Recordar uma carta escrita em 25 de Janeiro de 2009 ao presidente da câmara de Abrantes da altura para que o leitor possa avaliar da sua actualidade
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Eurico Heitor Consciência
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Meu caro Presidente,
Prometi por duas ou três vezes falar dos seus serviços de propaganda mas ainda não cumpri. Estou como os políticos: generosos e prontos nas promessas, mas lentos e avaros ou esquecidos no cumprimento das mesmas. Mas tarde é o que nunca chega e hoje vou finalmente falar dos seus serviços de propaganda. Mas, antes de apontar ao âmago da questão, há que fazer duas ou três advertências, e apresso-me a fazê-las, porque sei que alguns leitores são desconfiados e estão sempre a tresler-me e a rosnar em surdina: Vês “agreiros” nos olhos dos outros mas não reparas nas traves dos teus.
Quando refiro os seus serviços de propaganda não quero dizer que Você (começa a agradar-me o Você), que Você montou serviços de propaganda pessoal com os dinheiros dos seus contribuintes. Não. Os serviços de propaganda foram certamente criados para propaganda de Abrantes (e alguma terão feito) mas sobretudo para propaganda das actividades da sua Câmara Municipal. Sua, de Abrantes, entenda-se. Mas, como não sou de arcas encouradas, declaro já que penso que da Câmara Municipal de Abrantes se poderá também dizer que é sua, caro Presidente, no sentido de que a Câmara se confunde consigo, expressando unicamente o seu pensamento e a sua filosofia de vida. Porque Você (o raio do Você começa a sair-me naturalmente. E sempre embirrei com o Você. Você é de estrebaria. De quem come sete molhos de palha por dia – dizia-se na minha meninice aos que tratavam por Você quem, por sua idade ou prestígio social, deveria ser tratado por Senhor ou Vossa Senhoria, quando não Vossa Excelência, de mais raro uso, praticamente reservado aos Magistrados, aos generais e aos Ministros).
Porque Você, começara a dizer, foi sempre o clou, o sol, o pivot, o princípio e o fim (passando pelo meio) de todas as decisões camarárias com algum relevo - com ressalva das do tempo em que o Engº Couceiro da Costa foi vice-presidente da Câmara, porque, ao que parece, nesse tempo, o verdadeiro pivot era ele. Mas não gostava de sobressair, de dar nas vistas. Não gostava de propagandas. E ficava na sua sombra.
E as coisas também terão sido diferentes no breve tempo em que o Arquitecto Albano Santos foi vice-presidente da Câmara. Ao que consta, tinha uma personalidade vincada e até pensava. Terá sido por isso que Você e ele se esmurraram (em sentido figurado – entenda-se. Naturalmente).
A outra advertência refere-se ao pessoal dos seus serviços de propaganda. Dos que conheço ou de que tenho referências deverá dizer-se que são pessoas capazes – que poderiam servir a comunidade em tarefas úteis, necessárias e interessantes de forma competente. Com o que quero dizer que não me passa nem nunca me passou pela cabeça pôr em questão o trabalho competente das pessoas que foram postas no seu serviço de propaganda. Por isso, consequentemente, não poderia ter-me ocorrido nunca o seu despedimento (que nem seria possível legalmente – ao que suponho). O que vou propor, caro Presidente, o que vou propor, como contribuinte que sustenta os seus serviços de propaganda, o que proponho é que os funcionários dos seus serviços de propaganda sejam transferidos para outros serviços, com funções úteis, porque os serviços de propaganda devem ser abolidos, apagados, desfeitos, arrasados, destruídos , definitivamente banidos da Câmara.
Concluídas que foram as advertências, vamos ao âmago, ao cerne, ao centro, ao fundo da questão. Vamos, vamos, mas noutro dia, porque hoje já gastei o tempo e o espaço de que dispunha. Veremos o dito cerne na próxima semana.