Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

Santana-Maia Leonardo - in Nova Aliança 

 

Quem olha objectivamente para o comportamento dos dois maiores partidos portugueses não pode deixar de ficar com a estranha sensação de que se trata do mesmo partido desdobrado em dois (PS e PSD) para garantir a sua governação contínua. Desta forma, cria nos eleitores a ilusão de que existe alternância no poder, capitalizando, na oposição, o descontentamento à direita (PSD) e à esquerda (PS), ao mesmo tempo que o partido que governa (seja PS ou PSD) serve rigorosamente os mesmos interesses e cumpre o mesmo programa político, o que, no politiquês dos nossos comentadores, se chama governar ao centro. Ou seja, as eleições servem apenas para refrescar a equipa do Governo, nunca para substituir as políticas do Governo, que seriam sempre as mesmas qualquer que fosse o partido que as vencesse.



Não é, por isso, de estranhar que o líder do PSD se assemelhe muito mais ao jogador suplente, em exercícios de aquecimento, à espera da ordem de substituição por fadiga do jogador titular (leia-se, do primeiro-ministro), do que ao líder da equipa adversária. Aliás, quem ouve falar os dirigentes do PSD não pode deixar de estranhar que todas as suas críticas assentem, basicamente, na fadiga e na incapacidade dos actuais governantes de cumprirem o programa comum (seja, o PEC1, o PEC2 ou o PEC3...).

 

Ora, se o PSD fosse um verdadeiro partido opositor do PS, devia-se bater pela queda do Governo em nome de um projecto alternativo e assente em pressupostos e soluções diferentes. É certo que, se o PSD proceder desta forma, corre um sério risco de perder as eleições, uma vez que a maioria do povo português continua a ser simpatizante da União Nacional Socialista. Mas o PSD tem, obrigatoriamente, de correr esse risco se quer tirar Portugal do pântano onde está atolado.

 

Ao líder do PSD cabe-lhe dizer claramente o que se propõe fazer, sem rodeios e sem medo das palavras e do resultado das eleições; ao povo cabe-lhe escolher e sofrer as consequências da sua escolha (boa ou má). Já chega de partidos de moscas... Precisamos, definitivamente, de partidos de homens e mulheres a sério e sérios, os únicos capazes de limpar a porcaria que os seus antecessores aqui deixaram.

02 Mar, 2011

O CLUBE DO EURO

Extracto do livro "O NÓ CEGO DA ECONOMIA" de Vítor Bento 

 

Pode dizer-se que no clube do euro nem todos são iguais e uns mandam mais do que outros.

Mas a realidade da vida mostra que, em qualquer clube, quem dita as regras é quem paga as contas.

E esse estatuto ganha-se trabalhando e poupando.

É isso que dá poder e é isso que os alemães fazem.



 

«Os “drogados” invocam a condição de “doentes” para não serem punidos pelos seus delitos, mas depois esquecem-se que são “doentes” e assumem-se como pessoas livres com capacidade de decidirem pelo seu tratamento, ou não.»

 

«Não podemos ajudar aqueles que prevaricam e continuam a prevaricar só porque são “drogados”, e ao mesmo tempo sermos exigentes para com os jovens cumpridores. (...) Não é eticamente correcto facultar aos prevaricadores maiores recursos do que aos jovens cumpridores. A aplicação dos dinheiros públicos tem de obedecer a critérios rigorosos de ética e justiça social.»  

Francisco de Vilhena e Silva

Daniel Sampaio in Público 

Merece toda a atenção a proposta de escola a tempo inteiro (das 7h30 às 19h30?), formulada pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). Percebe-se o ponto de vista dos proponentes: como ambos os progenitores trabalham o dia inteiro, será melhor deixar as crianças na escola do que sozinhas em casa ou sem controlo na rua, porque a escola ainda é um território com relativa segurança. Compreende-se também a dificuldade de muitos pais em assegurarem um transporte dos filhos a horas convenientes, sobretudo nas zonas urbanas: com o trânsito caótico e o patrão a pressionar para que não saiam cedo, será melhor trabalhar um pouco mais e ir buscar os filhos mais tarde.

Ao contrário do que parecia em declarações minhas mal transcritas no PÚBLICO de 7 de Fevereiro, eu não creio à partida que será muito mau para os alunos ficar tanto tempo na escola. Quando citei o filme Paranoid Park, de Gus Von Sant, pretendia apenas chamar a atenção para tantas crianças que, na escola e em casa, não conseguem consolidar laços afectivos profundos com adultos, por falta de disponibilidade destes. É que não consigo conceber um desenvolvimento da personalidade sem um conjunto de identificações com figuras de referência, nos diversos territórios onde os mais novos se movem.

O meu argumento é outro: não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez...) que substituam a família? Se os pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho, que passassem, por exemplo, pelo encurtamento da hora do almoço, de modo a poderem chegar mais cedo, a tempo de estar com os filhos? Não deveria ser esse um projecto de luta das associações de pais?

Importa também reflectir sobre as funções da escola. Temos na cabeça um modelo escolar muito virado para a transmissão concreta de conhecimentos, mas a escola actual é uma segunda casa e os professores, na sua grande maioria, não fazem só a instrução dos alunos, são agentes decisivos para o seu bem-estar; perante a indisponibilidade de muitos pais e face a famílias sem coesão onde não é rara a doença mental, são os promotores (tantas vezes únicos!) das regras de relacionamento interpessoal e dos valores éticos fundamentais para a sobrevivência dos mais novos. Perante o caos ou o vazio de muitas casas, os docentes, tantas vezes sem condições e submersos pela burocracia ministerial, acabam por conseguir guiar os estudantes na compreensão do mundo. A escola já não é, portanto, apenas um local onde se dá instrução, é um território crucial para a socialização e educação (no sentido amplo) dos nossos jovens. Daqui decorre que, como já se pediu muito à escola e aos professores, não se pode pedir mais: é tempo de reflectirmos sobre o que de facto lá se passa, em vez de ampliarmos as funções dos estabelecimentos de ensino, numa direcção desconhecida. Por isso entendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional.

A nível da família, constato muitas vezes uma diminuição do prazer dos adultos no convívio com as crianças: vejo pais exaustos, desejosos de que os filhos se deitem depressa, ou pelo menos com esperança de que as diversas amas electrónicas os mantenham em sossego durante muito tempo. Também aqui se impõe uma reflexão sobre o significado actual da vida em família: para mim, ensinado pela Psicologia e Psiquiatria de que é fundamental a vinculação de uma criança a um adulto seguro e disponível, não faz sentido aceitar que esse desígnio possa alguma vez ser bem substituído por uma instituição como a escola, por melhor que ela seja. Gostaria, pois, que os pais se unissem para reivindicar mais tempo junto dos filhos depois do seu nascimento, que fizessem pressão nas autarquias para a organização de uma rede eficiente de transportes escolares, ou que sensibilizassem o mundo empresarial para horários com a necessária rentabilidade, mas mais compatíveis com a educação dos filhos e com a vida em família.

Aos professores, depois de um ano de grande desgaste emocional, conviria que não aceitassem mais esta "proletarização" do seu desempenho: é que passar filmes para os meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais.

Pág. 5/5