Santana-Maia Leonardo
A grande rivalidade entre o Benfica e o Vitória, nunca é de mais recordar, tem as suas raízes, em 480 a.C, na célebre batalha das Termópilas que opôs o rei de Esparta Leónidas I e o imperador persa Xerxes I.
O rei Xerxes I, de cognome O Glorioso, era detentor, na altura, de metade do mundo conhecido e do mais poderoso exército. Conta-se que, no momento, em que escolheu as armas do seu escudo esteve indeciso entre o leão e a águia e terá sido a sua mulher que acabou por ser decisiva na escolha, quando exclamou, ao ver o escudo com a águia: “Que bem fica!” E, a partir daqui, o escudo de Xerxes passou a ser conhecido por "Bem-Fica" e os seus adeptos por benfiquistas.
Com o objectivo de conquistar a Grécia, uma pequena parte do mundo que lhe faltava, Xerxes reuniu, em 480 a.C., um vasto exército de 300.000 homens. A invasão da Grécia, apanhou, no entanto, as cidades gregas desprevenidas, pelo que se tornava urgente travar o avanço do exército benfiquista para dar tempo às cidades gregas de organizarem a sua defesa.
Para cumprir esse desígnio, foi mandatado Leónidas, rei de Esparta, que usava no seu brasão uma frase que veio a ser tornada célebre por Virgílio: “Vence quem crê no Vitória”. Era, aliás, precisamente por esta razão que a sua guarda pessoal era conhecida por vitoriana.
Acompanhado apenas pela sua guarda pessoal composta por 300 vitorianos, Leónidas deslocou-se para o desfiladeiro das Termópilas, lugar escolhido para enfrentar e retardar o avanço dos 300.000 soldados benfiquistas comandados por Xerxes.
Perante a desproporção dos dois exércitos, Xerxes, num gesto de generosidade, resolveu enviar o seu moço de recados Ruy Silva para entabular conversações com Leónidas com vista à sua rendição.
Ruy Silva, recordo, tinha nascido no Porto mas desde pequeno que tinha ficado fascinado pelo poder e pelos títulos conquistados por Xerxes, tendo-se tornado num dos benfiquistas mais ferrenhos, ao ponto de Xerxes o ter convidado para o honroso lugar de moço de recados, quer na imprensa falada, quer na imprensa escrita. O poder de Xerxes fascinava-o de tal maneira que não se cansava de repetir: “Xerxes é o maior, ser benquista me envaidece!”
Convencido de que Leónidas era feito da sua cepa, Ruy Silva tentou deslumbrá-lo com o poder e os títulos do império benfiquista. Acontece que Leónidas tinha nascido em Setúbal, um dos bairros mais nobres da cidade de Esparta, onde a lealdade às suas raízes era inquebrável, por muito poderoso, glorioso ou fascinante que fosse o exército adversário.
Como último argumento para demover Leónidas, Ruy Silva disse-lhe: “O número de benfiquistas é tão grande que lançaremos sobre os teus 300 vitorianos tantos very-light que taparão o sol”. Respondeu Leónidas: “Melhor, jogaremos à sombra”.
Durante sete dias, os 300 vitorianos conseguiram vencer as sucessivas investidas do poderoso exército de 300.000 benfiquistas. E a resistência só foi quebrada porque um residente local de nome System, a troco de uns vouchers, mostrou aos invasores um pequeno caminho que podiam utilizar para aceder à retaguarda das linhas vitorianas. No final, já cercado pelos seus inimigos, o rei Xerxes dá uma ordem a Leónidas: "Deponham armas e entreguem-se". Leónidas respondeu-lhe: "Venham buscá-las". São as últimas palavras do rei vitoriano, fazendo jus ao pedido das mães vitorianas na hora da despedida dos seus filhos para a guerra: "Meu filho, volta com o teu escudo, ou em cima dele" (ou seja, ou vitorioso ou morto). Atacados por todos os lados, foram massacrados sem piedade.
Não foi, no entanto, uma derrota inglória. A resistência heróica dos vitorianos permitiu às cidades gregas disporem do tempo necessário para se organizarem e derrotar o exército invasor. E ainda hoje, no local onde morreram, se pode ler numa lápide: "Caminhante, vai dizer aos setubalenses que glória não é trezentos mil vencerem trezentos. Glória é trezentos terem a coragem de enfrentar trezentos mil, por amor ao clube da sua terra."