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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

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Para se perceber o que significa o FC Barcelona, temos de conhecer a história do clube nos anos da ditadura de Primo de Rivera, da guerra civil e do franquismo, quando se tornou num clube integrador e lutador, colocando-se do lado das causas justas e da democracia.

Em 1925, o presidente fundador do Barça, o suiço Hans Gamper, é inabilitado para sempre de pertencer aos órgãos directivos do clube, por imposição do ditador Primo de Rivera.

O grito "Visca el Barça!" é proibido e, durante a férrea ditadura franquista, o FC Barcelona é obrigado a mudar o nome para CF Barcelona (espanholização do nome), a alterar o emblema (eliminação das quatro barras da bandeira catalã) e o nome "Barça" é proibido.

Enquanto o mítico presidente do Real Madrid Santiago Bernabéu era um ultraconservador que lutou ao lado dos franquistas, tendo participado, inclusive, no cerco a Barcelona no final da guerra civil, o presidente do Barça Josep Suñol é fuzilado, no dia 6 de Agosto de 1936, quando rebenta a guerra civil, por soldados franquistas.

Durante a ditadura franquista, o FC Barrcelona converteu-se, praticamente, no único veículo de protesto contra a ditadura.

E é precisamente este passado histórico do Barça que leva o presidente Narcis de Carreras, no seu discurso de 17 de Janeiro de 1968, a proferir a frase que se tornou no lema do clube: "O FC Barcelona é algo mais do que um clube de futebol."

Visca el Barça!

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Santana-Maia Leonardo

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Dois em cada três portugueses é do Benfica. Isto é garantido pelos próprios benfiquistas. Basta ouvi-los falar no café ou na televisão. E mesmo admitindo que o Benfica ainda não tenha atingido este número, não tardará muito em alcançá-lo, tendo em conta a apetência natural dos portugueses por se colarem às maiorias vencedores, sejam elas quais forem. E se acrescentarmos a isto a paixão clubística, a irracionalidade e o fervor religioso de que os benfiquistas tanto se gabam, forçoso será concluir que o Benfica, ao contrário dos outros clubes, não necessita de corromper ninguém para ser naturalmente favorecido. Basta tão-só que os seus fervorosos e fiéis adeptos, onde quer que exerçam funções (dirigentes, jogadores e adeptos das equipas adversárias, árbitros, observadores, dirigentes federativos, jornalistas, funcionários públicos, magistrados, polícias, etc), contribuam activamente para as vitórias do seu clube do coração.

Neste contexto, os vouchers para quatro refeições sem limite de preço por cada árbitro e cada observador (ainda que bem mais valiosos do que aquela tão famosa prenda dos pequenos apitos em ouro que eram dados apenas aos árbitros) só podem servir para recordar, no final de cada jogo, as vantagens de se ser benfiquista ou, caso não se seja, de não se afrontar o Benfica e assim ali se poder regressar, sem correr o risco de ser vetado, para receber mais umas refeiçõezinhas. (E ainda dizem que não há fome neste país!…)

Ninguém questiona aqui nem a grandeza do Benfica, nem o bom trabalho desenvolvido por Filipe Vieira na recuperação do prestígio do clube, nem a qualidade do treinador Rui Vitória que, na minha opinião, é superior a Jorge Jesus, porque tem aquilo que falta a este e que é essencial num líder na hora da verdade: o controlo emocional.

Agora, há uma coisa que é impossível de escamotear: não é possível haver verdade desportiva, como resulta claramente do estudo da UEFA, se um dos clubes participantes tem maioria absoluta dos adeptos desse país. O mesmo aconteceria se o Barcelona disputasse o campeonato da Catalunha.

Chegados aqui só vejo uma solução para termos um campeonato competitivo e asseado: o nosso campeonato passar a ser disputado pelas Casas do Benfica. Sendo certo que esta solução, dada natural subserviência dos portugueses em relação a Lisboa, também não é segura, uma vez que o mais certo seria os adeptos do Benfica de Coimbra, Faro ou Vila Real passarem a torcer pela Casa de Lisboa, em vez de torcerem pela Casa do Benfica da sua terra.

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Dois pais dispõem apenas de um pão para dividir pelos seus cinco filhos.

O primeiro pai reúne os seus cinco filhos em volta da mesa, divide o pão em cinco partes e pede a cada um dos filhos para tirar um bocado.

