Regionalizar ou deslitoralizar?
Floripo Salvador
A realidade demográfica que temos no nosso país é, mais ou menos, esta: uma percentagem elevadíssima da nossa população distribui-se por todo o litoral (distrito de Viana do Castelo ao distrito de Faro). É nesta zona geográfica que estão as grandes indústrias, o mais forte comércio e as mais empregadoras instituições do Estado. O resto do Continente está, apenas, salpicado de gente. As pequenas vilas vão engordando, um pouco, à custa da desertificação das aldeias vizinhas. As cidades do interior vão crescendo, alguma coisa, em prejuízo das vilas e aldeias limítrofes. A Grande Lisboa e o Grande Porto vão engrossando, muito, em detrimento das aldeias, vilas e cidades do interior e o litoral vai-se, demograficamente adensando, imenso, à custa de todo o interior.
Num tempo em que o Estado tem, ainda, o controlo de metade do PIB da Nação é a ele que compete, se para isso tiver vontade, inverter esta situação através do investimento a efectuar, ano após ano, pelos vários ministérios. É dele que se espera, também, a implementação de políticas de incentivo ao investimento por parte das empresas privadas corrigindo, dessa forma, as assimetrias económicas existentes entre um litoral demograficamente denso e um interior desertificado.
Deste modo seriam de esperar as naturais consequências de equidade ao nível da distribuição demográfica do país. Num tempo em que estão criadas as indispensáveis infra-estruturas rodoviárias de acesso ao interior, acho que não há tempo a perder. O solo arável e abandonado de Trás-os-Montes, da Beira Interior e do Alentejo profundo, e também as pessoas que por lá vão resistindo, aguardam o seu tempo!
Porém, como há eleições legislativas de quatro em quatro anos e a grande maioria dos votos está no litoral eu duvido que, algum dia, haja um governo com coragem de se arrojar a tal façanha!
Por último refira-se que os projectos de regionalização que se conhecem contemplam substancial acréscimo de despesa pública e, sobretudo, de lugares políticos. E disso, já nós temos que chegue e sobre!