelas terceiro-mundistas e socialistas, a nada conduz, senão à generalização da situação, que a dado momento, nos parece perfeitamente normal.
 
Muitos professores já estranham quando encontram uma turma que se comporta relativamente bem.
 
Desde espreguiçarem-se repetidamente durante a aula, de atirarem papéis, pastilhas e outros objectos que tais para o chão, de se insultarem verbalmente uns aos outros, com adjectivos que não posso nem devo aqui expressar, tal o seu baixo quilate, há de tudo. E estas situações são apenas as mais frequentes e por assim dizer, mais inócuas.
 
Qualquer professor que tente explicar a matéria que está obrigado a leccionar àquele grupo cada vez mais restrito de alunos que quer mesmo aprender, não o consegue. Em cada minuto é interrompido pelos comentários, conversas, toques de telemóvel, chamadas inclusive por parte dos encarregados de educação dos alunos, por objectos que voam pela sala, etc.
 
Se tenta por ordem, por palavras, logo ouve por parte por vezes significativa dos alunos que não lhes interessa nada o que se está a tratar e que só ali estão porque têm que estar. E se alguns mais desesperados indiciam utilizar um meio mais eficaz, logo o catraio lhe diz que é crime tocar-lhe nem que seja com um dedo.
 
E ao contrário da equipa ministerial, os professores, que lidam diariamente com a realidade, não têm nem carros de alta cilindrada, nem portas das traseiras e muito menos segurança e guarda-costas que os protejam de uma grande ovação.
 
Contra isto, nada a fazer; a equipa ministerial decidiu actuar neste aspecto tal como os célebres macacos chineses: cegos, surdos e mudos!
 
E é por aqui que deveriam começar se realmente querem melhorar alguma coisa do ensino! Agora, se simplesmente, como tudo o indica, apenas pretendem que 70% ou mais dos professores não possa aceder ao topo da carreira nem auferir os vencimentos aí praticados, então estão a ter a actuação certa. Certamente para salvaguardar as chorudas reformas, ajudas de custo, vencimentos automóveis, telemóveis, cartões de crédito e todas as outras inumeráveis mordomias de que usufruem e vão continuar quase que vitaliciamente a usufruir.
 
O quadro está traçado; a actuação só pode ser uma: primeiro, fazer regressar à sala de aula o mínimo de disciplina que pelo menos permita ao professor ensinar os cada vez menos alunos que ainda pretendem aprender. Depois e então, tudo o resto será necessário e bem-vindo, desde que regido pelo bom senso.
 
Se assim não for, o ensino público está definitivamente condenado; a favor do ensino privado. E os melhores professores, não todos aqueles que recentemente foram promovidos ao topo da carreira, terão aí lugar. Porque quer se queira, quer não, o mercado funciona. Mesmo na Educação!