Estado de embriaguez
Alberto Gonçalves - DN de 18-5-2014
(...) Hoje, bebo apenas água porque gosto (..).Após esta introdução demonstrativa da minha pureza, posso afirmar com legitimidade que fiquei satisfeito perante o fracasso dos regulamentos que visavam vedar aos menores de 18 anos o consumo de bebidas "espirituosas" e aos menores de 16 o consumo de qualquer bebida alcoólica, incluindo, presumo, o anis escarchado. Há um ano, saiu a lei. Na semana passada, saiu a constatação do respectivo enxovalho: ao que parece, os meninos e as meninas arranjam sempre maneira de fintar o zelo estatal e acabar a noite de rastos. Ainda bem.
Por um lado, logo que não se aliviem à porta aqui de casa, é saudável que os meninos e as meninas gastem as figuras tristes na época propícia. (...).
Por outro lado, o principal é que a derrota da lei significa um revés nos esforços do Estado para velar por nós. Às vezes, é óptimo ver o zelo de quem manda deparar com o desprezo de quem obedece. Não fosse assim, e há muito estaríamos transformados em zombies eternamente abaixo da maioridade. Ou, o que é pior, nas abencerragens com "consciência cívica" que o Dr. Sampaio tanto reivindicava. Entre o respeito pela ASAE e o desrespeito pelo fígado, a escolha não custa. Nem espanta que, segundo as Estatísticas Mundiais de Saúde 2014, os portugueses acima dos 15 anos ocupem o 11.º posto no ranking dos alcoólatras da Terra. Brindemos a isso, com eventuais reticências. E com Luso, se não se importam.