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Foi com esta intervenção, faz agora três anos, que eu e Belém Coelho terminámos o nosso mandato na Câmara Municipal de Abrantes, como vereadores da oposição.
Gostaria que a lessem até para perceberem como, neste país, o combate contra o "sistema" é uma guerra perdida e uma luta absolutamente inglória.
Desgastamo-nos imenso e nem o regime, nem o sistema, se movimenta um milímetro sequer.
E Abrantes nem sequer é o pior exemplo do que se passa neste país.
Em Abrantes, pelo menos, ainda se consente que os vereadores da oposição tenham voz, enquanto há câmaras onde os vereadores da oposição só têm duas alternativas: ou se vendem ou se calam.
Em todo o caso, todo o esforço é inútil porque a má gestão dos dinheiros públicos, o compadrio e as fraudes nos concursos de pessoal e de obras públicas, em vez de tirar votos, aumenta a votação porque quem vota são os beneficiários directos deste sistema, enquanto a factura é deferida no tempo e remetida para todos os contribuintes.
Para lerem todas as nossas intervenções, basta clicar sobre a capa do livro.
Recordo que o livro "Amar Abrantes - o nossos conSelho" é uma colectânea que reúne as nossas principais intervenções e que publicámos no final do mandato com o dinheiro que recebemos das senhas de presença para oferecer aos municípes.
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Santana-Maia Leonardo e António Belém Coelho
Mensagem de final de mandato dos vereadores eleitos pelo PSD
Segundo Paul Valéry, «a política é a arte de impedir as pessoas de se meterem naquilo que lhe diz respeito». Ora, a nossa candidatura à Câmara de Abrantes, como se pode ler, aliás, na introdução do nosso programa eleitoral, visava precisamente contrariar esta máxima. Ou seja, levar os munícipes a meterem-se naquilo que lhes diz respeito. Até porque consideramos que uma das grandes deficiências da nossa democracia e que muito contribuiu para nos conduzir ao abismo, foi precisamente o facto de o poder político não gostar do contraditório, nem de ser contrariado, optando sistematicamente por apresentar as soluções que mais convêm ao seu restrito círculo de amigos como se fossem soluções do interesse público e que só por malvadez alguém pudesse pôr em causa.
Ora, o contraditório é uma peça essencial não só para a boa decisão como para a formação de uma cidadania esclarecida. Como defendia Karl Popper, para poderemos aprender com os nossos erros é necessário que nos possamos criticar mutuamente. Torna-se urgente, por isso, implantar uma cultura democrática que promova o debate e que valorize cada vez mais a liberdade de expressão sobre a “cultura do respeitinho” que ainda abunda na cabeça da maioria dos nossos políticos locais.
E é precisamente isso que ainda falta fazer no município de Abrantes. Com efeito, se o Passos do Concelho se resume ao panegírico das realizações camarárias, a imprensa local, por sua vez, segue os Passos a par e passo. Nem no Antigo Regime tivemos uma imprensa tão domesticada, tão cor-de-rosa e tão servil. Para já não falar dos partidos e movimentos políticos que, fora dos períodos eleitorais, praticamente não têm actividade, nem existência política a nível concelhio. Tanto assim que a única forma de fazermos chegar ao conhecimento dos munícipes as nossas intervenções foi manter em actividade o blogue "Amar Abrantes" e enviá-las por mail, uma vez que era manifesto que a imprensa local não estava interessada, nem em divulgá-las, nem em debatê-las, para já não falar no PSD local que, em vez de nos apoiar, ainda tentou silenciar o nosso blogue e impedir-nos de divulgar por mail as nossas intervenções, o que provocou, como é do conhecimento público, a nossa ruptura com a concelhia.
Tal como afirmámos no nosso compromisso eleitoral (e isto aplica-se todos os partidos), continuamos a acreditar e a defender hoje que "mais importante do que as obras é cada um de nós sentir, em cada momento, que é um homem livre. Livre para pensar, livre para criticar e livre para fazer. E a única forma de se viver em liberdade na nossa terra é nunca permitirmos que alguém se sinta senhor do nosso voto ou dono do nosso concelho."
Hoje os munícipes de Abrantes, por força do nosso mandato, estão certamente muito mais esclarecidos e viram os seus direitos muito mais acautelados, porque contaram com dois vereadores que não se limitaram a fazer de corpo presente, como é hábito na oposição, mas que estudaram as questões, investigaram, ouviram os munícipes, questionaram a presidente da câmara e propuseram soluções. E de tudo isso foi dado conhecimento aos munícipes para que eles próprios pudessem fazer a sua avaliação.
Terminamos, assim, o nosso mandato com a consciência tranquila de quem cumpriu aquilo a que se comprometeu, apesar de todos os escolhos que foram colocados no nosso caminho.