Por sua vez, o segundo pai, esquerdista convicto, reúne os seus cinco filhos em volta da mesa e bota discurso: “Meus queridos filhos! Enquanto eu mandar nesta casa, nunca haverá de faltar pão na nossa mesa. Por alguma razão o nosso lema sempre foi “a imaginação ao poder”. Por isso, peço-vos que olhem para a mesa e imaginem seis pães. Eu, como sou o mais velho, fico já com este. Os outros cinco são para vocês. E se ficarem com fome, é só imaginarem mais seis que eu até dispenso o meu para que possam encher a barriguinha.

Moral da história: os filhos do primeiro pai ficam todos insatisfeitos, um por ter ficado com o pior bocado, outro com o mais pequeno, outro com a côdea, outro com o miolo, outro porque era pouco... Por sua vez, os filhos do pai esquerdista ficam todos satisfeitos, apesar de não terem comido nada, porque nenhum deles se sentiu preterido ou prejudicado. Pelo contrário, não podiam ter sido tratados com maior igualdade.

É por esta razão que os portugueses são de esquerda. Preferem morrer de fome do que correr o risco de ver o vizinho comer um bocado melhor ou maior do que o dele..

Dezembro de 2012

Santana-Maia Leonardo

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Escrevo artigos de opinião, em jornais nacionais e regionais (de norte a sul do país, ilhas incluído), desde os meus 12 anos, ou seja, desde 1970. Apesar de gostar muito de futebol, quer como espectador, quer como jogador, nunca escrevi, até ao ano passado, um único artigo de opinião que versasse sobre o futebol porque olhei sempre para o futebol como um entretenimento e um jogo, nunca lhe tendo dado qualquer relevância política.

Só depois de ler o estudo da UEFA publicado no ano passado sobre a relação dos adeptos com os clubes em cada país, percebi que o futebol português reproduz, na perfeição, essa forma tão especial de ser português: péssimos patrões, óptimos capatazes; reverentes com os de cima, implacáveis com os de baixo.  

O português prefere sempre bajular os grandes a associar-se aos seus iguais ou ao seu vizinho para fazer frente aos grandes. Veja-se o caso dos autarcas em que preferem sempre bajular Lisboa (e, se possível, passar a perna ao vizinho do lado) a associar-se aos concelhos vizinhos para fazer frente Lisboa. Com o vizinho é uma rivalidade de morte; com Lisboa é sempre de chapéu na mão. No futebol e no resto.

 

E NÃO SOBROU NINGUÉM

(Martin Niemöller)

 

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.

Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.

Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.

Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram; 

já não havia mais ninguém para reclamar.

 

INTERTEXTO

(Bertold Brecht)

 

Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Santana-Maia Leonardo

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No futebol profissional existem hoje dois tipos de clubes: (I) os clubes de topo que disputam o título da Liga dos Campeões e dos principais campeonatos europeus; e (II)  os clubes que funcionam como viveiros destes clubes e onde se incluem os principais clubes portugueses. E Sporting CP, SL Benfica e FC Porto querem garantir precisamente que o campeonato português é apenas disputado por estes três clubes para terem acesso à montra da Liga dos Campeões, vender o seu produto e dar dinheiro a ganhar aos administradores das respectivas SAD. Reduz-se hoje objectivamente a isto o papel dos principais clubes portugueses. O resto é propaganda interna para manter iludidos os devotos da seita.

Não há um único clube de topo que não fique satisfeito por lhe sair na rifa um clube português. Os nossos gloriosos são os Tondelas e os Aroucas da Liga dos Campeões. As equipas portuguesas até podem bater o pé aos verdadeiramente grandes, mas é mais provável o Arouca eliminar o SL Benfica da Taça do que o SL Benfica eliminar o Barcelona ou o Real Madrid da Liga dos Campeões.

Este modelo de "grandes" e "pequenos" também se reproduz à nossa escala, servindo os clubes "pequenos" como barrigas de aluguer dos "grandes" para estes rodarem os seus jogadores, mas de modo viciado, uma vez que, na Liga dos Campeões, apesar de haver "grandes" e "pequenos", os clubes partem todos em pé de igualdade. Ou seja, recebem todos o mesmo e podem usar todos os jogadores inscritos, sejam emprestados ou não.

Ora, isso em Portugal não sucede porque os grandes não querem correr qualquer risco de não ficar nos lugares de acesso à Liga dos Campeões.  Em Portugal, o campeonato de futebol é um jogo de batoteiros e não há povo como o português para exultar com as vitórias dos seus, ainda que alcançadas com batota.

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