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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

04 Nov, 2016

Liberdade ou morte!

Santana-Maia Leonardo - Jornal do Alto Alentejo de 18-10-2016

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Desde os doze anos que escrevo com regularidade em jornais locais, regionais e nacionais. Inicialmente, comecei a fazê-lo crente de que conseguiria, dessa forma, mudar o mundo. Hoje, desfeita a ilusão da adolescência, faço-o apenas por teimosia.

Ao contrário do que muita gente pensa, Democracia e Liberdade não só não são sinónimos, como nem sempre vivem de mãos dadas. A Venezuela, Angola e a Rússia, por exemplo, são democracias, uma vez que os governos são eleitos através de sufrágio universal, mas são países onde as liberdades individuais e os direitos das minorias não são minimamente respeitados.

Em Portugal, a situação, sendo substancialmente diferente dos casos apontados, não é, no entanto, totalmente diferente, como todos sabemos por experiência própria. A subserviência e o culto pelos senhores presidentes “do que quer que seja” ainda continua muito encrustada na alma servil do povo, fruto de 400 anos de Inquisição e 50 de ditadura que a lei da selva da República apenas ajudou a cimentar. 

Mesmo os nossos tribunais, só há bem pouco tempo e fruto das consecutivas e vexatórias sentenças condenatórias do Estado português, no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, por violação do direito à liberdade de expressão, começaram a deixar de dar cobertura às perseguições, por via judicial, que eram movidas contra aqueles que tinham a coragem de criticar e denunciar os abusos dos pequenos ditadores autárquicos.

«O direito à liberdade de expressão não protege o direito a ter razão mas o direito a não a ter». Foi desta forma lapidar que um juiz norte-americano, numa sua sentença, definiu o objecto e a latitude deste direito que, em Portugal, toda a gente invoca e pouco gente pratica e respeita.

Quem me conhece sabe que não sou nem de meias-palavras, nem de meias-tintas, o que significa que não sou boa companhia para um jornal que queira ganhar a sua vida de cócoras. Recordo que já fui proibido de escrever nalguns jornais locais com o argumento de que a minha frontalidade incomodava os donos do poder local. Ora, o facto de ainda não ter sido proibido de escrever no jornal do Alto Alentejo, num tempo conturbado para a imprensa regional devido à quebra do mercado publicitário por força da actual crise económica, só pode significar que este jornal quer continuar a ser um verdadeiro jornal e não um pasquim ou um Boletim Municipal em que a maioria dos jornais locais e regionais se transformaram, ou por vocação ou por necessidade.

Que dure muitos anos é o meu desejo!

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Foi com esta intervenção, faz agora três anos, que eu e Belém Coelho terminámos o nosso mandato na Câmara Municipal de Abrantes, como vereadores da oposição.

Gostaria que a lessem até para perceberem como, neste país, o combate contra o "sistema" é uma guerra perdida e uma luta absolutamente inglória.

Desgastamo-nos imenso e nem o regime, nem o sistema, se movimenta um milímetro sequer. 

E Abrantes nem sequer é o pior exemplo do que se passa neste país.

Em Abrantes, pelo menos, ainda se consente que os vereadores da oposição tenham voz, enquanto há câmaras onde os vereadores da oposição só têm duas alternativas: ou se vendem ou se calam.

Em todo o caso, todo o esforço é inútil porque a má gestão dos dinheiros públicos, o compadrio e as fraudes nos concursos de pessoal e de obras públicas, em vez de tirar votos, aumenta a votação porque quem vota são os beneficiários directos deste sistema, enquanto a factura é deferida no tempo e remetida para todos os contribuintes.

Para lerem todas as nossas intervenções, basta clicar sobre a capa do livro.

Recordo que o livro "Amar Abrantes - o nossos conSelho" é uma colectânea que reúne as nossas principais intervenções e que publicámos no final do mandato com o dinheiro que recebemos das senhas de presença para oferecer aos municípes.  

