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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

Elísio Estanque - Público de 16-8-2014

(...) Sabemos bem que todas as estruturas organizativas, à medida que crescem, caem em algum grau de perversão burocrática. Como mostrou Max Weber, os burocratas furtam a toda a crítica os seus conhecimentos e actividades e, na sua propensão ao secretismo, a burocracia perde eficácia à medida que se estende, cedendo o lugar a um “círculo vicioso de ritualismo”, que alimenta o poder paralelo das oligarquias. Os grandes partidos abdicaram há muito do debate democrático interno, inicialmente a pretexto do que alguns consideraram a “morte das ideologias”, em favor de poderes e interesses ocultos. Mesmo na preparação dos seus congressos prevalece, como é público e notório, a conhecida propensão para a “contagem de espingardas”; ou seja, trata-se apenas de cada adversário olear a sua “máquina”, angariar apoios financeiros e iniciar a “contagem” de quem está com quem e ver como reforçar as hostes de cada um dos “exércitos”. (...)

Na lógica dos “apparatchiks” de serviço instalou-se o princípio da “partidite”, no qual impera a mesquinhez e o oportunismo. (...) O jogo de simulacros e o ritualismo que estes sistemas encerram condensam uma mistura de burocracia com carreirismo. É uma cultura organizacional própria de organizações que, além de oligárquicas, encerram uma dinâmica centrípeta, propensa ao autofechamento e à negação da realidade exterior que a envolve (neste caso, a sociedade e as pulsões colectivas que dela emanam). (...)

Os partidos de poder tendem a esquecer os velhos valores e a abandonar a própria ideologia de raiz (quando muito invocam-na como mera retórica). Assim, em vez do debate de ideias – tão urgente na época de indefinições e perplexidades em que vivemos –, o modo de estar do militante comum na vida partidária centra-se no detalhe e obedece a um plano de vida onde as necessidades imediatas, a garantia do emprego do familiar, a dependência do favor do respetivo tutor, etc., aconselham a ser fiel ao “alinhamento” em que se colocou. Em geral, a carreira do militante-base é precedida da do “padrinho”, a quem o “aprendiz de político” (como o burocrata) se dedica afanosamente e para quem já terá dado amplas provas, acumulando “fichas” e sindicatos de voto, isto é, alimentando as dependências e “lealdades” que o seu cacique-mor foi construindo, a custo, para chegar onde chegou.

Neste sentido, os “profissionais” do aparelhismo que proliferam nos grandes partidos (o PS e o PSD são semelhantes), os chamados “carregadores de piano”, vêm fazendo carreira e aprimorando os seus dotes estalinistas (nalguns casos iniciados noutras “escolas”), por vezes adornando o seu status com o verniz de uma qualquer licenciatura feita à pressa. O cinismo e a habilidade com os jogos de poder vão-se tornando mais sofisticados à medida que se desfazem e refazem inimizades e alianças, se traficam influências e se acede a posições de autoridade na estrutura. Podem depois surgir as cartadas maiores, nas quais o poder se estende a outra escala, em especial quando o partido ascende ao poder. Aí, entra-se numa outra dimensão, na qual o mundo dos negócios (por vezes legítimos e legais…) está mais à mão e os privilégios deixam de se medir pelo número de “fichas” (ou de votos) conseguidas. Ler Maquiavel seria uma redundância. A prática ultrapassou a teoria.

Pedro Sales Dias - Público de 15-8-2014

As cadeias estão a pagar aos reclusos, nos dias em que estes não trabalham nas oficinas, para que se evitem conflitos e motins. A medida é uma prática corrente, garantiram ao PÚBLICO várias fontes dos serviços prisionais. A falta de guardas está a impossibilitar que muitos reclusos trabalhem nas oficinas e hortas das cadeias. Não existem condições de segurança necessárias. (...) 

Os guardas marcam falta aos reclusos nos mapas diários de trabalho, mas depois eles recebem na mesma como se tivessem ido”, disse o presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), Jorge Alves. 

Também na última greve dos guardas, entre Abril e Maio, os constrangimentos impediram muitos reclusos de trabalharem. Também então foi tudo pago. “Os reclusos que não foram trabalhar na greve receberam na mesma. Os directores preferem pagar para que os reclusos se portem bem e estejam calados”, disse o presidente do Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional, Júlio Rebelo.

A Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais “desmente”, porém, que exista uma “orientação” para “serem pagos salários a reclusos quando não trabalhem”. (...)

16 Ago, 2014

A Raiva e o Orgulho

Extractos do livro " A RAIVA E O ORGULHO" de Oriana Fallaci

*escrito em Setembro de 2001, após os atentados de 11 de Setembro

«Há momentos na Vida em que calar se torna uma culpa e falar uma obrigação. Um dever cívico, um desafio moral, um imperativo categórico a que não podemos fugir.» (pág. 14)

«Para mim, escrever é uma coisa muito séria. Não é uma brincadeira, uma distracção ou um desabafo. Não o é porque nunca me esqueço que de que as coisas escritas podem fazer um grande bem e também um grande mal, curar ou matar. Estuda a História e verás que, por detrás de cada acontecimento de Bem ou Mal, há sempre um escrito. Um livro, um artigo, um manifesto, uma poesia, uma oração, uma canção.» (pág. 19-20)

«O Passado é uma escola que não se pode prescindir, porque, quando não se conhece o Passado, não se poderá entender o Presente nem tentar influenciar o Futuro com os sonhos e as fantasias.» (pag.117)

«É um país tão dividido, a Itália! Tão faccioso, tão envenenado pelas suas mesquinhices tribais! Odeiam-se mesmo no interior dos partidos políticos, na Itália. Não conseguem manter-se unidos nem quando têm o mesmo emblema. Ciumentos, biliosos, vaidosos e mesquinhos, só pensam nos seus interesses pessoais. Só se preocupam com a sua carreirinha, com a sua gloriazinha, com a sua popularidade superficial e supérflua. Pelos seus interesses pessoais tornam-se despeitados e traem-se uns aos outros...» (pág.73-74)

«Os budistas nunca usam a palavra "inimigo". Apurei que nunca fizeram prosélitos com violência, nunca efectuaram conquistas territoriais a pretexto da religião e nem sequer concebem o conceito de Guerra Santa.» (pág.125)

«A Itália produz mais cavalieri e commendatori que brutamontes e vira-casacas. Uma vez um Presidente da República queria meter-me nesse montão. Para o impedir, tive de lhe mandar dizer que, se o tentasse, mover-lhe-ia um processo por difamação.» (pág.163-164)

«Porque está definida há muitos séculos e é muito precisa, a nossa identidade cultural não pode suportar uma onda migratória composta por pessoas que, de uma forma ou de outra, querem mudar o nosso sistema de vida. Os nossos princípios, os nossos valores.» (pág.145-146)

«Estou a dizer que não há lugar para os muezins, para os minaretes, para os falsos abstémios, para o maldito chador e o ainda mais maldito burkah.» (pág. 146)