Eu, o meu filho e o penalti
Santana-Maia Leonardo - Rede Regional de 8-1-2017
Após termos vistos a repetição várias vezes do lance de penalti no jogo do Vitória - Sporting, eu fiquei com a certeza de que tinha sido penalti e o meu filho ficou com a certeza de que não tinha sido. Tendo eu do meu filho a opinião de ser uma pessoa justa, por que razão vemos o lance de forma tão diferente? Por uma razão óbvia: porque eu sou do Vitória e ele é do Sporting, o que significa que nenhum de nós estava em condições de arbitrar aquele jogo. Ou seja, um adepto de um clube que seja parte interessada não tem condições para arbitrar o jogo.
Mas existe ainda uma razão mais decisiva que, só por si, devia impedir que um árbitro português pudesse arbitrar um jogo do Vitória com o Sporting ou com o Benfica. Se um árbitro de Viseu, Vila Real ou Faro arbitrar um jogo do Vitória com o Benfica ou o Sporting, quando regressar a sua casa dificilmente se cruzará com um adepto do Vitória. Mas, de certeza absoluta, que vai dar de caras com adeptos do Benfica ou do Sporting dentro da sua própria casa, na casa dos vizinhos, no café e no local de trabalho. E isso não pode deixar de condicionar o seu trabalho, sobretudo quando os benfiquistas, sportinguistas e portistas, na comunicação social, atiçam os adeptos dos seus clubes contra os árbitros.
Pinto da Costa e Bruno de Carvalho gritam hoje, em uníssono, contra o polvo, tal como Luís Filipe Vieira e o presidente do Sporting da altura clamavam há uns anos atrás. Mas o polvo do futebol é o polvo da política e estes três clubes comportam-se da mesma forma que se comportam os partidos políticos portugueses: todos clamam contra o polvo quando estão na oposição, mas depois, mal se apanham no poder, nenhum deles está interessado em cortar-lhe os tentáculos.
Todos temos presente a afirmação de Luís Filipe Vieira, há seis anos atrás: “mais importante do que contratar jogadores é colocar os homens certos nos lugares certos”. E não só disse isso como fez questão de demonstrá-lo, como se alguém duvidasse.
Face ao poder da sua rede tentacular, só já existem três medidas capazes de destruir o polvo e regenerar o futebol português, o que seria, sublinhe-se, o maior contributo para a regeneração da própria sociedade portuguesa. Não há sociedade sã sem desporto são.
Primeira medida: todos os jogos do Benfica, Sporting e Porto devem ser arbitrados por árbitros estrangeiros, de preferência, ingleses porque, apesar de cometerem erros como os portugueses, não têm temores reverenciais, nem vão dar de caras com adeptos destes clubes quando entrarem a casa.
Segunda medida: limitação do número de futebolistas que podem pertencer aos quadros de cada equipa, porque é inadmissível que Benfica, Sporting e Porto açambarquem os 200 melhores jogadores.
Terceira medida: redução substancial do número de equipas da I Liga e repartição justa e equitativa dos direitos televisivos, para permitir o crescimento dos clubes das cidades médias.