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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

 

Em primeiro lugar, e para aqueles que possam achar que vesti a camisola de um partido, gostaria de salientar que não gosto de laranja e muito menos de cor-de-rosa. Prezo a liberdade e, dado que, “quando duas pessoas pensam da mesma maneira, uma é dispensável”, aceitei o desafio de colaborar com amarabrantes.
 
Nasci em Abrantes, mas cresci e fui criada em Mouriscas, de onde saí para estudar, primeiro na minha cidade e depois na cidade de Évora. Acalentei o sonho de poder permanecer na minha terra e aí criar os meus filhos e dar-lhes a qualidade de vida a que todas as crianças têm direito.
 
Vivemos numa terra com História e de muitas histórias e as histórias preenchem os sonhos. Basta olhar para a paisagem deslumbrante deste rio, olhar para o castelo de Abrantes pousado numa nuvem de neblina ou assistir às cores do Sol poente e a alma de cada mourisquense torna-se mais forte. Foi esta terra que escolhi para viver, na esperança de aí construir o meu futuro. E Mouriscas é uma terra com futuro, mas que não seja apenas para os que, tendo nascido fora, escolhem esta terra para viver, mas também para todos aqueles que aqui nasceram.
 
Tenho assistido ao crescimento da minha cidade e, de facto, Abrantes está diferente, para melhor, diga-se de passagem. Tornámo-nos mais urbanos, enfeitámos a zona ribeirinha, construímos um estádio municipal e até teremos um Museu Ibérico, vejam só! Ficámos mais refinados e mais vendáveis aos olhos dos que estão fora do concelho, somos excelentes no marketing! E falo no plural dado que, também eu, enquanto cidadã, cumpri o meu dever através do voto. Mas fomos enganados.
 
Em Mouriscas, na maior parte das ruas, não existe rede de esgotos. Os que existem correm a céu aberto no primeiro riacho, mas cuidadosamente escondidos dos olhares dos forasteiros. O fedor e os mosquitos é que não se podem disfarçar nas noites quentes de verão. É vulgar ver nas valetas as águas residuais das máquinas que vão directas para os ribeiros onde a minha mãe, quando eu era miúda, lavava a roupa.
 
Os jovens pais, casais cheios de sonhos, vêem-se obrigados a levar os filhos para creches e escolas de outras freguesias, por falta de respostas para as suas necessidades de apoio à família. Sortudos aqueles que têm os avós disponíveis para cuidar deles após a hora do Jardim-de-infância ou do Primeiro Ciclo! Os pais, sobretudo os mais preparados, não têm outro remédio senão procurar emprego noutras cidades, muitos têm mesmo que abandonar a freguesia e até mesmo a cidade por falta de empregos compatíveis com as suas qualificações.
 
Os nossos filhos senhores, com sorte, vão duas vezes por ano usufruir do nosso estádio municipal que está praticamente às moscas (obséquio da Câmara Municipal).
 
A maioria dos nossos pais, com emprego precário e poucas qualificações, tomara terem dinheiro suficiente para sustentar a família até ao fim do mês quanto mais para os levar à piscina!
 
Na nossa cidade, ao contrário do que acontece em outras não muito distantes, não existe habitação social para apoiar os que mais precisam!
 
Em Mouriscas, à semelhança de muitas outras escolas, são os pais que contribuem, todos os meses, para comprar o papel que se gasta na escola nas fotocópias necessárias.
 
No Jardim-de-infância, são os pais que pagam as senhoras que dão apoio às crianças à hora do almoço e isto, pasme-se!, no tempo do Magalhães! Alguns até podem passar necessidades, mas o Magalhães parece que já ninguém lhes tira!
 
Não há um parque infantil para as nossas crianças e, para os estudantes que vão para o 5º ano, bem podem esperar sentados que quem de direito se preocupe em adequar os horários dos transportes públicos às necessidades das crianças! Mais vale deixá-los ir para Mação ou para Sardoal, até fica mais barato à Câmara!
 
