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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

19 Nov, 2015

O peso do chumbo

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As reprovações, pela própria natureza da escolaridade obrigatória, são incompatíveis com um ensino de qualidade e um alto rendimento escolar. Esta é uma constatação de facto que não me tenho cansado de repetir ao longo dos últimos vinte anos. 

Por estranho que pareça, são precisamente as reprovações, na escolaridade obrigatória, que obrigam a que se aldrabem os resultados, se nivele por baixo e se inflacionem as notas. Com efeito, se os professores, com o nosso sistema de reprovações, fossem exigentes e atribuíssem as classificações de acordo com o nível de conhecimentos dos alunos, o insucesso e o abandono escolar atingiriam números impensáveis e inadmissíveis num país da União Europeia.

E o que é que se faz para fingir que temos um ensino exigente e de qualidade? Aldrabam-se os resultados e inflacionam-se as notas, com vista a transmitir a falsa ideia de que os alunos atingiram os objectivos. E como há sempre 20% de alunos que reprovam, isso ajuda a dar credibilidade à aldrabice.

Quanto aos 20% dos alunos que reprovam, por muito que custe ouvir, a verdade é que 99% destes alunos acabam por passar, por antiguidade, no ano seguinte ou dois anos depois, a saberem, em regra, menos do que sabiam no primeiro ano em que reprovaram e com a mesma nota dos que passaram por mérito quando eles reprovaram. Ou seja, sem nada fazerem, acabam por terminar a escolaridade obrigatória com o mesmo nível daqueles que sabiam muito mais do que eles. Ora, isto não só é absolutamente injusto e desmotivador para alunos e professores como faz com que as classificações atribuídas pelos professores não tenham qualquer relevância informativa.

Pelo contrário, se os alunos não reprovassem, as classificações atribuídas pelos professores poderiam reflectir o verdadeiro nível atingido pelo aluno a cada disciplina, permitindo dessa forma a qualquer pessoa (aluno, pai, professor, analista, empregador, ministro, etc.) interpretar os resultados, tomar medidas e extrair daí as consequências.

Neste caso, se um aluno quisesse terminar a escolaridade obrigatória com dez valores, não lhe bastava ficar sentado no seu lugar à espera que o tempo passasse, teria de trabalhar e de se esforçar para isso, caso contrário terminava com a classificação de 3 ou 4 valores.

Por outro lado, isso valorizava e credibilizava, inevitavelmente, os certificados de habilitações, evitava que os repetentes se amontoassem nas turmas à espera da sua hora de passar sem fazer nada e permitiria à ministra e à escola encaminhar e apoiar os alunos com classificações inferiores a dez valores, com vista à sua recuperação. 

É óbvio que o fim das reprovações na escolaridade obrigatória contará sempre com a oposição da esquerda socialista, porque são as reprovações que garantem o cumprimento de dois dos principais ideais da esquerda: o pleno emprego e a igualdade. O pleno emprego, na medida em que contribuem para dar emprego a mais 20% dos professores; a igualdade, porque obrigam a inflacionar as notas dos alunos que nada sabem (um aluno não pode ficar quinze anos na 1ª classe), fazendo com que a maioria dos alunos termine a escolaridade obrigatória com a mesma classificação, ou seja, nível 3 (três). 

 Maio de 2008

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Coimbra, 14 de Janeiro de 1980

 

Estiolo no redil dos dôtores

onde as intlegências dã flor e frutes

e onde há penedos e quintas p' alumiar amores

e promovê poetas.

Mas ê cá sô alentejano

e daí que na m’ aveze a estas cavlarias

de subir e descê ladêras,

onde há precisã de esperá p’la noiti

ô de dar um tiro na cornadura

pa s' ouvi falar a quietudi.

 

Como pode um home,

Avezado a verter águas na trasêra dos sobrêros,

Afazê-se às lides da cidade apadralhada

Das capas e batinas?

