Um questão de carácter
Do estudo da UEFA sobre a relação entre clubes e adeptos, publicado no início deste ano, facilmente se conclui não só que somos um caso único na Europa como também que o campeonato português é um campeonato viciado à nascença, sem qualquer possibilidade de regeneração nos anos mais próximos.
Os campeonatos de clubes são campeonatos entre cidades, bairros (no caso das grandes metrópoles) ou regiões, tal como os campeonatos das selecções são campeonatos entre países.
É, por isso, natural que a esmagadora maioria dos alemães torça pela Alemanha, assim como a implantação do Bayern seja em Munique, do Manchester em Manchester e do Barça em Barcelona.
O Real e o Barcelona juntos têm 33% dos adeptos espanhóis e a sua implantação é em Madrid e Barcelona, respectivamente. A implantação do Manchester United é de 14% em Inglaterra e em Manchester.
Só em Portugal não é assim. Com efeito, ao contrário do resto da Europa em que cada um defende os seus, sejam pequenos ou grandes, só em Portugal, repito, só em Portugal, é quebrada esta relação entre o clube e as cidades/regiões.
Só o Benfica tem hoje 47% dos adeptos portugueses e espalhados por todo o território nacional (o Sporting e o Porto têm, praticamente, o resto).
Isto tem a ver obviamente com uma questão de carácter que nos devia envergonhar a todos e que explica muito da nossa sabujice como povo. Ou seja, a esmagadora maioria dos portugueses é do que ganha.
E essa é uma questão cultural que inquina não só o campeonato português como a própria democracia.