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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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Desde 1972 que escrevo ininterruptamente e militantemente em jornais locais, regionais e nacionais, acreditando que é possível contribuir para mudar Portugal através da palavra e do exemplo. Eça de Queirós, Antero de Quental e a Geração de 70, “a primeira em Portugal que saiu decididamente e conscientemente da velha estrada da tradição”, como a definiu Antero de Quental, sempre foram as minhas referências, desde a adolescência, neste meu militante combate político pela mudança das mentalidades.

Mas bastaria constatar como, cem anos depois, Portugal mantinha os mesmos vícios criticados por Eça, Antero e a Geração de 70 para ter chegado à conclusão da inutilidade da minha luta. Não é impossível corrigir defeitos. Só que o problema português não é uma questão de defeito, mas de feitio.

Fernando Pessoa, no último poema da Mensagem, retrata Portugal de forma esclarecedora: “Ninguém sabe que coisa quer./ Ninguém conhece que alma tem,/ Nem o que é mal nem o que é bem. / (…) Tudo é incerto e derradeiro./ Tudo é disperso, nada é inteiro./ Ó Portugal, hoje és nevoeiro.../” E, noventa anos depois, quando olhamos para Portugal, o nevoeiro não só não há meio de levantar como se adensa cada vez mais…

Até há bem pouco tempo, vivi convencido de que os portugueses, em geral, tinham uma consciência ética e a perfeita noção do Bem e do Mal, até pela suas constantes e vibrantes manifestações de indignação, quer nas mesas de café, quer nas redes sociais, contra a corrupção, o compadrio e as cunhas. Mas não têm. Ou melhor, para o cidadão português, o Bem e o Mal não são conceitos abstractos que se aplicam a todos por igual mas conceitos bem concretos e relativos que têm, por única referência, os seus próprios interesses. Por exemplo, a cunha tanto pode ser um Bem como um Mal. É um Bem se beneficiar a sua filha num concurso público; é um Mal se beneficiar a filha do vizinho.

Ora, chegados aqui, não podemos deixar de concluir pela inutilidade de qualquer tentativa de regeneração social porque as mesmas pessoas que se colocam ao nosso lado quando denunciamos os vícios dos governantes, autarcas e dirigentes desportivos são as mesmas que defendem e praticam os mesmos vícios quando o seu partido ou clube toma o poder. Como facilmente se constata, os portugueses não criticam os outros porque discordam dos seus métodos. Pelo contrário, criticam-nos por inveja porque, se tiverem a oportunidade, fazem precisamente o mesmo (ou pior). E não só fazem o mesmo como não concebem sequer que alguém pense ou aja de outra forma.

Mesmo com os processos judiciais mais mediáticos se constata esta dualidade de critérios. As mesmas pessoas que invocam a presunção de inocência em benefício dos seus são precisamente aquelas que não respeitam sequer as decisões absolutórias transitadas em julgado que dizem respeito aos adversários.

Portugal é um pequeno país organizado em forma piramidal em que a base da pirâmide assenta em micro-poderes de raiz ditatorial que odeiam o mérito, temem a inteligência e perseguem os livres pensadores. Aliás, os portugueses, como se tem visto ao longo da nossa história recente, são como o vinho: os melhores são para exportação.

Um povo com este tipo de organização e que relativiza a noção do Bem e do Mal aos seus próprios interesses impede, inevitavelmente, qualquer solução que vise a regeneração do sistema na medida em que os comportamentos não se alteram com a mudança de protagonistas, seja de partidos, de dirigentes ou de políticos. Daí o ditado português que resume, na perfeição, a desilusão com a alternância e a mudança: “mudam as moscas mas a merda é a mesma.

Como diz o povo, “se não os consegues vencer, junta-te a eles.” Não me vou juntar a eles, mas decidi, a partir de agora, passar a viver afastado deles.

Albert Camus foi um dos meus autores preferidos na adolescência. E, tal como ele, também eu acabei por conhecer, por experiência própria, o trabalho de Sísifo: em Portugal, por mais trabalho e esforço que se faça no sentido da regeneração social e política, os resultados são sempre infrutíferos, irrelevantes e frustrantes. Eu que o diga.

Decidi, por isso, colocar também um ponto final nas minhas crónicas, iniciadas no longínquo ano de 1972, com 13 anos de idade. Até sempre!

Santana-Maia Leonardo - Diário As Beiras de 19-5-2018

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Javier Tebas, o presidente da superliga espanhola, esteve em Portugal e apontou à Liga portuguesa precisamente os dois defeitos mais do que óbvios que eu tenho apontado. 

Era bom que benfiquistas, sportinguistas e portistas, antes de me criticarem, olhassem para a Europa e para o Mundo com olhos de ver, em vez de se entreterem em transformar a nossa liga numa pocilga do terceiro mundo.

A minha simpatia pelo Barça desde os bancos da escola primária assentava exclusivamente na forma épica como todos os anos nos era contada a história da reconquista da independência nacional no 1.º de Dezembro de 1640 e ao contributo decisivo da rebelião da Catalunha para que o movimento independentista português tivesse sucesso. 

Após o 25 de Abril, a questão política da minha simpatia pelo Barça ganhou peso quando soube das ligações do Real Madrid ao franquismo e a Santiago Barnabéu e do Barça como bandeira do movimento anti-franquista.

Mas foi com a chegada de Cruyjj a Barcelona que a minha simpatia pelo Barça deixou de ser apenas de carácter político para passar a ser também de carácter desportivo. E se hoje sou um adepto incondicional do Barça, devo-o a Johan Cruyff, quer como jogador, quer como treinador. 

Para Cruyff, o futebol resultadista dos italianos e que hoje caracteriza a maior parte das equipas do mundo, designadamente o Real Madrid, não fazia sentido. Futebol sem espectáculo não é futebol.

O Barça é hoje a única equipa do mundo onde se exige a excelência permanente. E isso deve-o a Cruyff.

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