LIBERDADE ONDE ESTÁS?
«(...) Não é bom viver no Portugal onde reina o engano e a mentira institucionalizada.
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E não custa prever o futuro. Está tudo nas palavras.»
José Pacheco Pereira, Público de 25-2-2013
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«(...) Não é bom viver no Portugal onde reina o engano e a mentira institucionalizada.
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E não custa prever o futuro. Está tudo nas palavras.»
José Pacheco Pereira, Público de 25-2-2013
José Manuel Fernandes - Público de 1-3-2013
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E se Beppe Grillo, o fenómeno eleitoral italiano a quem a elite europeia se compraz a chamar "palhaço", fosse o único candidato com uma proposta séria e viável para a saída da crise? A pergunta pode parecer absurda, para mais vinda de alguém, como eu, que detesta os populismos, especialmente os populismos antipartido. Mas a verdade é que o humorista foi o único candidato a assumir o risco que, em Itália, como no resto da Europa, ninguém assume: o de dizer que quer abandonar o euro. (....)
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Francisco Assis escrevia ontem que, "quando a elite europeia aposta em Monti e o povo italiano se reconhece em Grillo, algo está a correr mal no sistema de representação democrática". Tem razão, mas erra o alvo: ao contrário do que também escreveu, o problema não está numa qualquer "poderosa manifestação de irracionalidade no domínio da decisão popular", antes nos mecanismos não-democráticos da União Europeia, na forma como as regras do euro se têm transformado numa prisão para os povos europeus. Numa prisão e num pesadelo. É isso que tem de ser percebido, sob pena de um projecto tecnocrático fazer estiolar o que resta de vitalidade nas nossas democracias.
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Talvez seja altura de recordar que o que dá sentido às democracias é a existência de alternativas e a disputa entre projectos rivais. Ao transformar o euro e as suas regras numa imposição sem alternativas (ou com alternativas marginais e muito onerosas politicamente), a União Europeia quis substituir a política pela tecnocracia - ora a tecnocracia não é apenas um regime diferente da democracia, é um regime incompatível com a democracia. As orientações europeias são uma espécie de mistura optimizada de Keynes e Hayek (para uns com Keynes a mais, para outros com Hayek a mais), que se pretendeu meramente técnica e politicamente desvitalizada. Com elas, através de uma Comissão que, não por acaso, é um casamento permanente e asséptico entre as duas grandes famílias políticas europeias, ou através de figuras tão estimáveis como Mário Monti, pretendeu-se governar o continente a partir de uma espécie de novo Olimpo e longe das paixões eleitorais. Pior: contra todas as eleições. Como ontem escrevia certeiramente o Wall Street Journal, "a Itália, como a Grécia ou a Irlanda, podem ter toda a democracia que quiserem, desde que os vencedores aceitem as ordens não dos eleitores, mas de Bruxelas e Berlim".
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O resultado deste absurdo só podia ser uma revolta democrática. E escrevo tudo isto sem grande alegria, pois se fosse italiano até teria votado no professor de Milão. (...)