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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

O Mirante de 21-5-2015

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Ex-vereador da Câmara de Abrantes está desencantado e não pondera voltar às lides autárquicas, critica o modelo político do país e a fraca rentabilização de obras feitas pelas autarquias, nomeadamente em Abrantes.

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Santana-Maia Leonardo disse um definitivo adeus à política, mas não à intervenção cívica. O advogado, ex-vereador do PSD na Câmara Municipal de Abrantes, garantiu que não volta a enveredar pela política, no mesmo dia em que apresentou em Lisboa o seu mais recente livro, intitulado “A Terra de Ninguém”.

O desalento com a política e os interesses instalados são a principal razão que o levou a afastar-se da coisa pública e apostar cada vez mais no seu Alentejo natal. “Irei fazer actividade política sempre nestas intervenções de cidadania, porque percebi que, em Portugal, todos os partidos estão organizados para defender a cidade estado. Fiz essa experiência em Abrantes. Na altura fui convidado para ser candidato e pensei, erradamente, que havia um grupo de pessoas que acreditava que se podia mudar isto. Mas depois percebi que pensavam que eu era como elas, que dizia umas coisas e depois fazia outras”, referiu.

As pessoas que me conhecem sabem que só digo as coisas uma vez. Não voltarei a ser candidato a uma câmara. A deputado também não porque para o ser tinha de ser na minha terra e nunca viria para Lisboa. Já fui convidado e recusei. Hoje, com 56 anos, sei que a luta pelo interior foi uma guerra perdida, porque olho para o mapa e vejo um interior liquidado. E todas as reformas que estão a chegar o vão acentuar”.

Aliás, estas medidas de “desertificação” motivaram mesmo a desfiliação do partido de sempre, o PSD, a partir do momento em que Pedro Passos Coelho lhe tomou as rédeas e as do Governo, mas o desencanto e decisão já vinham de trás, quando na sua experiência autárquica em Abrantes percebeu que “não havia como mudar as coisas”.

PSD não faz oposição em Abrantes

Ainda assim, não se esconde na hora de avaliar o PSD em Abrantes. “Se ler o que saiu n`O MIRANTE nos quatro anos em que lá estive, via sempre intervenções dos vereadores do PSD. Agora ainda não vi nenhuma. Isso diz tudo, não me parece que faça oposição”, frisou.

A liderança da actual presidente da autarquia, Maria do Céu Albuquerque, também não escapa ao crivo apertado do advogado. “Maria do Céu é o oposto do que eu sou. Acredito, tenho ideias e bato-me por elas. Ela é uma política por excelência, como o português gosta. Provavelmente não leu, estudou ou tem tanta experiência de vida como eu, mas sabe dizer aquilo que as pessoas gostam de ouvir e, por isso, é uma pessoa que chega sempre longe na política”, afirma.

O decréscimo demográfico no interior do país resulta, no seu entender, da política de desertificação de Lisboa, que acusa de ser “centralizadora, local onde os autarcas vão buscar umas migalhas”. E é crítico de algumas obras feitas, nomeadamente em Abrantes. “Os investimentos feitos no interior foram quase todos mal feitos. Se formos a todas as terras, estão um brinco. Não têm é pessoas. Fizeram-se investimentos que não são reprodutivos. O Estádio Municipal de Abrantes é bonito, mas não é rentável. O campo de basebol a mesma coisa. O açude insuflável podia ser um bom investimento se fosse rentabilizado, mas o que vemos é que Abrantes não tira partido daquilo. Algo não correu bem”, atira.

Por isto, o ex-autarca defende uma reorganização política da administração do território. “Tenho-me batido sempre contra micro municípios, porque entram em competição entre si. É preferível as autarquias terem uma dimensão maior e ter recursos para distribuir por toda a área, criando maior equilíbrio. Os vereadores têm de ser de todas as cidades para ter equilíbrios. Hoje, nas autarquias, a sede de concelho é desproporcional, como Lisboa para o resto do país. Em Abrantes, só existe Abrantes, o resto já não existe. Temos de fazer o processo inverso, criar autarquias maiores para criar consensos”, defende.

“A Terra de Ninguém” espelha o pensamento crítico do autor

O advogado Santana-Maia Leonardo apresentou, em Lisboa, o seu mais recente livro intitulado “Terra de Ninguém”. Trata-se de um conjunto de crónicas que publicou em vários órgãos de comunicação social e que retratam, de forma acutilante e frontal, o pensamento do autor relativamente ao estado do país.

