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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

Paulo Trigo Pereira - Publico de 2-2-2015

O novo governo grego quer uma revolução à escala europeia, mas o mais provável é que assistamos a uma tragédia, sobretudo para os gregos, mas também para a Europa cuja inépcia e incapacidade de desenhar boas políticas e de se reformar institucionalmente em tempo útil, levará muito provavelmente à saída da Grécia do euro. (...)

Há uma grande ilação a tirar dos desenvolvimentos de polarização política, à esquerda e à direita, na Europa.  É necessário relançar o crescimento e aliviar os orçamentos nacionais, sobretudo de países periféricos, e isso faz-se com dois tipos de estratégias, uma direcionada à redução dos juros de credores oficiais (quantitative easing, extensão das maturidades, períodos de carência, etc.), outra com a mutualização de certas prestações sociais, que aliviem os encargos nacionais com subsídios de desemprego, e outros, para os países mais afetados. A Europa tem de mudar e o governo português está estranhamente ausente de um debate que muito nos diz respeito. Os cidadãos portugueses pagam proporcionalmente mais em impostos e em juros que os cidadãos gregos para uma dívida menor e o governo português não tem posição? Se for negociado algo unilateralmente com a Grécia, Portugal vai continuar, qual bom aluno, a olhar, sem reivindicar tratamento semelhante, ou vai exigir uma solução multilateral europeia? Preocupa-me a apatia do governo português e também o futuro dos gregos. Tenho a desagradável sensação que o Syriza não terá a almejada revolução nas instituições europeias, mas levará a Grécia a sair do euro, contra a vontade dos gregos. Espero sinceramente estar enganado.

Artur Lalanda

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9 de Fevereiro de 2005:

- O novo cemitério de Abrantes entra hoje em funcionamento, introduzindo algumas inovações em matéria de imunação e do próprio aspecto das sepulturas, que serão cobertas com relva;

- A entrada em funcionamento do  novo respaço, permite o encerramento do cemitério construido no início do século XX (Cabacinhos) que, embora ampliado por diversas vezes, atingiu o limite da capacidade. Tecnicamente esgotado, desde há algumas décadas, a autarquia iniciou há 20 anos a procura de uma solução que garantisse  o espaço suficiente para o futuro;

- Está pronto o primeiro talhão, composto por 159 sepulturas e vai abrir faseadamente. Terá mais oito talhões numa primeira plataforma, estando previstas mais duas plataformas, para um total de 4 848 sepulturas e dois ossário com capacidade para 144 células inviduais;

- O novo cemitério, orçado em 838 mil euros, dispõe de 26 425 m2 destinados a espaço cemiterial e,  ainda, no exterior, de estacionamento para 149 viaturas e cinco autocarros;

- Está em fase de acabamento o projecto para a construção de uma capela.

a) Nelson Carvalho (presidente da Câmara)

8 de Novembro de 2007:

- O novo cemitério de Santa Catarina, constriuido há quase 3 anos, foi hoje estreado;

- Construido em 2005, este cemitério, com sepulturas à americana, mais parece um enorme jardim relvado onde não pode haver jazigos, flores ou outros ornamentos;

- Por tradição, as pessoas iam para os cemitérios mais antigos da cidade que já estavam no limite da capacidade, há muito tempo;

- Com base em novas formas de imunação, os covais são feitos em betão com uma drenagem que permite a exumação ao fim de um periodo de três a cinco anos;

- Para Santa Catarina está ainda projectada uma capela;

- Durante o primeiro funeral, muitas pessoas se mostraram interessadas no formato e pediram mais informações.

a) Pina da Costa (vice-presidente da Câmara)

 9 de Maio de 2010:

- A Câmara Municipal de Abrantes suspendeu os funerais no Cemitério de Santa Catarina, por não haver espaço para novas sepulturas:

- Das 150 covas, apenas 10 estão disponíveis, sendo que com uma lotação esgotada todos os funerais passarão a realizar-se no cemitério de São João (Cabacinhos). Foi uma situação com que fomos confrontados após a tomada de posse, que teria sido evitada se na altura da construção do primeiro talhão fossem logo construidos os dois talhões, como estava previsto;

- A construção do novo talhão vai avançar, porque os funerais oriundos de São Vicente terão que ser realizados em outra freguesia, a de São João, sendo que esta situação não faz muito sentido;

- Um talhão do Cemitério de São João (Cabacinhos) está preparado para que se esvaziem 80 velhos covais.

a) Rui Serrano (vice-presidente da Câmara)

21 de Janeiro de 2015:

- A Câmara Municipal de Abrantes vai construir, por administração directa, um terceiro talhão no Cemitério de Santa Catarina, providenciando espaço para 116 novas sepulturas. Este novo talhão será costruido com recurso ao sistema tradicional de imunação directa ao solo. Concluimos que, dada a natureza argilosa dos solos, há necessidade de os corpos ficarem mais tempo em decomposição aeróbia, a solução adoptada aquando da construção dos talhões 1 e 2.

