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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

José Amaral

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O Dr. Orlando Pereira, que foi Advogado, em Abrantes, durante um quarto de século, entre os primeiros anos da década de 50 do século XX e o princípio do ano de 1977, faleceu no dia 21 de Junho de 2016, em Lisboa, com a idade de 92 anos.

Após a morte do Dr. Consciência, era o último sobrevivente dos mais antigos Advogados de Abrantes.

Natural de Merceana, concelho de Alenquer, veio para Abrantes, salvo erro, em 1951 ou 1952, pela mão do Dr. Armando Martins do Vale, Advogado de renome, que tinha escritório na Rua de Santa Justa, em Lisboa, para dar continuidade ao escritório do Dr. João de Matos, quando este foi para Juiz, escritório esse que estava instalado no antigo Cartório Notarial do Dr. Serra da Mota, defronte da Capela da Misericórdia.

Pessoa muito respeitada na cidade e no concelho, foi reconhecidamente o líder da Oposição Democrática, em Abrantes, nas décadas de 50, 60 e primeira metade da década de 70 do Século XX, tendo participado activamente, em Abrantes, em todas as campanhas de todas as supostas eleições que houve antes do 25 de Abril, a começar pela campanha presidencial do Gen. Humberto Delgado. Nas eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975, foi candidato a deputado, pelo MDP/CDE.

Esteve preso, no Aljube, em 1949, na sequência da sua activa militância política no MUD – Juvenil, juntamente com outros antifascistas que a PIDE então prendeu, entre os quais o Dr. Mário Soares.

Em 1955, depois de ter feito estágio para os Registos e Notariado, em Mação, foi nomeado Notário do Cartório de Albufeira, mas foi logo expulso da Função Pública, por razões políticas, tendo-lhe sido aplicado um Decreto-Lei que permitia ao Conselho de Ministros erradicar da Função Pública quem quer que lhe apetecesse, por não dar garantias de fidelidade ao regime ditatorial de Salazar e Caetano, pelo que não chegou sequer a tomar posse do cargo, não se tendo, portanto, visto na contingência de proferir, sob reserva mental, as palavras sacramentais do juramento, que terminava com uma declaração formal de “activo repúdio pelo comunismo e por todas as ideias subversivas”.

Ora, o Dr. Orlando e a sua Esposa, a Drª Maria Fernanda Graça da Silva Pereira, que foi a única mulher a integrar a Comissão Central do MUD – Juvenil, se “no antigamente” não eram, porventura, militantes do Partido Comunista Português (a Drª Maria Fernanda veio a sê-lo, de facto, após o 25) tinham talvez ligações com o aparelho clandestino do Partido, com o qual sempre estiveram politicamente alinhados.

Tendo como prova do afastamento da função pública por motivos políticos o próprio “Diário do Governo” (como então se chamava o “Diário da República”), no qual foi publicada a deliberação do Conselho de Ministros que o demitiu, foi-lhe fácil obter a justa reintegração na Função Pública, tendo sido nomeado, em princípios de 1977, Notário do 13º Cartório Notarial de Lisboa, que funcionava por detrás do Teatro Nacional, onde terminaria a sua carreira profissional.

Dos actuais Advogados de Abrantes só eu o conheci, tendo sido seu estagiário.