Mirante de 14/4/11
Santana-Maia Leonardo, vereador do PSD na Câmara de Abrantes, fala
das polémicas recentes e diz que falta cultura democrática à nossa classe política
Santana-Maia Leonardo, 52 anos, é uma voz incómoda que não se rege por taticismos e que não se verga ao politicamente correcto. Os princípios e os valores estão primeiro, assegura. E nessa linha de pensamento não tem problemas em afrontar o partido de que é militante, como não tem papas na língua a criticar a maioria socialista que governa a Câmara de Abrantes e a classe política em geral. Nesta entrevista considera que falta cultura democrática à maior parte dos nossos autarcas e diz que chegou o tempo dos municípios gerirem os parcos recursos com critério e sem megalomanias. Explica porque pede uma investigação do Ministério Público ao processo RPP Solar e porque defende que se suspenda e se redimensione o projecto do Museu Ibérico de Arqueologia em Abrantes.
Mirante - É oposição no executivo camarário e também à concelhia do seu partido em Abrantes. É um homem do contra?
Santana-Maia - Não. Não sou oposição à concelhia do PSD, sou oposição como vereador dentro do executivo camarário, mas não somos oposição ao próprio executivo. Queremos dar o nosso contributo pela positiva, só que como a maioria tem mais votos e nem sempre estamos em sintonia vai ganhando quase sempre a versão diferente da nossa. Tentamos levar ao executivo propostas e preocupações de todas as pessoas, independentemente de saber se votaram em nós ou não.
Mirante - Há muitas propostas vossas que não têm acolhimento.
Santana-Maia - Exactamente. No executivo já fizemos 237 intervenções escritas, com declarações, requerimentos, pedidos de esclarecimento e propostas fundamentados. Das 33 propostas que apresentámos penso que só uma ou duas, referentes a sinalização de trânsito, foram acolhidas.
Mirante - Que resultados práticos é que têm tido dessa intervenção?
Santana-Maia - Penso que há um lado benéfico, porque o executivo camarário tem que fazer um esforço maior. Obriga o executivo a ser mais rigoroso na sua actividade.
Mirante - Os esclarecimentos prestados pela maioria têm-no satisfeito?
Santana-Maia - Alguns satisfazem-nos. Os que não nos satisfazem geram uma proposta nossa de correcção ou então novo pedido de esclarecimento.
Mirante - A transferência da militância do PSD para Lisboa indica um corte de relações com o partido em Abrantes.
Santana-Maia - A minha mudança foi para me distanciar da concelhia de Abrantes. Quem está mal muda-se. Se a concelhia de Abrantes segue determinado tipo de regras com as quais não concordo, não posso continuar. Se suceder o mesmo em Lisboa, farei o mesmo. O PSD, se é um partido democrático, tem de se comportar como tal. Deve-se cumprir as regras, dar a conhecer as convocatórias de eleições, permitir as diferentes candidaturas e não andar com cartas na manga e com justificações de meia tigela. As coisas têm de ser transparentes. Foi a primeira vez que os militantes não foram convocados por convocatória enviada por e-mail ou por correio.
Mirante - Com estas divisões internas no PSD de Abrantes, o PS vai governando a seu bel prazer.
Santana-Maia - Não acho mal que haja conflito interno. O direito à crítica é uma liberdade que a pessoa tem, tal como tem direito a candidatar-se. Não fica mal um partido ter duas ou três correntes de opinião diferentes e as pessoas depois votarem em quem entenderem. Não se pode é pôr em causa os princípios estruturantes da democracia.
Mirante - Sentiu que era uma voz incómoda no seio do partido?
Santana-Maia - Sou uma voz incómoda quer para o partido quer para os meus amigos quer para o PS. Porque ajo de acordo com a minha consciência e com os meus valores.
Mirante - É um franco-atirador?
Santana-Maia - Não, mas também não tenho receio de estar sozinho se achar que tenho razão. Não sou “Maria vai com as outras”. Se estou num grupo com linhas de actuação definidas, sou leal.
Mirante - Apesar dessa polémica, a presidente da concelhia de Abrantes do PSD diz que os vereadores do partido continuam a merecer a sua confiança política. O inverso também é verdadeiro?
Até hoje os vereadores do PSD têm sido completamente leais com as pessoas que nos elegeram e com a concelhia do partido. Estamos a cumprir com aquilo que nos comprometemos. Trabalhamos com qualquer comissão política, mesmo que haja divergência de opiniões.