O vídeo-árbitro
Santana-Maia Leonardo
Perante a evidência da batota com que se conquistam gloriosamente os campeonatos portugueses, é na tecnologia que os defensores da verdade desportiva depositam agora todas as esperanças. Testemos, então, a tecnologia num caso flagrante para vermos o resultado. No jogo Benfica – Sporting, existe um lance que, visto frontalmente, não deixa qualquer dúvida de que é grande penalidade: o lance de Pizzi em que este direcciona a bola com o braço direito e que antecede o primeiro golo do Benfica. O árbitro pode não se ter apercebido mas o lance visto pela câmara frontal é categórico.
No entanto, se lermos as opiniões dos vários vídeo-árbitros que comentam este lance nos diferentes jornais e que tiveram a oportunidade de ver e rever o lance até à exaustão, durante mais de 12 horas, chegamos à conclusão que a tecnologia não tem a virtualidade de alterar o carácter dos batoteiros.
Para um povo em que o que importa é ganhar nem que seja com um golo marcado com a mão e em fora de jogo, não há tecnologia que valha… Um batoteiro não deixa de ser batoteiro com um vídeo à frente.
Escrevo artigos de opinião, em jornais nacionais e regionais (de norte a sul do país, ilhas incluído), desde os meus 12 anos, ou seja, desde 1970. Apesar de gostar muito de futebol, quer como espectador, quer como jogador, nunca escrevi, até ao ano passado, um único artigo de opinião que versasse sobre o futebol porque olhei sempre para o futebol como um entretenimento e um jogo, nunca lhe tendo dado qualquer relevância política.
Só depois de ler o estudo da UEFA publicado no ano passado sobre a relação dos adeptos com os clubes em cada país, percebi que o futebol português reproduz, na perfeição, essa forma tão especial de ser português: péssimos patrões, óptimos capatazes; reverentes com os de cima, implacáveis com os de baixo.
O português prefere sempre bajular os grandes a associar-se aos seus iguais ou ao seu vizinho para fazer frente aos grandes. Veja-se o caso dos autarcas em que preferem sempre bajular Lisboa (e, se possível, passar a perna ao vizinho do lado) a associar-se aos concelhos vizinhos para fazer frente Lisboa. Com o vizinho é uma rivalidade de morte; com Lisboa é sempre de chapéu na mão. No futebol e no resto.