Ponte de Sor e o Largo da Igreja
Santana-Maia Leonardo
Vou quebrar uma promessa que tinha feito a mim próprio e dar a minha opinião sobre um assunto que respeita a Ponte de Sor: a remodelação do Largo da Igreja. Como já escrevi, por diversas vezes, um bom autarca é aquele que age como um bom administrador de condomínio, ou seja, causando o mínimo incómodo aos condóminos na fruição da sua fracção e das partes comuns.
Isso não significa, obviamente, que os condomínios, tal como as cidades, vilas e aldeias, não necessitem, em certos momentos, de intervenções de fundo. E, nestas alturas, como deve proceder um bom administrador do condomínio? Arranca com a obra sem dizer nada a ninguém e sem ouvir a opinião dos condóminos? Ou tenta envolver os condóminos na resolução do problema, ouvindo-os, apresentando-lhes as diferentes alternativas e recebendo as diferentes sugestões, procurando que a solução seja tão consensual quanto possível?
Tal como o administrador do condomínio, os autarcas têm de perceber que não são os donos das autarquias que administram e a busca da solução consensual é sempre a melhor forma de acautelar uma boa gestão e de proteger a sua própria obra.
Relativamente ao Largo da Igreja de Ponte de Sor, é evidente que a Câmara Municipal considerou ter chegado o momento de levar a cabo uma intervenção de fundo, caso contrário não teria mandado arrancar todas as árvores, a calçada e os bancos.
Não vou, por isso, questionar agora se tal intervenção se justificava ou não, porque o momento para essa discussão já passou. Aquilo que eu agora me interrogo, quando vejo a maquete da obra, já não é sobre a oportunidade da intervenção mas sobre a própria obra que se pretende levar a cabo. Com efeito, se a Câmara decidiu levar a cabo uma intervenção de fundo no Largo da Igreja, devia aproveitar a oportunidade para enquadrá-la num arranjo diferente de toda a zona da cidade onde se insere e que tantos problemas apresenta, em vez de voltar a colocar tudo mais ou menos na mesma, o que é sempre a pior solução. Na verdade, se é para ficar tudo mais ou menos na mesma, mais valia não mexer em nada e esperar por uma melhor oportunidade.
Concluindo: se a Câmara Municipal decidiu levar a cabo esta intervenção, deveria ter, obrigatoriamente, envolvido os Largos da Igreja, da Casa do Povo e do Tribunal e as ruas Luís de Camões, João de Deus e Damião de Góis.
Qual seria, então, a minha proposta?
Numa 1.ª Fase, na Rua João de Deus, desapareciam dois troços de estrada: o que liga o Largo do Tribunal à Rua 1.º de Maio e o que liga a Rua de Santo António à Avenida da Liberdade para permitir que toda a envolvente do Largo da Igreja até à loja dos CTT fosse pedonal e de esplanadas. Por sua vez, a Rua Luís de Camões inverteria o sentido de trânsito em toda a sua extensão. E, finalmente, uma vez que a Rua Luís de Camões ficaria com o sentido de trânsito invertido, a Rua Damião de Góis (antiga rua das Finanças) devia ser fechada ao trânsito no 1.º e 3.º terço, o que não acarretava qualquer perda de lugares de estacionamento (ganhavam-se nos topos), mantendo-se o trânsito na travessa que cruza esta rua desde a Rua Luís de Camões à Rua Vaz Monteiro.
Numa 2.ª Fase, devia intervir-se no Largo do Tribunal e no Largo 25 de Abril, relacionando-os com a nova configuração do Largo da Casa do Povo, devido ao desaparecimento do troço de estrada acima referido, e procurar uma solução para o conflito de "morte" que existe entre o cruzamento da Rua Alexandre Herculano com a Rua da Escola João Pedro de Andrade (só quando aqui houver um acidente grave, designadamente, com um aluno, é que Ponte de Sor, à boa maneira portuguesa, vai despertar para o problema).
Quanto à localização da nova casa mortuária, não acredito, no entanto, que venha a ser construída na zona comercial da Rua João de Deus. Seria, aliás, totalmente incompreensível que uma câmara levasse a cabo uma intervenção com esta dimensão e extensão no largo central da sede do município para valorizar, no fundo, a localização da nova casa mortuária e desvalorizar ad eternum todo o espaço em seu redor.
Ficam aqui lavradas a minha sugestão e a minha opinião, apesar de saber que vivemos num condomínio onde a livre opinião dos condóminos, se não for reverencial, é sempre entendida como uma ofensa pessoal àqueles que velam, dia e noite, pelos superiores interesses do município. É precisamente por esta razão que decidi deixar de expressar publicamente as minhas opiniões sobre o concelho. Mas desta vez era impossível ficar calado.