D. Nuno Álvares Pereira
D. Nuno era filho do Prior do Crato. Ainda hoje há quem discuta se nasceu em Flor da Rosa, no Crato, ou em Cernache do Bonjardim, como se o local do nascimento fosse relevante para um alentejano. Para se ser alfacinha, é que é necessário nascer em Lisboa. Agora, um alentejano nasce num sítio qualquer. Que D. Nuno era alentejano é uma evidência, não só pela cepa de que era feito como até pela táctica militar utilizada. E é bom não esquecer que foi como fronteiro do Alentejo que D. Nuno, na batalha de Atoleiros, demonstrou ao mestre de Avis (outro alentejano) que, para ganhar aos castelhanos, bastava meia-dúzia de alentejanos, liderados por um alentejano e com uma táctica alentejana.
E foi, por isso, que o mestre de Avis e D. Nuno, quando partiram de Lisboa para Aljubarrota, deram a volta pelo Alentejo, porque já sabiam que, na hora da verdade, não podiam contar com os alfacinhas. Quando dessem de caras com milhares de cavalos a investir contra eles, davam todos de frosques... Em todo o caso, os alfacinhas tiveram um papel decisivo que não podemos escamotear, já que foram eles que carregaram com os alentejanos até ao campo de batalha.
E até se conta que, à saída de Lisboa, estranhando a volta pelo Alentejo, o ministro Mário Lino terá dito ao Mestre de Avis: "Ó Mestre, olhe que aí não mora ninguém!", ao que o mestre de Avis respondeu: "são poucos mas bons".
Chegados a Aljubarrota, D. Nuno aplicou a mesma táctica da batalha de Atoleiros. Mandou sentar os alentejanos em forma de mesa e disse-lhes: "Fiquem aí e não se mexam!" E os alentejanos aproveitaram logo para bater uma sesta pela força do calor e embalados pelo tropel da cavalaria inimiga que investia a todo o galope sobre o indolente quadrado alentejano.
E foi precisamente quando a primeira leva de cavaleiros se preparava para atropelar a vanguarda alentejana que se ouviu a voz de comando de D. Nuno: "Levantem as lanças!"
Os alentejanos levantaram as lanças e foi um desastre. Um desastre para os castelhanos, bem entendido. Ou melhor, para os castelhanos, para os franceses e para os portugueses, porque é bom não esquecer que, já naquele tempo, a maioria dos portugueses olhava sempre para a grandeza dos clubes em confronto antes de tomar partido. Só que desta vez fizeram mal as contas. Esqueceram-se que um exército de trinta mil castelhanos, franceses e portugueses é demasiado pequeno para derrotar meia-dúzia de alentejanos. Azar o deles!
Ponte de Sor, 13 de Dezembro de 2014