Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

Frei Bento Domingues - Público de 16-11-2014

Voltaram, há dias, a interrogar-me, em tom de exame e desafio: se existe um só Deus – segundo o credo monoteísta – porque não se unem numa mesma religião judeus, cristãos e muçulmanos? Presume-se que Deus não possa estar em concorrência consigo mesmo. (...)

O pluralismo religioso é irredutível, mas se uma religião tiver a pretensão de ser a única verdadeira, divinamente garantida e que fora dela não há salvação, ficam todas sob ameaça ideológica de perseguição religiosa. Consentir na liberdade religiosa seria dar espaço ao erro e à sua nefasta difusão. O raciocínio é simples: apenas a verdade tem direitos; a nossa religião é a única verdadeira; as outras vivem e fazem viver no erro, logo não têm direito a existir.

Na Igreja Católica também se alimentou essa posição assassina ao ignorar que só as pessoas são sujeito de direitos. A Declaração “Dignitatis Humanae” sobre a liberdade religiosa só foi assinada, depois de várias formulações, no dia 7 de Dezembro de 1965, isto é, na conclusão do Concílio Vaticano II! Hoje, é a nossa glória e uma responsabilidade: fora do diálogo inter-religioso não há salvação.

Diálogo não pode ser um faz de conta. É um processo no qual os parceiros vão mudando, passando da hostilidade e da indiferença à mútua hospitalidade. Para derrubar as muralhas construídas ao longo dos séculos e construir pontes entre as religiões é preciso destruir os muros edificados nas mentalidades e nos afectos dos crentes.

Paulo VI, na mensagem de Paz para 1971, não podia ser mais incisivo – repete, com uma voz nova que sai da nossa consciência civil, a declaração dos direitos humanos: “todos os homens nascem livres e iguais na dignidade e nos direitos, são todos dotados de razão e de consciência e devem comportar-se, uns com os outros, como irmãos”. A doutrina da civilização chegou até aqui. Não voltemos para trás

Esta declaração generosa dos Estados, depois de duas guerras estúpidas e monstruosas, ainda não era a voz de todos os povos, mas era o eco do Evangelho: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8) e com o método de aplicação daregra de oiro: “faz aos outros o que gostarias que os outros te fizessem” (Mt 7, 12).

Se a doutrina da civilização chegou até aqui, como afirma Paulo VI, voltar atrás não seria regressar à barbárie? 

José Pacheco Pereira - Público de 29-11-2014

(...) No livro que publiquei sobre os “dias do lixo” não os comecei por Passos Coelho, Relvas, Gaspar e companhia, mas pelos últimos anos de José Sócrates. Foi aí que começaram os “dias do lixo”. No dia 16 de Outubro de 2010, governava Sócrates, escrevi no PÚBLICO um conjunto de frases para os “tempos de hoje”. Peço desculpa de me citar, mas a gente também tem de ser avaliada pelo que disse, com data.

As frases eram dirigidas a Sócrates, a um Sócrates que tinha ganho as eleições e estava em plena loucura de esbanjamento, e a Passos Coelho, a um Passos que tinha então um discurso contra Manuela Ferreira Leite muito próximo do de Sócrates. (...) Aqui vão algumas das frases de 2010, escritas muito antes da troika:

“1. A crise económica, social e política não vai durar um ou dois anos, vai durar pelo menos uma década. Na melhor das hipóteses.

2. O político que disser que as coisas vão melhorar na volta da esquina está a mentir.(…)

7. Primeiro serão os salários, depois serão as reformas. (…) 

8. Nenhum imposto que subiu descerá tão cedo, se descer.

9. Nenhum salário que foi cortado voltará a ser inteiro.

10. Os mais pobres serão as vítimas principais, como sempre.

11. A classe média é que conhecerá a maior queda de qualidade de vida.

12. Algumas pessoas enriquecerão com a crise.

13. A corrupção continuará florescente. (…)

14. A crise matará milhares de pequenas empresas. (…)

16. As escolas tornar-se-ão mais caóticas. O clima de crise social é propício à indisciplina grave.(…) 

18. A Saúde ficará bastante mais cara para todos.

19. A TAP pode não sobreviver à crise, a RTP sobreviverá. (…)

24. No final da década os portugueses vão estar pobres e a caminho de ficarem ainda mais pobres. Se nessa altura a nossa situação da dívida e do défice estiver controlada, ganhamos a década. Se não, perdemos ainda mais.