É por estas e por outras que digo que fomos enganados. Como no tempo dos Descobrimentos, continuamos não a apostar nas pessoas, mas nas grandes obras que só servem o interesse de muito poucos, mas que ficam para a História! Esquecemo-nos contudo, que as obras estão por pagar e, mas cedo ou mais tarde, é do bolso de cada um de nós, mais uma vez, que sai o dinheiro!
04 Jan, 2009

FILHOS E ENTEADOS

por António Belém Coelho

 

Não temos qualquer dúvida de que as diversas e diferentes classes sociais e profissionais vão pretendendo vincar os seus anseios e reivindicações mediante acções e/ou movimentos que podem atingir mais ou menos cidadãos. E normalmente é aí que bate o ponto.
 
Quando se efectua uma greve de transportes com grande adesão, é praticamente todo o país que fica por assim dizer, paralisado.
 
Quando se efectua uma greve dos professores, como aconteceu com a última, o sistema educativo paralisou; bem pode o ministério e o Governo chamar-lhe significativa: o único termo é massiva e as consequências, felizmente noticiadas pelos meios de comunicação social que não estão de todo enfeudados ou dependentes do Governo, assim o mostraram.
 
A classe militar, e daqui entendamos, não quero de qualquer modo menorizá-la, tanto que entre alguns dos meus conhecidos e amigos se contam elementos pertencentes às Forças Armadas, goza e efectivamente deve gozar de um estatuto especial, na medida em que, caso a soberania esteja em risco, é sua obrigação e dever dar o corpo ao manifesto. Por isso mesmo é um corpo especial da Função Pública.
 
Logo, esta situação deveria, se o não é, ser contemplada em termos de estatuto remuneratório.
 
Como sabemos, há algum tempo que este estatuto não é revisto, embora tenha sido actualizado nos termos das actualizações da restante Função Pública, pelo menos.
 
Por isso, causou alguma surpresa, para não dizer outra coisa, a intervenção nos meios de comunicação social, radiofónicos e audiovisuais de destacado elemento das Forças Armadas, que já desempenhou papeis de extrema importância quer no seio da Instituição, quer como conselheiro aos mais diversos níveis, no sentido de alertar o poder para o descontentamento reinante na classe e indo mesmo ao extremo de dizer preto no branco, que os militares mais jovens poderiam levar a cabo acções menos pensadas.
 
Entretanto, diga-se de passagem que as reformas previstas para as Forças Armadas têm colhido a desaprovação dos principais chefes militares com uma ou outra excepção que mais não faz que confirmar a regra.
 
O nosso actual Governo, que diz não se guiar por manifestações, ultimatos ou outros fenómenos que tais, aos costumes disse nada.
 
Mas, de um momento para o outro, tira da cartola um aumento de um tal subsídio de condição militar, que qualquer outro trabalhador poderá ter dificuldade em entender, aumentando-o de cerca de 14,5% do vencimento para 20% do vencimento até 2010, para todos os militares, no activo, na reserva ou na reforma.
 
Para já, o aumento agora verificado traduz-se para um oficial em mais 260 euros mensais. Parece que agora os números foram contestados e serão algo menores! Essa contestação surgiu com o sugestivo título “O ministro enganou-se ou deixou-se enganar?
 
Sejam quais forem os números reais, nada temos contra, se a regra fosse equitativa para todos os outros; um quadro médio ou superior do Estado, irá ver o seu salário actualizado em cerca de 2,9%; o que dá aumentos muito inferiores ao agora verificado do referido subsídio.
 
Por outras palavras, o aumento salarial de um quadro médio/superior do estado estará ao nível do aumento do subsídio de um soldado ou cabo!
Não vale a pena dizer mais nada, a não ser que os profissionais das Forças Armadas não têm qualquer culpa; O Governo, esse sim, deveria equacionar e distribuir o pouco que há a distribuir com um mínimo de justiça.
 
Afinal, talvez Mao Tse Tung tenha tido razão quando dizia: “o poder reside na ponta de uma espingarda”.
 
Quem não o faz parece ter um temor desmesurado e infundado quanto aos quartéis que, afinal de contas, são ocupados por cidadãos democraticamente formados, como quaisquer outros.
 
Mas basta qualquer chefia soprar ameaças aos ouvidos governamentais para que se encontre uma qualquer compensação que face a outrem tem efectivamente laivos de injustiça.
 
Chama-se a isto insegurança. E em Democracia, ainda por cima exercida em termos de maioria absoluta, esta insegurança toma a forma de navegação à vista, reagindo ao menor sinal de ameaça que apareça.