A cultura da batota
A venda de João Félix para o Atlético de Madrid deixou a nação benfiquista em êxtase, apesar de toda a gente saber qual o destino das verbas das vendas de Jorge Mendes: uma parte é consumida pela pesada administração das SAD e a outra para comprar jogadores de Jorge Mendes e sustentar uma chusma de jogadores que não têm outra função a não ser desvirtuar a competição.
Em Portugal, o clube dominante, porque não tem dinheiro para disputar o mercado com os grandes clubes europeus, prefere investir em jogadores de segunda linha para emprestar aos chamados clubes “pequenos” com o objectivo, por um lado, de reforçar esses clubes contra os seus adversários e enfraquecê-los quando joga contra eles e, por outro, reforçar o seu poder nos diferentes órgãos associativos.
Como todos sabemos, os jogos entre Benfica, Sporting e Porto são sempre de resultado imprevisível, mesmo que uma dessas equipas seja melhor do que as outras. O futebol é tão imprevisível que, por muito grande que sejam as diferenças entre clubes do mesmo nível, o resultado nunca é garantido. Daí que a vitória no campeonato dependa muito dos jogos com os outros clubes de menos nomeada.
E o que se passa em Portugal é que o clube com maior disponibilidade económica, através da vergonhosa política de empréstimos maciços de jogadores, transforma a competição numa prova de obstáculos para os seus adversários e praticamente sem obstáculos para si.
Esta cultura da batota está tão entranhada que poucos a denunciam. Em Portugal, a discussão sobre a verdade desportiva centra-se quase exclusivamente no VAR. Ou seja, é como se numa corrida de 400 metros obstáculos em que fosse permitido a um corredor correr numa pista sem obstáculos, a discussão sobre a verdade desportiva da prova se centrasse sobre a existência do Photofinish.
Enquanto os portugueses não conseguirem ter uma relação saudável com a competição desportiva, assente no fair play, no respeito pelos adversários e na integridade das competições, nunca conseguiremos resolver o problema estrutural da corrupção em Portugal. Quem é educado no jogo da batota cresce e forma-se como corrupto.
Santana-Maia Leonardo