 25. O estado dos portugueses será de irritação política, na melhor das hipóteses. Na pior poderá haver violência. (…) 

28. Liberais e estatistas todos cortarão no Estado. Só não cortarão nas mesmas coisas.

29. Os nossos direitos face ao Estado tornar-se-ão quase inexistentes. Face ao fisco quase nenhum direito sobreviverá.

30. A nossa privacidade desaparecerá. O Estado vai conhecer por onde andamos, o que compramos, o nosso dinheiro, as nossas prendas, tudo o que sirva para taxar. O Google conhecerá o resto.

31. O fisco será a face do Estado mais próxima dos cidadãos e a mais odiada. (…)

33. O desespero será um sentimento muito comum. Os ricos terão depressões, os pobres desespero.

34. Esta década conhecerá na prática o fim dos direitos adquiridos. (…)

38. A única política que se pode considerar patriótica não é a que se afasta da austeridade para dar “folga” aos portugueses, mas a que escolhe as melhores medidas de austeridade e evita as más medidas de austeridade.

39. A maioria das medidas de austeridade que qualquer governo vai aplicar nos próximos anos é escolhida e decidida no exterior, pela Alemanha, pela UE, pelas agências de rating, pelo FMI, e pelos credores.

40. Poucos políticos actuais sobreviverão à década, mas isso não significa renovação.

41. A maioria dos políticos das novas gerações será profissional da política. Os seus verdadeiros cursos são nos partidos e fora terão apenas cursos de plástico para colocar o dr. e o eng. antes do nome.

42. Os partidos serão substituídos pelos aparelhos partidários; fechados sobre si próprios, tornar-se-ão comunidades de poder e com poder.

43. Haverá cada vez mais familiares de políticos actuais nos lugares políticos.

44. A crise de lugares, empregos, salários, benesses tornará a competição dentro dos partidos cada vez mais dura, visto que os partidos serão uma das saídas rápidas para aceder a um lugar remunerado, para que menos qualificações se exigem. (…)

46. As eleições partidárias internas serão cada vez mais competitivas, duras e agressivas. Os lugares são poucos e a fome muita.

47. Os grandes interesses organizados terão na prática um direito de veto sobre as principais medidas políticas.

Este foi o mundo que Sócrates deixou e Passos Coelho continuou. A minha última frase era: "Comparado com o que aí vem nenhuma destas previsões é especialmente pessimista.” Não foram. A realidade foi muito pior: desembocou num ex-primeiro-ministro preso, em altos quadros do Estado presos, na queda do mais poderoso grupo bancário português, adorado pelos aspirantes a singapurianos novos-ricos entre o Martini man e o “homem da Regisconta”, que ainda nos governam, pela mistura de pseudo-aristocracia e altas esferas do dinheiro e do poder.

Em que é que isto tem a ver com a prisão de Sócrates? Tudo. Se ele deseja um julgamento político, ele que nos deixou de herança Passos Coelho, como ele foi herança de Santana Lopes, de mim terá apenas a repetição do que disse no passado. Para esse peditório político não dou. Este homem fez muito mal a Portugal. (...)

02 Dez, 2014

Vergonha nacional

P. Gonçalo Portocarrero de Almada - Observador de 29-11-2014

(...) Na literatura cristã medieval, é recorrente o apelo à formação moral do príncipe. Maquiavel subverteu a moralidade pública quando a subordinou a razões de eficácia política. Alguns dos estadistas contemporâneos parecem corresponder a este perfil, sobretudo quando, desprezando os valores morais, tudo reduzem à lógica do poder. Em nome do laicismo, desfizeram-se dos princípios cristãos, mas estes limites, embora entendidos como entraves confessionais ao exercício do poder, eram, afinal, as garantias que defendiam a sociedade da corrupção e da ambição dos aventureiros sem escrúpulos.

