O PROBLEMA ESTÁ NOS APARELHOS DO PS E PSD
Ventura Leite - Público de 17-5-2012
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A solução para a crise nacional não é tão complicada quanto parece, mas o seu principal obstáculo é maior do que parece! (...)
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Esta situação deve-se sobretudo ao facto do PSD e PS serem dominados por aparelhos com actores sem verdadeira substância política, apostados no negócio político do costume e impedindo que os líderes inovem e arrisquem entendimentos de interesse nacional para vencer a crise. Não é fácil ser-se líder de um partido destes numa situação de crise e com companheiros deste tipo.
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E isto representa objectivamente um bloqueio para o país! Na verdade, por de trás dos dois líderes o que existe mesmo - respeitadas as devidas distâncias e proporções - é uma espécie de União Nacional, que impõe um travão à reforma política actual, com a mesma determinação com que o impedia a velha União Nacional do Estado Novo.
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Temos hoje no país uma Direita política inspirada no liberalismo económico que aposta numa recuperação económica através do investimento e do consumo privados, sem perceber a diferença entre a presente crise e as recessões do passado, enquanto a Esquerda paternalista defende a recuperação económica através de investimento público pouco ou nada reprodutivo e insustentável nesta nova realidade da economia global, mais uma vez à custa de endividamento público que terá que ser pago pelas próximas gerações. Não vale a pena perder tempo a debater esta questão como se fosse algum tipo de debaste ideológico! É apenas uma questão de incompetência e/ou desonestidade política em ambos os campos políticos.
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(...) Resolvi lembrar o que escreveu um político insuspeito de denegrir a classe política: O dr. Mário Soares! Trata-se de um excerto de um artigo seu publicado no semanário Expresso, a 14 de Agosto de 2004: «... os partidos de Esquerda e de Direita têm vindo, gradualmente, a perder militantismo e a substituir a discussão das ideias pela dos "interesses", das "carreiras", da imagem e do "fulanismo" a todos os níveis partidários.
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Os partidos têm vindo a deixar de congregar os seus militantes, em função das ideologias e com projectos político-sociais-económico-culturais que defendem para a transformação dos respectivos países, e o bem-estar geral dos cidadãos - para se tornarem uma espécie particular de empresas clubísticas, com os seus adeptos, os seus rituais, o seu "marketing", os seus "slogan", e os seus funcionários.
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Tornam-se, assim, demasiado parecidos, criando entre si, da direita à esquerda, um espaço pantanoso que tem a ver com os interesses egoístas que lhes são comuns ou, pelo menos, criam cumplicidades. Suscitando, do mesmo passo, um certo desinteresse pelos partidos, pela política e pelos políticos...»
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É preciso mais explicações?