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Santana-Maia Leonardo e António Belém Coelho

Mensagem de final de mandato dos vereadores eleitos pelo PSD

Segundo Paul Valéry, «a política é a arte de impedir as pessoas de se meterem naquilo que lhe diz respeito». Ora, a nossa candidatura à Câmara de Abrantes, como se pode ler, aliás, na introdução do nosso programa eleitoral, visava precisamente contrariar esta máxima. Ou seja, levar os munícipes a meterem-se naquilo que lhes diz respeito. Até porque consideramos que uma das grandes deficiências da nossa democracia e que muito contribuiu para nos conduzir ao abismo, foi precisamente o facto de o poder político não gostar do contraditório, nem de ser contrariado, optando sistematicamente por apresentar as soluções que mais convêm ao seu restrito círculo de amigos como se fossem soluções do interesse público e que só por malvadez alguém pudesse pôr em causa.

Ora, o contraditório é uma peça essencial não só para a boa decisão como para a formação de uma cidadania esclarecida. Como defendia Karl Popper, para poderemos aprender com os nossos erros é necessário que nos possamos criticar mutuamente. Torna-se urgente, por isso, implantar uma cultura democrática que promova o debate e que valorize cada vez mais a liberdade de expressão sobre a “cultura do respeitinho” que ainda abunda na cabeça da maioria dos nossos políticos locais.

E é precisamente isso que ainda falta fazer no município de Abrantes. Com efeito, se o Passos do Concelho se resume ao panegírico das realizações camarárias, a imprensa local, por sua vez, segue os Passos a par e passo. Nem no Antigo Regime tivemos uma imprensa tão domesticada, tão cor-de-rosa e tão servil. Para já não falar dos partidos e movimentos políticos que, fora dos períodos eleitorais, praticamente não têm actividade, nem existência política a nível concelhio. Tanto assim que a única forma de fazermos chegar ao conhecimento dos munícipes as nossas intervenções foi manter em actividade o blogue "Amar Abrantes" e enviá-las por mail, uma vez que era manifesto que a imprensa local não estava interessada, nem em divulgá-las, nem em debatê-las, para já não falar no PSD local que, em vez de nos apoiar, ainda tentou silenciar o nosso blogue e impedir-nos de divulgar por mail as nossas intervenções, o que provocou, como é do conhecimento público, a nossa ruptura com a concelhia.

Tal como afirmámos no nosso compromisso eleitoral (e isto aplica-se todos os partidos), continuamos a acreditar e a defender hoje que "mais importante do que as obras é cada um de nós sentir, em cada momento, que é um homem livre. Livre para pensar, livre para criticar e livre para fazer. E a única forma de se viver em liberdade na nossa terra é nunca permitirmos que alguém se sinta senhor do nosso voto ou dono do nosso concelho."

Hoje os munícipes de Abrantes, por força do nosso mandato, estão certamente muito mais esclarecidos e viram os seus direitos muito mais acautelados, porque contaram com dois vereadores que não se limitaram a fazer de corpo presente, como é hábito na oposição, mas que estudaram as questões, investigaram, ouviram os munícipes, questionaram a presidente da câmara e propuseram soluções. E de tudo isso foi dado conhecimento aos munícipes para que eles próprios pudessem fazer a sua avaliação.

Terminamos, assim, o nosso mandato com a consciência tranquila de quem cumpriu aquilo a que se comprometeu, apesar de todos os escolhos que foram colocados no nosso caminho.

01 Nov, 2016

Pepe (1) e o hino

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O maior português de todos os tempos não era português, nem consta que soubesse o hino. Refiro-me, obviamente, a D. Afonso Henriques, filho de francês e de espanhola. No entanto, ainda não vi ninguém pôr em causa o seu portuguesismo. Não percebo, por isso, por que razão cada jornalista, que vai entrevistar os jogadores portugueses que nasceram no Brasil, lhes tem de perguntar se sabem o hino nacional.

Se o critério para se ser português fosse esse, então muito poucos mereciam esse distintivo. Experimentem pedir ao vosso vizinho para vos escrever o hino numa folha de papel.

Quantos portugueses sabem o que quer dizer ou como se escreve «egrégios avós»? A maioria, quando chega aqui, aproveita sempre por passar pela igreja dos avós. Não é que não seja bem pensado, sobretudo quando se vai pegar em armas e marchar contra os canhões.

Junho de 2012

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[1] Defesa central da selecção portuguesa de futebol, nascido no Brasil e naturalizado português.

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