A intervenção inclue a substituição do solo existente por um de natureza permeável, conforme normas de construção de cemitérios.

A obra tem inicio previsto para o final deste mês de Janeiro.

A autarca “recusou” que tenha havido um recuo por parte da autarquia, no que concerne ao modelo adoptado para este cemítério, construido em 2004, porque se vão manter as demais características e modo de funcionamento.

a) Maria do Céu Albuquerque (presidente da Câmara)

Fevereiro de 2015

Há papagaios com plumagem vistosa e pescoço emproado, cujo palrar é muitas vezes, traído pelo excessivo comprimento da língua. Coitados, os pássaros não são culpados.

Os mortos de Abrantes vão continuar a ser “exportados,” por tempo indeterminado, apesar de, há 30 anos, a autarquia procurar uma solução que garantisse  o espaço suficiente para o futuro.

a) Artur Lalanda (candidato a uma das 4 848 sepulturas, quando houver capela)

A frase é de John Maynard Keynes ("O capitalismo, bem gerido, pode provavelmente ser tornado mais eficiente para atingir finalidades económicas do que qualquer outro sistema conhecido.") e a foto da Lagoa das Sete Cidades (ilha de S. Miguel) é da autoria de Margarida Bernardo.

As fotos da coluna lateral são da autoria de: Mário Nélson (ilha do Pico), Jorge Órfão (Angra do Heroísmo - ilha da Terceira) e Libânia Silva (Horta - ilha do Faial).  

Ilha de S. Miguel de Margarida Bernardo.jpg

Vasco Pulido Valente - Público de 1-2-2015

O dr.  Ricardo Salgado resolveu envolver o Presidente da República, o primeiro- ministro e o vice primeiro-ministro na suspeita e obscura falência do banco e do grupo Espírito Santo; e numa carta à comissão parlamentar de inquérito anunciou que tinha falado com os três muito antes do desastre se consumar. A manobra é inteligente. Sozinho e ainda à solta (por uma caução de milhões de euros) Ricardo Salgado precisa de “politizar” as coisas para turvar o caso ou, pelo menos, para reduzir a sua responsabilidade nesta infecta história. A simples revelação de que se encontrou com os mais poderosos representantes do Estado (sem revelar o que disse e o que lhe disseram), insinua uma cumplicidade que provavelmente nunca existiu, mas que, mesmo em hipótese, lhe fornece um saco de justificações.

Para sorte dele, o dr. Cavaco reagiu com uma declaração embrulhada e comprometedora. Nada o impedia de reconhecer que vira Salgado e de lembrar cordatamente o seu dever de reserva. Com alguma parcimónia e gravidade, encerrava o assunto. Mas Cavaco, que sempre foi vingativo e provinciano, não ficou pela solução mais lógica e acrescentou muito excitado que nunca comentara a situação do BES, tinha citado simplesmente a opinião do Banco de Portugal sobre o BES – o resto era “mentira”. Ora, como o país logo concluiu, o Presidente da República não citaria a opinião do Banco, se não concordasse com ela. E, como o Banco se enganara, isto levou à ruína uns milhares de accionistas e depositantes do BES, que acreditavam na autoridade e no bom senso do dr. Cavaco.

A memória dos portugueses não é famosa e ninguém se lembrou do célebre episódio do “gato por lebre”, que inaugurou a carreira do homem. Só a esquerda, que o odeia com uma intensidade assustadora, ferrou o dente naquela miserável trapalhada e não a deixará tão cedo. E com razão. O dr. Cavaco exibe a cada passo, até nos mais pequenos pormenores, a sua incapacidade para o cargo em que infelizmente o puseram. Este incidente não é uma gaffe inócua e desculpável, é uma intervenção profunda na vida material  do país, agravada por uma fuga desordenada à franqueza e à verdade política. O sr. Presidente da República devia daqui em diante observar um silêncio penitente e total, com o fim meritório de não assanhar a crise que ele consentiu e em parte criou. Não merece a nossa confiança.

Vasco Pulido Valente - Público de 31-1-2015

(...) Uma escola de pensamento louva o Syriza por ter dado um “abanão” na “Europa”. Seria bom neste capítulo não esquecer que a “Europa” não se abana tão facilmente e que o Syriza é em si próprio insignificante.

Reconheço que um pequeno incidente pode provocar uma enorme catástrofe; basta pensar no arquiduque assassinado em Sarajevo. Mas, tirando uma parte da esquerda, por frustração e principalmente por cautela, não se vê na “Europa”  uma súbita ternura pelo sr. Tsipras e nenhuma inclinação para o ajudar.

A política deflacionista da Alemanha e de meia dúzia de países do norte já estava em crise antes do Syriza aparecer em cena e continuará com ou sem ele. Claro que nada impede a Grécia de se tornar num incómodo para a burocracia de Bruxelas: num incómodo, não numa força decisiva. É bom não perder o sentido das proporções.

