Os verdadeiramente grandes e os batoteiros
Santana-Maia Leonardo
No futebol profissional existem hoje dois tipos de clubes: (I) os clubes de topo que disputam o título da Liga dos Campeões e dos principais campeonatos europeus; e (II) os clubes que funcionam como viveiros destes clubes e onde se incluem os principais clubes portugueses. E Sporting CP, SL Benfica e FC Porto querem garantir precisamente que o campeonato português é apenas disputado por estes três clubes para terem acesso à montra da Liga dos Campeões, vender o seu produto e dar dinheiro a ganhar aos administradores das respectivas SAD. Reduz-se hoje objectivamente a isto o papel dos principais clubes portugueses. O resto é propaganda interna para manter iludidos os devotos da seita.
Não há um único clube de topo que não fique satisfeito por lhe sair na rifa um clube português. Os nossos gloriosos são os Tondelas e os Aroucas da Liga dos Campeões. As equipas portuguesas até podem bater o pé aos verdadeiramente grandes, mas é mais provável o Arouca eliminar o SL Benfica da Taça do que o SL Benfica eliminar o Barcelona ou o Real Madrid da Liga dos Campeões.
Este modelo de "grandes" e "pequenos" também se reproduz à nossa escala, servindo os clubes "pequenos" como barrigas de aluguer dos "grandes" para estes rodarem os seus jogadores, mas de modo viciado, uma vez que, na Liga dos Campeões, apesar de haver "grandes" e "pequenos", os clubes partem todos em pé de igualdade. Ou seja, recebem todos o mesmo e podem usar todos os jogadores inscritos, sejam emprestados ou não.
Ora, isso em Portugal não sucede porque os grandes não querem correr qualquer risco de não ficar nos lugares de acesso à Liga dos Campeões. Em Portugal, o campeonato de futebol é um jogo de batoteiros e não há povo como o português para exultar com as vitórias dos seus, ainda que alcançadas com batota.