A arte da governação deve ser exercida em prol do bem comum e desempenhada por homens bons. Só quem, na sua vida pessoal e social, provou a sua idoneidade moral, deve obter, pelo sufrágio, a confiança do eleitorado. Como disse Francisco Sá Carneiro, «a política sem risco é uma chatice e sem ética é uma vergonha».

É excessivo o rigor puritano dos que, para destruir um possível candidato, são capazes de desenterrar uma sua insignificante veleidade pueril, há muito ultrapassada, mas paga-se cara a temeridade de eleger, para cargos públicos de grande responsabilidade, quem não deu suficientes provas de sabedoria, prudência e honestidade. Não basta calibrar a competência técnica dos políticos: há que avaliar principalmente o seu carácter moral. (...)

Fontes.JPG

Com a entrada na época natalícia a AJAF - Associação Juventude Acção no Futuro, em parceria com a Junta de Freguesia de Fontes, promoveu no passado dia 29 de Novembro de 2014, pelas 15h00 no Jardim-de-Infância, uma Oficina Criativa “Anjo de Natal” que mobilizou 10 participantes. Esta é mais uma das atividades do projeto “Juventude Ação na Solidariedade” 2014, promovido pela AJAF, com o apoio do programa FINABRANTES 2014.

Como em tantas outras oficinas, também esta permitiu a aquisição e desenvolvimento de técnicas que permitem aos/as participantes a capacidade de desenvolverem um variado leque de trabalhos artísticos, de forma autónoma e criativa. Esta oficina visou a conceção de um anjo de natal, com recurso a técnicas de corte, colagem e aplicações diversas.

Em ambiente natalício, o convívio e a interacção entre participantes foi efetivo, no qual crianças, jovens, adultos e idosos desfrutaram de uma partilha de aprendizagem intergeracional, apoiando-se uns/umas nos/as outros/as.

Manuel Carvalho - Público de 30-11-2014

(...) Mas se a condenação prévia, directa ou velada, que abundou por aí nesta semana é deprimente, a tentativa de olhar tudo o que aconteceu como a revelação de um sistema judicial injusto ou até totalitário não o é menos. O desvio do centro do problema para a detenção de José Sócrates, a prisão preventiva ou as violações do segredo de justiça pode resultar de uma compreensível exigência sobre o funcionamento imaculado da máquina judicial, mas acaba por não atender a um facto inultrapassável: o procurador e o juiz de instrução fizeram o que entenderam dever ser feito e não há nas suas diligências nada que legitime a suspeita de prática de abusos.

José Sócrates foi discretamente detido à saída de um avião, ninguém o filmou nesse momento, não foi visto com algemas, teve oportunidade de responder a um interrogatório, foi assistido por um advogado, pôde ditar-lhe uma carta a proclamar a sua inocência. Teria sido melhor que fosse intimado a prestar declarações, que o fizesse sem ser sujeito a detenção prévia ou que pudesse aguardar o desenvolvimento do inquérito em liberdade? Não sabemos. Quem tem toda a informação para decidir optou por diligências e medidas de coacção severas e sobre isso não há nada a dizer para já. (...)

01 Dez, 2014

Este poder corrompe

Rui Ramos - Observador de 28-11-2014

As regras em Portugal parecem ser estas. Quando um político é perseguido por rumores ou fugas de informação acerca de uma hipotética irregularidade, por mais leve que seja, e esse político não é um dos nossos, temos todo o direito de presumir que é culpado, esperar que confesse, exigir a sua demissão, e achar um escândalo ainda o não termos visto devidamente algemado perante uma câmara de televisão. Porque é matéria política, para ser devassada com todo o alvoroço.

Pelo contrário, quando um político é detido pela polícia e formalmente constituído arguido por indícios de prática de crimes graves, mas esse político é um dos nossos, então temos a obrigação de presumir a sua inocência até à transição do processo pela última instância de recurso possível, e devemos indignar-nos com qualquer fuga de informação ou mesmo com qualquer reportagem ou editorial que a imprensa se atreva a dedicar ao caso. Porque é matéria jurídica, para ser estudada com todo o recato.