 

Nasci da charneca

(foi uma alentejana que me pariu)

e cresci como um chaparro.

Sem relógios.

Saltê p'à garupa do Tempo

e acostumê-me a sabê esperari.

 

Mas aqui d’ assim, estes pacóvios

(espertos que nim sobro atascado em água)

na dã credo a isso.

Di e noite atrelados ós pontêros

que nim parelha à charrua!

Homes d’ uma figa,

conhecim melhor as horas c' o cã o dono!

 

Ma n' é só isso que m' infada

Da capital do Bazófias. Antes fora!...

C’o qu' ê n’ atino,

Nim que m´ afocinhim numa cama de tojes,

é c’os desrespêtos à Natureza,

minha senhora e minha mãe.

E atã na é que n’ há aqui filhe da puta

que na bote a boca acima da vista?

Eh! Homes dum corno,

Sã piores c' uma vaca a ruminá palha!

Inda s’ aquilo desse vazão alguma inquietação…

Ma não, só dá vazão às letras e a miolêra da genti.

 

E atã vá-se lá um home ingraçá duma cachopa!...

Já nim sê mêmo pa que Deus fez as fêmeas…

A fêtura dum só sempe dava menos trabalhos

e n’ alevantava desejos.

Se por casa da cobrição,

Os animais tamém tivessim precisã de benzeduras,

já há munto c'os bácros tinhim dêxado de comê landi.

 

Mas estes fadistas letrados

Ô po munto lerim

ô po falta de descorrimento,

na têim a mêma ideia.

 

Mas ê cá continuo c’a minha crença

De que há-de chegar o dia em c' os homes aprendrão

Que na é o home que muda a Natureza,

mas a Natureza que se muda a ela mêmo,

pôs o home tamém é Natureza.

 

A-i-ô!

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Era bom que os nossos governantes, deputados e comentadores compreendessem uma coisa óbvia: a academia de futebol do Sporting só consegue excelentes resultados porque pode seleccionar os melhores praticantes a nível nacional. Porque, se fosse obrigada a receber todos os praticantes do concelho de Alcochete e a aguentá-los lá até aos juniores, os resultados não seriam os mesmos. Com efeito, por muito boas que sejam as instalações, por muito bons que sejam os treinadores, por muitos treinos que tenham, não se consegue fazer um Figo ou um Cristiano Ronaldo de um “perna-de-pau”. Sem matéria-prima não há resultados. O mesmo se passa nas nossas escolas.

As pessoas, em geral, e as nossas elites, em particular, confundem escolaridade obrigatória com a obrigação de ir à escola. São duas coisas completamente diferentes. A escolaridade obrigatória, ao contrário da obrigação de ir à escola, impõe que a escola se adapte ao tipo de alunos que recebe de forma a ser capaz de dar resposta às suas necessidades e capacidades. Na escolaridade obrigatória, não pode haver objectivos antecipadamente fixados. Os objectivos têm de ser fixados tendo em conta cada aluno em concreto, consoante as suas capacidades, aptidões, nível de conhecimentos e ritmo de aprendizagem.

Ser exigente, neste caso, não pode passar por impor uma fasquia igual para todos os alunos, por uma razão muito simples de perceber: não se pode exigir a um aluno aquilo que ele não pode dar. Se um aluno não consegue levantar os pés do chão, não se lhe pode colocar a fasquia a dois metros de altura, mesmo que seja essa a altura que os seus colegas conseguem saltar. Mas é precisamente isso que se faz nas nossas escolas. E depois admiram-se de que haja abandono escolar.

