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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

Tradução de Félix Bermudes 

  

Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê...Se vais faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calunia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
(Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)...
Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio, a construir de novo...
Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante...

Se, vivendo entre o povo, és virtuoso e nobre...
Se, vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...
Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraia em séculos fecundos...

Então, ó ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!...
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.
Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!...

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Gilberto Carvalho Susana Vieira enviou-me esta foto que mexeu comigo. É como uma pessoa que enviuvou, voltou a casar e refez a sua vida sentimental, e que, por acaso, encontra no fundo de uma gaveta uma foto do grande amor da sua vida.

Eu nasci em 1958 e vivi este tempo em que Vitória e cidade eram UM SÓ, tal como acontece APENAS hoje em Guimarães mas com uma diferença: Setúbal era a terceira maior cidade de Portugal e a mais industrial. Nos jogos do Vitória, era preciso muita coragem para alguém da equipa adversária lá ir assistir ao jogo. E bem podia rezar para a sua equipa não ganhar, caso contrário tinha dificuldade de lá sair vivo. E os clubes do regime eram naturalmente odiados em Setúbal.

Basta recordar que os presidentes da FPF, que controlavam a arbitragem, eram obrigatoriamente por lei de um dos grandes de Lisboa e isso impedia o maior e melhor clube de fora de Lisboa, ou seja, o Vitória de disputar o título.

Esse é o meu clube. Mas infelizmente morreu. Hoje Setúbal e o Vitória estão atulhados de lambe-cus de Lisboa. No tempo do fascismo, resistimos ao poder centralista de Lisboa e à propaganda fascista de querer transformar o Benfica no clube da Nação, o clube representativo do Portugal Glorioso de Salazar. Mas, com o 25 de Abril, as muralhas da cidade ruíram e fomos tomados de assalto pelo Triunvirato romano.

O nosso estádio é hoje bem representativo da Glória do passado e da degradação do presente. E quando ouço presidentes do Vitória, para já não falar de outros LAMBE-CUS que são sócios do Vitória, dizerem que o Benfica é o abono de família do Vitória, tenho de ir vomitar porque só me lembram as mães que defendem e elogiam o senhor rico de Lisboa a quem vendem as suas filhas menores a troco de umas moedas para uns cigarros e uns tintos.

O meu clube e a minha cidade são esses da foto mas infelizmente já morreram. Hoje o único clube e a única cidade com gente com coluna direita e que resiste ao poder hegemónico e centralista de Lisboa e arredores (com o 25 de Abril, o Porto passou a fazer parte dos arredores de Lisboa) é aldeia gaulesa de Guimarães, a única cidade que devia ter o direito de ostentar o nome de Vitória.

Hoje o Vitória de Setúbal devia mudar de nome para DERROTA DE SETÚBAL e os associados que fossem adeptos do Triunvirato deviam ter um cartão de LAMBE-CU, em vez de um cartão de associado.

Peço desculpa pelo meu desabafo mas a foto mexeu fundo comigo e recordou-me os tempos da minha infância e adolescência. Já tinha feito o luto e voltado a casar, mas a foto voltou a recordar-me o grande amor da minha vida...

Santana-Maia Leonardo 

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O que estamos a assistir, cada vez mais, nos processos de promoção e protecção de menores é revoltante e angustiante porque os menores sinalizados, caso não estejam em perigo (e é a maioria), passam a estar em perigo face ao poder triturador, insensível, gélido e implacável da máquina burocrática do Estado apostado em transformar a vida das crianças e das suas famílias num verdadeiro inferno, como se vivêssemos em plena revolução cultural chinesa ou se estivesse em curso um programa de educação nacional retirado da cartilha fascista ou estalinista.  

Se uma família pobre tem o azar de cair nas garras destas comissões e instituições, todos os sinais exteriores de pobreza passam a ser um pretexto para retirar os menores às famílias, desde a sua casa não ter quartos em número suficiente, ou a roupa ser guardada em caixas de cartão por não haver dinheiro para comprar armários, ou o pai sair de casa muito cedo para o trabalho ou regressar muito tarde do trabalho, ou haver um animal de estimação dentro de casa, ou os pais não estarem em casa quando a técnica lá chegou de surpresa para fazer o relatório, nos caos em que se dá ao trabalho de lá ir, etc. etc.

Hoje os processos de promoção e protecção multiplicam-se e arrastam-se indefinidamente, a esmagadora maioria dos quais sem justificação plausível. Sendo certo que a maioria das queixas, tal como acontece com a violência doméstica e à boa maneira portuguesa, resulta de questiúnculas mesquinhas e pessoais e o seu único objectivo é infernizar a vida do outro com a sua queixa. Aliás, como é sabido, poucos são os portugueses capazes de dar a cara na denúncia de um crime e aceitar ser testemunhas de forma desinteressada.

E depois, face ao enorme volume de trabalho em processos absolutamente injustificáveis para os quais não têm capacidade de dar resposta, as técnicas não têm obviamente tempo para fazer o devido acompanhamento dos casos de crianças verdadeiramente em perigo e que deviam ser necessariamente acompanhadas com maior atenção, proximidade e assiduidade.

Consequentemente e à boa maneira portuguesa, é tudo tratado a toque de caixa e pela rama, sem a mínima consideração pelos menores e pelas famílias, repetindo-se fórmulas absurdas e ridículas de educar o povo que nem as técnicas, nem os mandatários das partes cumprem nas suas casas.

