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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

Santana-Maia Leonardo

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"Diz o roto ao nu". Esta expressão popular resume na perfeição as intervenções a que assistimos no espaço público: seja no Parlamento, na comunicação social ou nas redes sociais.

O nosso grande e grave problema tem a ver precisamente com a chamada CULTURA DA EXIGÊNCIA. E a única forma de a ensinar é com o exemplo. 

Acontece que os portugueses, de uma forma geral, apenas são exigentes quando se trata de cobrar aos outros, ao ponto de se lhes exigir aquilo que, em idêntica situação, não praticam nem exigem aos seus. Aliás, a si e aos seus, toleram e justificam tudo, não tendo sequer pejo de usar a expressão mais cínica de todas e típica dos canalhas: "os outros, se cá estivessem, faziam o mesmo".

Por exemplo: como pode Passos Coelho ou algum dos seus apoiantes pedir a demissão de quem quer que seja quando a ministra da Justiça se manteve no lugar após a tragédia da reforma do mapa judiciário? (Para já não falar do resto...). O descrédito da política portuguesa reside precisamente nesta dualidade de critérios: exige-se aos outros o que não se pratica em casa. 

No futebol, passa-se precisamente o mesmo ou não fossem os protagonistas feitos da mesma massa, quando não são os mesmos: os maiores críticos e os que mais se indignaram e indignam com os comportamentos do Apito Dourado são precisamente os que mais toleram comportamentos idênticos do seu clube. No campeonato da hipocrisia e do cinismo, os portugueses são imbatíveis.

Recordar uma carta escrita em 25 de Janeiro de 2009 ao presidente da câmara de Abrantes da altura para que o leitor possa avaliar da sua actualidade

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Eurico Heitor Consciência

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Meu caro Presidente,

Prometi por duas ou três vezes falar dos seus serviços de propaganda mas ainda não cumpri. Estou como os políticos: generosos e prontos nas promessas, mas lentos e avaros ou esquecidos no cumprimento das mesmas. Mas tarde é o que nunca chega e hoje vou finalmente falar dos seus serviços de propaganda. Mas, antes de apontar ao âmago da questão, há que fazer duas ou três advertências, e apresso-me a fazê-las, porque sei que alguns leitores são desconfiados e estão sempre a tresler-me e a rosnar em surdina: Vês “agreiros” nos olhos dos outros mas não reparas nas traves dos teus.

Quando refiro os seus serviços de propaganda não quero dizer que Você (começa a agradar-me o Você), que Você montou serviços de propaganda pessoal com os dinheiros dos seus contribuintes. Não. Os serviços de propaganda foram certamente criados para propaganda de Abrantes (e alguma terão feito) mas sobretudo para propaganda das actividades da sua Câmara Municipal. Sua, de Abrantes, entenda-se. Mas, como não sou de arcas encouradas, declaro já que penso que da Câmara Municipal de Abrantes se poderá também dizer que é sua, caro Presidente, no sentido de que a Câmara se confunde consigo, expressando unicamente o seu pensamento e a sua filosofia de vida. Porque Você  (o  raio do Você  começa a sair-me naturalmente. E sempre  embirrei  com o Você. Você é de estrebaria. De quem come sete molhos de palha por dia – dizia-se na minha meninice aos que tratavam por Você quem, por sua idade ou prestígio social, deveria ser tratado por Senhor ou Vossa Senhoria, quando não Vossa Excelência, de mais raro uso, praticamente reservado aos Magistrados, aos generais e aos Ministros).

Porque Você, começara a dizer, foi sempre o clou, o sol, o pivot, o princípio e o fim (passando pelo meio) de todas as decisões camarárias com algum relevo - com ressalva das do tempo em que o Engº Couceiro da Costa foi vice-presidente da Câmara, porque, ao que parece, nesse tempo, o verdadeiro pivot era ele. Mas não gostava de sobressair, de dar nas vistas. Não gostava de propagandas. E ficava na sua sombra.

E as coisas também terão sido diferentes no breve tempo em que o Arquitecto Albano Santos foi vice-presidente da Câmara. Ao que consta, tinha uma personalidade vincada e até pensava. Terá sido por isso que Você e ele se esmurraram (em sentido figurado – entenda-se. Naturalmente).

A outra advertência refere-se ao pessoal dos seus serviços de propaganda. Dos que conheço ou de que tenho referências deverá dizer-se que são pessoas capazes – que poderiam servir a comunidade em tarefas úteis, necessárias e interessantes de forma competente. Com o que quero dizer que não me passa nem nunca me passou pela cabeça pôr em questão o trabalho competente das pessoas que foram postas no seu serviço de propaganda. Por isso, consequentemente, não poderia ter-me ocorrido nunca o seu despedimento (que nem seria possível legalmente – ao que suponho). O que vou propor, caro Presidente, o que vou propor, como contribuinte  que  sustenta os seus serviços  de propaganda, o que proponho é que os funcionários dos seus serviços de propaganda sejam transferidos para outros serviços, com funções úteis, porque os serviços de propaganda devem ser abolidos, apagados, desfeitos, arrasados, destruídos , definitivamente banidos da Câmara.

Concluídas que foram as advertências, vamos ao âmago, ao cerne, ao centro, ao fundo da questão. Vamos, vamos, mas noutro dia, porque hoje já gastei o tempo e o espaço de que dispunha. Veremos o dito cerne na próxima semana.

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