Além disso, a colocação de fasquias de conhecimento por anos de escolaridade, com base no aluno médio, tem um efeito perverso, uma vez que elimina precocemente indivíduos cujas capacidades ainda não desabrocharam completamente. É totalmente falsa a ideia de que as qualidades e as capacidades dos alunos podem ser comparadas nas mesmas idades. Ou seja, o facto de um aluno aos dez anos ser um aluno brilhante e outro da mesma idade ser um idiota não significa que, aos dezoito anos, as posições não se possam inverter completamente. Não é impossível que um aluno que só salte meio metro de altura, quando os seus colegas saltam um metro, possa vir, dentro de dois ou três anos, a saltar mais alto do que os seus colegas, se tiver o acompanhamento adequado. Agora não se pode é atirar o desgraçado para um canto da sala, porque o professor não tem tempo para lhe dedicar, uma vez que só tem duas horas de aula por semana, tem um programa a cumprir e a maioria dos alunos da turma está numa fase muito mais adiantada.

Por outro lado, as reprovações, ao contrário do que por aí se diz, para além de não resolverem o problema dos alunos com menos aptidões (que, o mais certo, se houver rigor, é reprovarem, de novo, no próximo ano), só servem para uma coisa: para desestabilizar, por completo, a turma onde irão ser integrados no ano seguinte, tornando-a ainda mais heterogénea e qualitativamente pior.

Acresce que os alunos reprovados, para além de aumentarem a sua animosidade em relação à escola, acabam inevitavelmente por liderar a turma, por força da idade, com toda a carga negativa que isso tem, quer em termos disciplinares, quer da qualidade do ensino, acabando, quase sempre, por descarregar nos mais novos as suas frustrações pelo seu insucesso. As reprovações na escolaridade obrigatória têm o mesmo efeito numa turma que as pedras num carrinho de mão: quanto maior for a carga de pedras, mais dificuldade tem o professor em andar com o carrinho.

Consequentemente, quem defende (como eu) a escolaridade obrigatória tem de defender, necessariamente, uma escola preparada para dar resposta a todos os alunos que recebe, tendo em conta as suas capacidades, aptidões, nível de conhecimentos e ritmos de aprendizagem. Tem de ser uma escola para todos: para os super, para os médios e para os mais limitados. E o sucesso desta escola tem de ser medido por aquilo que acrescenta a cada aluno em concreto e não pelos resultados dos exames em abstracto.

Novembro de 2007

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Viseu, 1978

 

Vesti-me de leopardo

Para sobreviver na selva.

Todas as vezes que me despi

Fui acossado

Pelas outras feras.

E lá voltava eu a envergar o odiado

Camuflado

Dos rugidos e das esperas.

E lá continuava eu o meu caminho solitário

À procura dum amigo,

Duma clareira ou dum abrigo

Onde não fosse necessário

Ser fera.

    

Nunca encontrei.

Muitas vezes me enganei...

Confundido na miragem

Pelo cansaço da viagem.

12 Nov, 2015

Broncos e pretos

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Sou branco mas não sou porco racista.

Amo os pretos, perdão, os africanos,

Amarelos, vermelhos e ciganos,

Nisto não há quem seja mais papista.

 

Se os tratas mal, eu ponho-te na lista,

Mesmo que algum te cause muitos danos,

Que o branco tem de pagar pelos anos

Da longa exploração capitalista.

 

Ontem adormeci bem revoltado

Por causa de um racista, mas prometo

Que irei ajustar contas co tarado.

 

E ao acordar, pensei logo no gueto,

Quando vi que o meu carro foi roubado:

Só pode ter sido o cabrão dum preto.

 

Ponte de Sor, 17 de Novembro de 2005

10 Nov, 2015

O Colégio La Salle

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Ao olhar a esta distância para a obra do Colégio La Salle de Abrantes na sua curta existência (1959-75), não posso deixar de reconhecer os seus méritos, tanto mais que aquele Colégio representa hoje o modelo utópico da escola moderna: uma escola a tempo inteiro, empenhada na formação integral do aluno.

