25 Dez, 2008
ESPERTEZA SALOIA (OU A NOVELA CONTINUA...)
por António Belém Coelho
Há alguns dias atrás, todos fomos surpreendidos pela intervenção da Srª Ministra da Educação, anunciando que estaria disponível para negociar um outro modelo de avaliação, não este ano, mas apenas no próximo ano, mais ou menos em Junho ou Julho!
Passado o primeiro momento de estupefacção, derivado da mudança de opinião de quem até aqui jurava a pés juntos que daqui não saio e daqui ninguém me tira. Ou seja, que deste modelo não abdico e que terá que ser levado até ao fim independentemente das consequências para os diversos agentes do processo educativo, importa analisar o sumo da questão. O que implica ceder ou repensar o modelo e negociar em Junho ou Julho?
Apenas que se tentará arrefecer a contestação pouco antes das eleições legislativas, que são efectivamente aquelas que verdadeiramente interessam ao Governo. Assim, esvaziaria um balão em crescendo e atenuaria uma contestação justa e fundada de toda uma classe. Mas de manobras destas já estamos fartos. E de que nos queiram tomar por tolos, também!
Já não estamos na época em que o cidadão ignorante se deixava enganar por qualquer processo negocial que mais não visava do que dilatar, evitar e diluir no tempo as acções de reivindicação e manifestação dos seus direitos. Os cidadãos de hoje, de uma maneira geral são cidadãos formados e informados e os professores, se possível ainda mais.
Uma vez que essa formação e informação deriva do espezinhamento a que têm sido sujeitos, a começar na divisão da carreira de Professor em duas: professor e professor titular. Façam, por favor, isso a outras carreiras: por exemplo, secretários de Estado titulares e secretários de Estado; ou aos ministros; ou aos médicos; ou aos juízes; ou aos advogados. A ver a volta que não levavam.
Mas, no entanto, querem impô-la aos professores, juntando a essa acção que tantas injustiças criou, um esquema de avaliação perfeitamente surrealista. Tão surrealista que o próprio ministério da Educação o reconheceu, tendo tido recuos sucessivos sobre ele. Mas sempre com carácter temporário, frise-se ?!..
Trata-se da táctica de mudar por agora alguma coisa, para que todo o resto fique na mesma. E que sentido faz insistir num modelo para hoje, anunciando que, para o ano que vem, estão dispostos a negociá-lo e quiçá a mudá-lo?
A única resposta volta a ser política: a de que se pretende minimizar o desgaste e na altura própria, pouco antes das eleições legislativas, tentar esvaziar o balão, com a ajuda dos cães de fila do costume.Que só ladram quando são atiçados, porque não têm coragem para ladrar de motu próprio! E já agora, recordem a alguns dos actuais secretários de Estado o seu passado sindicalista e as posições e medidas que tomaram anteriormente, porque a memória individual poderá ser curta, mas a memória colectiva naturalmente persiste.