A Macau europeia
As recentes nomeações chinesas para a EDP [1] ajudaram-nos a perceber três coisas: o investimento chinês; a falta de investimento privado; e o papel de Portugal no mundo.
Com efeito, estas nomeações demonstram claramente que os chineses perceberam que Portugal e a China, afinal, partilham dos mesmos valores democráticos. Se bem que, quanto a este aspecto, temos de reconhecer que, na China, os empresários e as empresas gozam de uma autonomia e independência, em relação ao Partido do Governo, muito maior do que em Portugal. No nosso país, ao contrário da China, uma empresa que não tenha nos seus quadros membros do Partido do Governo (nacional, regional ou local) está condenada ao fracasso.
Ora, esta é também uma das razões por que os investidores privados fogem de Portugal como o "diabo da cruz". Com efeito, não há empresário do mundo livre que esteja para se sujeitar a ter de gramar com os lacaios do Partido do Governo para que o sua empresa tenha sucesso. Por outro lado, só um louco investe num país onde é necessário ter o número de telefone do primeiro-ministro ou do presidente da câmara para a sua empresa não abrir falência em três tempos. E quem, no seu perfeito juízo, vai investir num país onde, a todo o momento, as leis são alteradas radicalmente, a maior parte das vezes para beneficiar os amigos dos ministros ou do partido?
Quanto ao papel que os nossos governantes nos reservam no mundo, ficámos elucidados com as manifestações de regozijo unânimes dos nossos dirigentes políticos, relativamente ao investimento chinês na EDP. Depois de nos termos despojado de todas as nossas colónias, é chegada a hora de assumirmos o nosso verdadeiro destino: ser a Macau europeia da China.
Fevereiro de 2011
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[1] Ex-governantes da área do Governo PSD-CDS.