Gonçalo Portocarrero de Almada - Público de 16/8/12
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Um suplemento que vinha no PÚBLICO de 27-7-2012 noticiou que, "pela primeira vez, um lince-ibérico, proveniente do programa de reprodução em cativeiro, teve crias em liberdade". (...) A boa notícia ecológica é muito de saudar, dado o fundado receio de extinção desta raça ibérica.
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A obrigação de conservar os recursos naturais faz sentido sobretudo em relação às novas gerações, porque serão elas as beneficiárias desse património que, também por essa razão, não pode ser liquidado irresponsavelmente. Se assim é, a subsistência da humanidade é a primeira e a mais urgente obrigação ecológica. Não faria sentido, aliás, conservar um bem que depois a ninguém aproveitaria.
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Contudo, parece existir um especial pudor em reconhecer a dramática situação demográfica portuguesa, só comparável - e, certamente, não por acaso! - à não menos grave crise económica e social.
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Fecham-se, todos os anos, centenas de escolas no país, mas ninguém diz que é por falta de alunos ou, mesmo que alguém o insinue, os poderes públicos não têm a coragem de promover a natalidade.
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É certo que a insustentabilidade da Segurança Social se deve, em boa parte, à inversão da pirâmide demográfica, mas as entidades oficiais estão mais empenhadas na contracepção e no aborto livre do que na consolidação da família.
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Há milhares de professores no desemprego e os sindicatos pretendem que seja o ministério a resolver a sua difícil situação laboral, mas esquecem que nenhuma portaria ministerial pode "criar" os alunos que seriam necessários para justificar esses postos de trabalho.
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Organizam-se marchas e abaixo-assinados contra o fecho das maternidades, mas do que se precisa realmente é de mais mães e de mais bebés e, para isso, são urgentes medidas que contrariem a trágica quebra da natalidade. Com um tão diminuto número de nascimentos, é óbvio que não se justificam, em termos económicos, nem tantas nem tão grandes maternidades.
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(...) Se não se inverter a actual tendência para o súbito envelhecimento populacional, Portugal corre sérios riscos de se converter, a médio prazo, num país-fantasma. (...)
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O homem, intervindo atempada e inteligentemente na natureza, pode evitar a extinção de espécies naturais, como felizmente parece estar a acontecer com o lince-ibérico. Mas os animais não poderão lograr a preservação dos homens, se o ser humano não for capaz de garantir a sua própria sobrevivência.