Santana-Maia explicou a O MIRANTE por que já não considera a capital o seu país. “Não é. Porque já existem dois países. O meu é o do outro lado da A1, a tal terra de ninguém, o interior. O que existe desde o Algarve a Trás-os-Montes, desertificado e o próprio governo mostra isso, é um território condenado. Não tem crescimento harmonioso. Não basta pequenos incentivos e colocar lá empresas porque as pessoas não vão para lá”, sintetiza.

O autor, na cerimónia de apresentação, na Ordem dos Advogados, em Lisboa, onde teve a presença de mais de 100 pessoas, criticou o povo português, identificando-o como “camaleões”, com o que tem de positivo e negativo, aproveitando para atacar a classe política.

Um dos problemas do povo português, o que é bom quando somos emigrantes, é adaptarmo-nos. Cá é mau porque colamo-nos sempre ao poder. Mas o poder também é camaleão e por isso somos mais alemães que os alemães, porque os governantes colam-se ao poder financeiro e económico. Temos de olhar para Portugal como se fosse uma cidade. Somos 8 milhões, é uma cidade pequena. Os serviços têm de ir para o interior e a capital económica tem de ficar em Lisboa. Termos o poder político em Lisboa acaba por ser prejudicial e um foco da corrupção porque almoçam e jantam todos no mesmo sítio”, acusa.

Pedro Afonso - Público de 5-5-2015

O actual Governo alterou o horário de trabalho na função pública das 35 para as 40 horas semanais. Já com a troika ausente do nosso país, resiste em repor o horário anterior, alegando que este alargamento aumenta a produtividade, reduz custos (por exemplo, no pagamento das horas extraordinárias) e acaba por ser uma medida justa, já que equipara o horário de trabalho do sector público ao do sector privado.

Esta medida constitui um erro político pelas razões que passarei a expor. Em primeiro lugar, subsiste, em muitos políticos e empresários, a crença errada de que presença prolongada no local de trabalho é sinónimo de maior produtividade e compromisso laboral. Esta ideia é falsa. A produtividade cai inevitavelmente com o cansaço, pois a nossa capacidade de concentração é limitada e o nosso organismo não é propriamente uma máquina que se programa de acordo com as conveniências. Além disso, quando se insiste em prolongar demasiado as horas de trabalho, os erros aumentam e o preço a pagar na nossa saúde é elevado. 

Actualmente, na nossa sociedade, vivemos um curioso paradoxo: apesar de terem sido criados inúmeros meios tecnológicos para nos facilitarem a vida, tudo parece mais difícil e o ritmo do dia-a-dia não pára de aumentar. (...)

Umas das consequências de ter um horário excessivamente alargado é o aumento de risco para o burnout. Esta síndrome poderá ser definida como uma reação emocional crónica caracterizada pela desmotivação, desinteresse, e um mal-estar geral na relação com o trabalho. Nestes caso, o desejo de abandonar o emprego transforma-se num pensamento constante, a produtividade diminui e o absentismo aumenta. Com o tempo podem surgir perturbações depressivas e de ansiedade, abuso de álcool, etc. (...)

O nosso país precisa urgentemente de tomar medidas que aumentem a natalidade. Mas isso não se faz apenas com benefícios fiscais, nem com mais um subsídio ou abono de família. Já há muito tempo que se sabe que a qualidade de vida, a produtividade e o desejo de ter filhos está associado à possibilidade de conciliar o trabalho e a família. Manter, obstinadamente, o horário de trabalho nas 40 horas semanais, seja no sector público ou no privado, e impedir uma adequada flexibilidade da jornada laboral, é uma medida antinatalidade. (...)

O trabalho excessivo pode-se tornar numa “sanguessuga”, pois vai-nos roubando o tempo, a nossa energia, a nossa saúde, os nossos amigos e a nossa família, deixando-nos isolados e mais infelizes. Há que pôr fim à idolatria das 40 horas de trabalho semanais. Considero que um país desenvolvido e produtivo tem que ter a ambição de pensar nas pessoas, oferecendo-lhes tempo para viver. Todos teríamos a ganhar se o horário de trabalho fosse reduzido e flexibilizado. (...)