Liberdade ou morte!
Santana-Maia Leonardo - Jornal do Alto Alentejo de 18-10-2016
Desde os doze anos que escrevo com regularidade em jornais locais, regionais e nacionais. Inicialmente, comecei a fazê-lo crente de que conseguiria, dessa forma, mudar o mundo. Hoje, desfeita a ilusão da adolescência, faço-o apenas por teimosia.
Ao contrário do que muita gente pensa, Democracia e Liberdade não só não são sinónimos, como nem sempre vivem de mãos dadas. A Venezuela, Angola e a Rússia, por exemplo, são democracias, uma vez que os governos são eleitos através de sufrágio universal, mas são países onde as liberdades individuais e os direitos das minorias não são minimamente respeitados.
Em Portugal, a situação, sendo substancialmente diferente dos casos apontados, não é, no entanto, totalmente diferente, como todos sabemos por experiência própria. A subserviência e o culto pelos senhores presidentes “do que quer que seja” ainda continua muito encrustada na alma servil do povo, fruto de 400 anos de Inquisição e 50 de ditadura que a lei da selva da República apenas ajudou a cimentar.
Mesmo os nossos tribunais, só há bem pouco tempo e fruto das consecutivas e vexatórias sentenças condenatórias do Estado português, no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, por violação do direito à liberdade de expressão, começaram a deixar de dar cobertura às perseguições, por via judicial, que eram movidas contra aqueles que tinham a coragem de criticar e denunciar os abusos dos pequenos ditadores autárquicos.
«O direito à liberdade de expressão não protege o direito a ter razão mas o direito a não a ter». Foi desta forma lapidar que um juiz norte-americano, numa sua sentença, definiu o objecto e a latitude deste direito que, em Portugal, toda a gente invoca e pouco gente pratica e respeita.
Quem me conhece sabe que não sou nem de meias-palavras, nem de meias-tintas, o que significa que não sou boa companhia para um jornal que queira ganhar a sua vida de cócoras. Recordo que já fui proibido de escrever nalguns jornais locais com o argumento de que a minha frontalidade incomodava os donos do poder local. Ora, o facto de ainda não ter sido proibido de escrever no jornal do Alto Alentejo, num tempo conturbado para a imprensa regional devido à quebra do mercado publicitário por força da actual crise económica, só pode significar que este jornal quer continuar a ser um verdadeiro jornal e não um pasquim ou um Boletim Municipal em que a maioria dos jornais locais e regionais se transformaram, ou por vocação ou por necessidade.
Que dure muitos anos é o meu desejo!