O encerramento das escolas
Hoje «o superior interesse das crianças» é o chavão com que os mais cínicos enchem a boca para justificar aquilo que não é nem do interesse das crianças, nem dos pais, nem do país.
É óbvio que, do ponto de vista individual, a cidade e, em última instância, a capital oferecem ao cidadão melhores condições e mais oportunidades a todos os níveis (educação, profissão, lazer, etc). No entanto, do ponto de vista colectivo, é absolutamente essencial o (re)povoamento do território e o combate à desertificação do interior. Ou seja, para que a qualidade de vida das pessoas que vivem na cidade e na capital seja sustentável a médio prazo, é necessário que as aldeias e freguesias do interior se mantenham povoadas.
Ora, se a vida na cidade e na capital oferece melhores condições e mais oportunidades ao cidadão, tal significa que quem vive na cidade e na capital tem de aceitar pagar o preço para que a fixação de pessoas no interior seja atractiva e estas se sintam compensadas desse seu sacrifício pelo bem de todos.
Isto não significa, obviamente, que a escola só por si garanta a fixação das pessoas nas freguesias rurais. Mas a escola é o mínimo que se pode oferecer a quem aí aceitar viver. Sendo certo que as contrapartidas a pagar às populações que aceitem viver nas freguesias rurais não se pode resumir à escola. Tem de se lhes conceder vantagens na compra de habitação, no acesso à saúde e à educação, nos transportes, oferecer-lhes equipamentos de lazer e de ocupação de tempos livres, conceder-lhes benefícios e isenções fiscais, etc.
E só desta forma, criando condições à fixação das populações nas freguesias rurais do interior do país, se pode, em boa verdade, falar do superior interesse das crianças: crescer num país com futuro.
Setembro de 2010