Carta aberta à presidente da câmara de Abrantes
José Amaral
Dirijo-me a V. Exª, mas, por seu intermédio, fundamentalmente, a todos os Munícipes, Cidadãos do Concelho de Abrantes, que mui dignamente representa.
Venho muito simplesmente secundar, aderir e solidarizar-me com os apelos feitos pelo Exmº Presidente da Delegação de Abrantes da Ordem dos Advogados, o meu Ilustre Colega e Amigo, Dr. Santana Maia Leonardo, no sentido de que, nas celebrações do Centenário da Elevação de Abrantes a Cidade, se atribua, a título póstumo, ao Dr. Eurico Heitor Consciência a distinção que ele merece.
O Dr. Eurico Heitor Consciência foi, por assim dizer, porque é verdade, meu “companheiro de jornada”, durante os últimos quarenta anos, desde que, em 1976, comecei a exercer a Advocacia.
Mas não é por razões pessoais que me associo à iniciativa tomada pelo Dr. Santana Maia Leonardo.
Faço-o porque entendo que o peso do Dr. Consciência, ao longo de mais de cinquenta anos, em Abrantes, desde 1964, nos plano pessoal, cívico e político, deixou no Concelho marca digna de nota.
Concordando-se ou discordando-se, é alguém que a Cidade e o Concelho não vão esquecer.
Logo nos primeiros tempos, foi o dinamizador das Jornadas Culturais, que só de longe acompanhei, porque estava então em Coimbra.
Trouxe cá o Manuel Freire e o Zeca Afonso! Antes do 25 de Abril, um acto de coragem, que era coisa que não lhe faltava.
Foi também um dos dinamizadores da ARA – Associação para o Desenvolvimento da Região de Abrantes, que chegou a desenvolver algumas acções importantes, de âmbito regional, introduzindo pela primeira vez a ideia do Triângulo Abrantes – Tomar – Torres Novas, embora após o 25 de Abril se tenha dissolvido.
Falando do passado, que os mais novos não conhecem, é também de salientar o excelente trabalho que levou a cabo como Director do jornal semanário “Correio de Abrantes”, coordenando uma excelente equipa.
Fundou, em 1974, com o também já falecido Senhor Manuel Dias, a Secção de Abrantes do Partido Socialista, do qual se afastou, porém, em 1976.
Depois, foi o que se sabe. Advogado brilhante, com projecção a nível nacional, tendo chegado a ser Vice-Presidente do Conselho Superior da Ordem dos Advogados, foi também, durante sete anos, Professor do Pólo de Abrantes da Universidade Internacional, tendo ainda publicado diversas obras jurídicas, nas áreas em que era especialista, dos acidentes de viação dos seguros, e tendo colaborado regularmente, depois de ter fechado o “Correio da Abrantes”, ainda nos anos 70 do Século XX, em quase todos os principais órgãos da imprensa local e regional.
E era um homem íntegro!
A sua memória perdurará, seguramente. E não pecisa da distinção da Medalha e do nome duma rua. Abrantes é que precisa de o homenagear, fazendo-lhe Justiça.
Abrantes, 6 de Junho de 2016