19 Jan, 2009
SIM, SENHOR PRIMEIRO-MINISTRO
Santana Maia- in Semanário de 8/1/2008
Temos, pela primeira vez, um Orçamento de Estado rectificativo antes de publicado o rectificado, sendo evidente para toda a gente não só que o défice vai ultrapassar os 3% como também que as receitas fiscais não atingirão o valor orçamentado.
Quem ouve falar o nosso primeiro-ministro não pode deixar de se lembrar da máxima de Humphrey, na célebre série cómica inglesa “Sim, Senhor Primeiro-Ministro”: «Nunca se deve acreditar em nada enquanto não for desmentido oficialmente».
E verdade se diga, nunca houve um primeiro-ministro que se assemelhasse tanto ao seu congénere desta série inglesa como o nosso José Sócrates. Com uma ligeira diferença: enquanto o primeiro-ministro da série pretendia ser a caricatura de um primeiro-ministro a sério, José Sócrates é a apenas a caricatura perfeita do primeiro-ministro da série. A tal ponto que eu, que me divertia imenso sempre que revia aquela série, passei agora a achar o primeiro-ministro da série um político extremamente sério, sensato e competente, tendo em conta o actual termo de comparação.
Como se vê pelos cartazes das manifestações, a maioria dos portugueses está convencida de que o primeiro-ministro é mentiroso. Eu não partilho desta opinião. O nosso primeiro-ministro tem é uma maneira muito própria de contar a verdade aos portugueses. Gosta de nos contar a verdade do avesso. Por exemplo, em vez de dizer que vai subir os impostos, diz o contrário, sendo certo que toda a gente sabe que o que ele quer dizer é precisamente o contrário do que disse. Ora, isto não é mentir, porque mentir pressupõe a intenção de enganar. E, neste caso, uma pessoa só seria enganada se o primeiro-ministro fizesse precisamente aquilo que diz. Como isso nunca sucede, ninguém pode afirmar, em boa verdade, que José Sócrates lhe mentiu.