José Pacheco Pereira - Público de 31-1-2015

Passou uma semana desde que o Syriza ganhou as eleições na Grécia, quase com maioria absoluta, com um programa anti-troika e anti-austeritário, logo a seguir aliou-se com outro partido nacionalista e anti-troika, e no dia seguinte o seu líder visitou um memorial dos fuzilados na guerra contra a ocupação alemã, negociou com o Arcebispo Ieronymos de Atenas uma dupla cerimónia de juramento do governo grego, uma laica para os ministros ateus ou agnósticos e outra religiosa para os ministros cristãos, e ainda não pôs gravata. E começou a tempestade europeia, abrindo caminho a políticas distintas das dos últimos anos impostas pela Alemanha. Espero que tudo termine em bem para os gregos e que isso ajude a mudar a Europa que bem precisa. Para que haja contágio.

Se eu quiser descrever o que se passou de outra forma posso fazê-lo. Passou uma semana desde que um partido radical da extrema-esquerda ganhou as eleições na Grécia, mas não conseguiu a maioria absoluta, com um programa que quer a Grécia a mandriar e os gregos na boa vida, e os outros países da Europa a pagar a factura, logo a seguir aliou-se com um partido de extrema-direita, à direita do CDS, foi homenagear os guerrilheiros comunistas, e rompeu as obrigações que tinha com a Constituição grega, que definem a Grécia como tendo uma religião de estado, e com um primeiro-ministro que é mal-educado e não sabe vestir a roupa própria para cerimónias protocolares. E começou a tempestade grega, com os gregos a irem provar o fel de terem escolhido uns energúmenos demagogos para se governarem. Desejo que tudo se faça para que a “minha” política alemã “inevitável”, “sem alternativa”, não venha a ser posta em causa e que os gregos paguem duramente o preço da sua aventura, para que tudo continue na mesma. Para que haja vacina.

Basta comparar estas duas versões, para se perceber o grau de radicalização que hoje implica mudar, na Europa, como se as relações de poder tivessem ficado congeladas num momento da história recente e ninguém quisesse partir essa redoma de gelo. E foi mesmo isso que aconteceu. (...)

Ninguém pode garantir que o Syriza tenha sucesso, e também não é fácil definir qual o grau de cumprimento das suas intenções que possa ser considerado pelos gregos um sucesso, mas os gregos que votaram no  Syriza prestaram um enorme serviço à Europa, desbloquearam-na, abriram novas possibilidades, umas boas e outras más. Os gregos fizeram história, no sentido de que quem conhece a história sabe que ela é sempre surpresa. É por isso que, como na célebre frase de 1848, um espectro assola a Europa: o do Syriza.

Manuel Carvalho - Público de 5-1-2014

(...) A exposição do Estado a casos de corrupção ou a sua permeabilidade a influências de uma certa elite e a sua incapacidade para fazer o “ajustamento” com a eficácia e rapidez do resto da sociedade mostrou-nos de forma clara onde está o nó górdio no futuro próximo. Uma reforma do Estado, que não é a mesma coisa do que cortes dramáticos nas suas funções ou na sua relação com a sociedade, é fulcral para que se sintonize a dinâmica do país com a dinâmica da esfera pública.

A sociedade é hoje muito mais qualificada e exigente do que alguma vez foi no passado, enquanto o Estado central mantém a sua organização secular – uma cabeça gigantesca que comanda frágeis antenas pelo território. As vanguardas dessa sociedade estão a anos-luz das competências e da determinação que o Estado é capaz de mostrar. Se não fosse a factura do passado a pesar com os seus juros poderíamos dizer que conseguimos passar a viver dentro das nossas possibilidades, sem défices externos e com uma capacidade exportadora que já pesa mais de 40% do PIB. Mas, enquanto a sociedade fez pela vida, o Estado limitou-se a cobrar mais impostos e a acumular promessas falsas em torno de reformas que nunca aconteceram – e, felizmente, depois de 2014 a limpar algumas teias conspícuas. 

A captura do interesse público por empresas protegidas da concorrência externa, o domínio de grandes escritórios de advogados que redigem leis para o Governo e as contestam no tribunal ou na imprensa onde têm mandatos directos, são fantasmas de um país que começou a ser abalado em 2014 e que deve continuar a sê-lo nos próximos anos. (...) 

É preciso prestar toda a atenção aos milhares de portugueses que pagam uma factura insuportável pelo ajustamento e é fundamental que se deixe o país real funcionar. Libertando-o de um Estado capturado pelos interesses de uma corte instalada na capital, tornando-o mais próximo, ágil e escrutinável, mais descentralizado e liberto da experiência burocrática do salazarismo e os devaneios revolucionários do pós-25 de Abril. Um Estado moderno, ajustado aos nossos tempos e a uma sociedade que nada tem a ver com a do passado recente. Se este passo não se der, jamais nos libertaremos de casos como o do BES ou de bancarrotas como as que apareceram por três vezes ao virar da esquina nos últimos 40 anos. Não teremos aprendido a grande lição de 2014.

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