O mesmo se passa com a violência doméstica em que o legislador, na sua incomensurável estupidez, criou um tipo de crime onde cabe tudo, o que gera inevitavelmente um número de processos tão elevado que torna impossível a sua gestão e a sua investigação com a atenção e a celeridade que os casos mais graves deviam merecer. Bastava o legislador ter dois dedos de testa (eu sei que isto é pedir muito) e seguir o senso comum de que “o bom é inimigo do óptimo” para que os casos graves de violência doméstica e das crianças em perigo pudessem ter uma resposta adequada por parte das autoridades e dos técnicos, diminuindo drasticamente as tragédias que acontecem com cada vez mais regularidade. Acontece que, para o legislador português, as pessoas de carne e osso são lhe absolutamente indiferentes, o único que o preocupa é a beleza estética das leis que produz de acordo com o quadro ideológico dominante.

Santana-Maia Leonardo - Diário das Beiras de 14-10-2019

Santana-Maia Leonardo - Diário As Beiras de 24/10/2019

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Só se consegue ver se um cavalo é bom nos obstáculos altos.

E é precisamente por essa razão que todos os grandes clubes de todas as ligas europeias, seguindo o exemplo americano da paixão pela competição e pelos desafios, se empenharam em aumentar o grau de competitividade das suas ligas, aceitando repartir os direitos televisivos, reduzir os planteis, limitar as contratações e os empréstimos, com vista a que todos os clubes constituíssem obstáculos altos e difíceis de transpor e, dessa forma, tornar mais meritórias as suas vitórias.

Na Holanda, os clubes que participam na Champions aceitam, inclusive, doar 10% das suas receitas para redistribuir pelos outros clubes do liga holandesa.

Só em Portugal isso não aconteceu porque, aqui por estes lados, a ganância sempre foi a grande virtude cultivada pelos poderosos. E Benfica, Sporting e Porto, na sua cegueira gananciosa, temendo que a centralização dos direitos televisivos, adoptada em todas ligas europeias, também viesse a ser implantada em Portugal, correram a fazer contratos de longa duração para inviabilizarem qualquer hipótese dos pequenos clubes portugueses poderem sobreviver sem ser na sua dependência. Ou seja, enquanto, na Europa, os grandes clubes europeus apostaram em subir os obstáculos na sua caminhada para o título, em Portugal, os putativos grandes clubes resolveram descer os obstáculos ao nível do chão, defraudando e falseando a própria competição.

Pensavam os putativos grandes clubes portugueses que, com a competição interna reduzida aos jogos entre os três, tinham mais tempo para se preparar para a montra das competições europeias onde iam exibir o produto para venda.

Esqueceram-se, no entanto, de uma coisa elementar: sem competição interna, as suas equipas deixam de ter estaleca para defrontar clubes europeus com outro ritmo nas pernas e habituados a saltar obstáculos altos todas as semanas. Além disso, os próprios jovens jogadores dos clubes portugueses começaram já a perceber que, se querem triunfar no futebol europeu, têm de deixar a liga portuguesa o mais depressa possível, sob pena de perderem o comboio.

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Segundo consta José Roquete quis fazer um partido de defesa do Alentejo e do interior mas acabou por desistir da ideia porque o único círculo eleitoral onde o partido do Alentejo e do interior tinha alguma probabilidade de eleger um deputado era no círculo de Lisboa (????!!!!....).

Consequentemente, forçoso será concluir que, para o interior de Portugal ter voz e representatividade, era preferível haver apenas um círculo eleitoral nacional do que a actual situação que reduz as escolhas dos eleitores do interior do país aos partidos do regime, ou seja, aos partidos responsáveis pela desertificação do interior.

Com efeito, PS e PSD, de forma concertada e com o apoio envergonhado da CDU, reduziram Portugal à cidade Lisboa-Porto, ao mesmo tempo que criaram um sistema eleitoral que retira qualquer possibilidade às populações do Alentejo e do interior de se organizarem por forma a combater um modelo de desenvolvimento apostado precisamente em esvaziar o Alentejo e o interior do país da sua massa crítica e das suas elites, condenando estas regiões à irrelevância política. 

As autarquias do interior do PS, do PSD e da CDU defendem tanto o interior como as Casas do Benfica, do Sporting e do Porto, espalhadas por esse país fora, defendem os clubes do interior. A sua função é a mesma das Casas do Benfica, do Sporting e do Porto: garantir a fidelização dos adeptos ao partido.

Veja-se o caso do círculo de Portalegre. Elege apenas dois deputados: do PS e/ou do PSD. Não vale a pena qualquer outro partido aqui vir fazer campanha que o resultado não se altera. E porquê? Porque mais de 60% da população é reformada e os restantes 40% dependem das autarquias PS e PSD. Os dois deputados sairão sempre destes dois partidos. Aconteça o que acontecer.

Ora, qualquer cidadão que não se reveja em qualquer destes dois partidos, como é o meu caso, não vale a pena sair de casa. A abstenção é a única forma de mostrar a nossa desconformidade com um sistema que nos reduz as escolhas a dois partidos gémeos com os quais não nos identificamos.

Qualquer reforma eleitoral que não passe pela criação de um único circulo eleitoral, como acontece nas europeias, apenas contribui para agravar e cimentar ainda mais as assimetrias entre a cidade Lisboa-Porto e o interior do país.

Santana-Maia Leonardo - Diário As Beiras de 10/10/2019