O Colégio La Salle, recordo, tinha dois campos de futebol, vários campos de basquetebol, rinque de patinagem, piscina de 25 metros de competição, ginásio, cine-teatro, salas de estudo, um laboratório moderníssimo, capela e igreja. Estes equipamentos permitiam aos seus alunos desenvolver as suas capacidades artísticas (teatro, tuna, poesia, conjunto musical, etc.) e participar em provas distritais, nacionais e regionais em quase todas as modalidades: basquetebol, futebol, voleibol, ténis de mesa, tiro ao alvo, natação, judo, hóquei em patins, etc. Sem esquecer os grupos de solidariedade social e as viagens de estudo ao estrangeiro.

Além disso, os seus alunos obtinham sistematicamente as melhores notas do distrito de Santarém nos exames dos antigos 2º, 5º e 7º anos dos liceus, sendo esta, aliás, a sua imagem de marca.

Com o 25 de Abril, o Colégio deu lugar à escola pública. E, quarenta anos depois, toda a gente sonha com uma escola pública à imagem do antigo Colégio La Salle. E, para lá chegar, ministros e secretários de Estado alteram e legislam todos os dias, enquanto as escolas se entretêm a fazer e a desfazer, ao mesmo ritmo, os seus extensos regulamentos internos.

Querem saber quantos artigos tinha o regulamento interno do Colégio La Salle? Tinha apenas dez que passo a transcrever: 1º) O espírito lassalista deverá estar presente em tudo o que fazemos. Nunca nos devemos esquecer da nossa identidade própria. 2º) Em tudo o que fazemos, devemos cultivar a justiça, a oração e o serviço aos outros. 3º) Todas as pessoas da nossa comunidade educativa, devem respeitar-se mutuamente tornando a nossa escola um lugar ideal para trabalhar. 4º) Todos devem ajudar a criar um ambiente de inter-ajuda, propiciando uma boa aprendizagem. 5º) Todos têm direito à diferença. Os dons especiais de cada um devem ser encorajados e valorizados para o bem de todos. Devemos trabalhar e partilhar juntos. 6º) Todos têm direito à segurança. Ninguém deve ter medo de ser ameaçado ou importunado. Ninguém deve ter receio de correr riscos, de ser diferente ou de ser sincero. 7º) O auto e hetero encorajamento para a rentabilização das nossas capacidades são essenciais. A existência de uma variedade de temas e de actividades é necessária à realização pessoal. 8º) A atenção vigilante é importante para que nos momentos de crise nos sintamos confiantes a partilhar as angústias ou problemas com uma pessoa de confiança. 9º) Todos devemos saber perdoar e esquecer. Todos merecemos uma segunda oportunidade. 10º) Na nossa escola, as pessoas deverão aprender tanto com os seus êxitos como com os fracassos. Isto permite o crescimento pessoal.

Públio Cornélio Tácito, político, orador e historiador romano, bem sabia do que falava quando proclamou: "quanto mais corrupta é a República, maior é número das leis". Consequentemente, se querem uma escola empenhada na formação integral do aluno, comecem por aqui. Rasguem os regulamentos internos e os estatutos do aluno... E resumam tudo a dez artigos. Segundo me dizem, Deus é perfeito (quem sou eu para duvidar disso, apesar de não ser crente?). Ora, se a Lei de Deus tem apenas dez artigos, por alguma razão deve ser.

Junho de 2008

09 Nov, 2015

O cometa

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Coimbra, 22 de Janeiro de 1978

 

Rasga-se um peito num grito desesperado.

Involuntário.

De guerra.

 

Mas ninguém ouve.

 

No Castelo Assombrado

o medo impera.

Os Homens,

programados,

movimentam-se com gestos mecânicos.

Os Fantasmas governam.

É noite.

Uma noite escura.

Mortal.

Sem cérebro.

 

Mas não te cales, HOMEM LOUCO!

Grita! Continua a gritar!

As nossas vidas dependem da força do teu grito.

Por favor,

GRITA!

Grita mais! MAIS! MAIS! MAIS AINDA! MAAAIS! MAAAAAIIS!...