Rita Dinis - Observador de 27-8-2014
E se, numas próximas eleições, pudesse votar não só em partidos e deputados mas em cadeiras vazias do Parlamento? (...) É isso mesmo que defende o movimento Partido das Cadeiras Vazias (PCV), que propõe um voto de protesto contra a classe política para “abalar o sistema”. A ideia não é totalmente nova e está ainda em fase de teste. Se houver adesão por parte das pessoas, o PCV quer ser um partido com assento parlamentar. Ou melhor, sem assento parlamentar. Isso mesmo. (...)
O conceito é simples. O sistema democrático partidário já prevê a possibilidade de os cidadãos descontentes poderem votar em branco, ou nulo, em vez de contribuírem para os elevados níveis de abstenção. Essa tem sido a tendência de voto deste grupo, que ambiciona agora fazê-la chegar à Assembleia da República. Como? Através de cadeiras vazias.
“Se dos votos no Partido das Cadeiras Vazias, resultarem lugares vazios no Parlamento, há menos lugares para os mesmos boys de sempre e, esperemos, os partidos, em face dessa situação, escolherão melhores pessoas para deputados com o intuito de manter as suas cadeiras ocupadas. Se os votos dos descontentes forem traduzidos em menos lugares para o sistema atual, o sistema mudará”, explicam os promotores no manifesto do movimento, acrescentando que isso obrigaria os partidos a serem melhores, por perceberem que “a população precisa de representantes melhores”. O dinheiro, esse, seria distribuído por instituições de solidariedade, propõem.
Para Isabel, que é neste momento a voz da frustração e da indignação do movimento, o “medo maior” é de que a classe atual de políticos seja mesmo o “fruto do que a sociedade consegue produzir”. Isso significaria, diz, que “a árvore está podre”. Mas o movimento das Cadeiras Vazias não quer acreditar que assim seja e não tenciona desistir. “Acreditamos que há gente no mundo real que pode fazer melhor”, diz. (...)
Depois da criação da página de Facebook, o segundo passo será a recolha de assinaturas para a formação de um partido. Para isso são precisas 7.500, sendo precisamente essa a meta de ‘gostos’ na internet que levará os promotores do movimento a sair para as ruas para avançar no terreno. Depois disso, o apelo aos votos. Depois, os lugares vazios. É esse o desejo, pelo menos.
“Não sei se vamos mudar alguma coisa, mas sei que a força das palavras já não chega”, remata Isabel.
Mesmo dentro dos partidos, a ideia de cadeiras vazias que represente os votos em branco ou nulos tem vindo a ganhar cada vez mais apoiantes. O ex-presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, é um deles.