19 Dez, 2008
«AQUI AO LEME SOU MAIS DO QUE EU»
Santana Maia - in Nova Aliança de 12/2/09
Em primeiro lugar e antes de mais, quero agradecer o convite que me foi endereçado pela direcção da Nova Aliança para poder continuar a publicar as minhas crónicas num jornal de Abrantes.
Eu sei que, para a maioria dos portugueses, é difícil compreender por que razão, sendo eu candidato à câmara de Abrantes pelo PSD, me recuso a escrever crónicas nessa qualidade. Mas a explicação é muito simples.
Em Portugal, infelizmente, as candidaturas ao que quer que seja (autárquicas, assembleias regionais e da república, associações, etc.) resumem-se, em regra, a dois tipos: unipessoais e terceiro-mundistas.
As candidaturas unipessoais são aquelas em que o candidato é o presidente, o treinador, o roupeiro, o jogador e o espectador. O candidato pode sempre falar em nome da sua candidatura porque a sua candidatura se resume a si próprio. Este tipo de candidaturas é, no entanto, bastante saudável e higiénico, porque, para além de servir para afagar o ego do candidato, serve também para descarregar o seu fel nos adversários, aliviando, desta forma, a sua bílis.
As candidaturas terceiro-mundistas, por seu lado, são aquelas que são compostas pelo candidato-rei e pelo seu séquito. Este é o tipo de candidaturas que, em regra, costuma disputar a vitória nas eleições realizadas em Portugal, assim como em Angola, na Venezuela e na Rússia. Apesar de o grupo ser, em regra, numeroso, a verdade, no entanto, é que só tem uma voz e só admite uma opinião: a do candidato-rei. O resto serve apenas para abanar a cabeça.
Acontece que não me revejo, nem sou capaz de encarnar, qualquer destes dois tipos de candidatura. Como diz um provérbio japonês, «se duas pessoas pensam da mesma maneira, uma é dispensável». Felizmente, sempre tive a inteligência de me saber rodear de pessoas mais inteligentes do que eu. A minha candidatura é, por isso, um projecto colectivo formado por pessoas com opiniões próprias, diferentes e, certamente, melhores do que as minhas em muitos aspectos. O espírito da minha candidatura está bem explícito na fala do homem do leme do poema “Mostrengo”: «Aqui ao leme sou mais do que eu: sou um povo que quer o mar que é teu.»
Ora, se me fosse pôr agora a falar, como candidato a presidente da Câmara de Abrantes, quando o grupo de pessoas que me vão acompanhar neste projecto está longe de estar fechado, seria estar a desvalorizar e a limitar, antecipadamente, a sua opinião.
Esta é a única razão por que, neste momento e por enquanto, apenas aceito escrever crónicas em nome pessoal. Aquilo que escrevo vincula-me apenas a mim, sendo certo que, da minha candidatura, fazem e farão parte pessoas que pensam de maneira muito diferente da minha. Felizmente.
Com efeito, como disse na apresentação da minha candidatura, só coloco três condições de admissão: agarrar na consciência, endireitar a coluna e amar Abrantes.