Estas controvérsias, porém, servem apenas para consumo público. A culpa ou a inocência dos visados, a regularidade dos procedimentos judiciais ou a justeza do trabalho da imprensa só comovem os oligarcas durante a gravação no estúdio. Longe dos microfones, o que verdadeiramente lhes importa é o modo como tudo isso vai afectar a distribuição do poder por via eleitoral. No regime vigente, os escândalos deixaram de fazer parte do domínio da reprovação moral ou do apuramento jurídico da verdade. São, simplesmente, ingredientes do campeonato de futebol político.

A maneira como os “casos” são discutidos explica, em parte, que estes “casos” aconteçam. Qualquer prevaricador sabe que poderá contar com o sectarismo dos seus correligionários para o defenderem, mesmo contra toda a evidência. O clubismo é, assim, uma garantia de impunidade parcial. Pode não poupar o delinquente à justiça, mas confunde a opinião e limita o ostracismo social.

Isso é assim porque a oligarquia, embora ralhe muito em público contra a corrupção, ainda não está totalmente convencida da possibilidade de a dispensar. Se a corrupção fosse apenas uma questão de ganância individual, talvez. Mas a corrupção faz parte do sistema de poder, tal como se desenvolveu neste regime. (...)

O equilíbrio orçamental é muito bonito, mas é preciso não hesitar em multiplicar os contratos, parcerias, subsídios, e empregos que suscitam simpatias, fidelidades e contrapartidas; a transparência é excelente, mas é proibido ter escrúpulos quando se trata de explorar a promiscuidade, as facilidades e as trocas de favores para alargar redes de influência e torná-las mais espessas; a separação de poderes é comovedora, mas é impensável vacilar perante a possibilidade de conjugar ministérios, bancos e tribunais na protecção dos amigos e na perseguição dos inimigos. E sendo assim, é natural que a oligarquia, na avaliação de um político, tenda a apreciar a aptidão para este género de exercícios muito acima de todas as outras características, como a integridade pessoal. Sim, este poder corrompe mesmo. (...)

O fogo do céu ainda não consumiu toda a oligarquia, o que quer dizer que há certamente alguns inocentes na aldeia. E haverá também, entre os pecadores, uns mais culpados do que os outros. Mas o próprio sistema de poder criou as condições da corrupção, ao mesmo tempo que diminuiu geralmente a capacidade de ver e julgar para além das adesões e repulsas tribais. Bastará a justiça, só por si, para corrigir esta tendência? Não me parece. Se o sistema não mudar, bem podem as instituições funcionar “normalmente”, como agora se diz com tanta complacência.

01 Dez, 2014

A feira

Vasco Pulido Valente - Público de 29-11-2014

(...) Nas tabernas, nos cafés, nas lojas, em cada casa e em cada emprego não se discutirá outra coisa senão a culpa ou a inocência de Sócrates. Ninguém lerá uma linha ou pensará um segundo nos programas dos partidos (para uma década ou para um século) ou pensará um segundo no que eles disserem sobre a salvação da Pátria. A Pátria empobrecida e sem muita esperança de enriquecer tão cedo substituiu a ideia de “enriquecer” pelo rancor aos políticos que a levaram a esta situação, venham eles de onde vierem e tragam o que trouxerem. O que o eleitorado quer é meia dúzia de bodes expiatórios – capítulo em que Sócrates, para mal dele, tirou o principal lugar a Pedro Passos Coelho. Quando se passa miséria e fome, ninguém se lembra de discutir o défice ou a maravilhosa “diminuição” do desemprego, em 2,1%.

Não existe maneira de insultar o défice ou de exaltar uma teórica descida do desemprego. Mas sem dúvida que existe maneira de aliviar a raiva insultando ou louvando uma pessoa. E a raiva irá por uns tempos mandar em Portugal. (...)

Acredito que Passos Coelho e António Costa se esforcem os dois para discutir problemas sérios. Resta saber quem se ralará com essa retórica petrificada e, no fundo, inútil.