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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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Uma vez que o senhor primeiro-ministro não lhe soube responder se um aluno devia passar de ano mesmo sem saber, eu vou ajudá-lo a perceber por que razão a resposta só pode ser SIM. Mas tem de fazer um esforço de compreensão porque o grande problema da actual geração de governantes, políticos, jornalistas e comentadores é serem liderados pela nossa geração, a geração das passagens administrativas do pós-25 de Abril em que os alunos passavam sem sequer pôr os pés nas aulas.

Ora, o fim das reprovações na escolaridade obrigatória não tem nada a ver com as passagens administrativas dos seus tempos de universidade. Pelo contrário, o fim das reprovações é a condição primeira para um ensino de excelência na escolaridade obrigatória, porque é a única que permite que se aumentem os graus de exigência e se desenvolvam e rentabilizem ao máximo as capacidades de cada aluno. É óbvio que, só por si, não resolve o problema sem vir acompanhada de outras medidas, designadamente: exames nacionais nos 4.º, 6.º, 9.º e 12.º ano de escolaridade e um novo conceito de turma (cada ano deve corresponder a uma única turma, por forma a poder haver, por disciplina, sub-turmas de recuperação e de excelência e, simultaneamente, permitir a mobilidade entre elas).

A escola selectiva de Salazar, que ainda hoje continua a ser o modelo dos melhores colégios privados, é, sem dúvida, uma escola de sucesso, mas assenta no mesmo modelo das escolas de futebol do Ajax, Barça e Benfica. Ou seja, na selecção dos melhores e eliminação daqueles que não têm aptidões. Se as escolas de futebol fossem obrigadas a manter até aos 16 anos todos os alunos das respectivas cidades, só se fossem loucos é que não passariam de ano todos os alunos, inclusive aqueles que não demonstrassem qualquer aptidão para a prática da modalidade. Ou acha que estes alunos aprenderiam mais se continuassem a jogar nos infantis até aos 16 anos? E os infantis com talento, acha que sairiam beneficiados caso as equipas de infantis estivessem infestadas de pernas-de-pau com 16 anos?

É evidente que todos os jogadores têm de passar de ano/escalão, independentemente das suas capacidades, para bem de todos. Sendo certo que, ao contrário das passagens administrativas do nosso tempo, neste caso, não passam todos em igualdade de circunstâncias porque passam com uma clara diferenciação entre os melhores e os piores e com uma vantagem: a qualquer momento o pior pode dar um salto de qualidade e ser chamado para a primeira equipa (sub-turma de excelência) e o melhor pode passar para a terceira equipa (sub-turma de recuperação). Ou seja, a competitividade e a diferenciação entre os alunos faz-se dentro do seu escalão de idade e não por anos de escolaridade.

Além disso, o simples facto de todos os alunos chegarem obrigatoriamente aos juniores não significa obviamente que fiquem todos habilitados para triunfar nas melhores equipas ou sequer para jogar nalguma equipa.

Para finalizar, apenas dois apontamentos. Sempre que se argumenta com o sucesso que alguns dos alunos retidos tiveram, no ano seguinte, nas disciplinas com menos aproveitamento, era importante saber se o professor tinha sido o mesmo e se o grau de exigência foi o mesmo, caso contrário os dados não querem dizer rigorosamente nada.

Por outro lado, mesmo no actual sistema (irracional e absurdo), é preferível passar, por exemplo, um aluno excelente a línguas e sem aptidões nas demais disciplinas, do que reprová-lo. E porquê? Porque, se passar, consegue manter o nível excelente a línguas e, se reprovar, até nas línguas regride.

Santana-Maia Leonardo - Observador de 23/11/2019 e Diário As Beiras de 25-11-2019

Santana-Maia Leonardo - in Diário As Beiras de 13-11-2019

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Hoje, quando se fala de futebol na Europa, fala-se necessariamente de negócio. No entanto, o negócio de que falam os presidentes dos clubes das grandes ligas europeias, não é o mesmo negócio de que falam os presidentes dos clubes portugueses. E isso faz toda a diferença.  

Enquanto, na Europa, o negócio dos clubes é a venda do espectáculo e, por isso, investem na competitividade e qualidade do mesmo, em Portugal o negócio dos clubes é a venda de jogadores, por isso, lutam entre si pela conquista de território e a eliminação dos concorrentes.

Em Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, França, Holanda e Bélgica, designadamente, os presidentes dos grandes clubes sabem que, quanto maior for a competitividade das suas ligas, maiores são as receitas que os seus clubes conseguem obter porque estão directamente relacionadas com a atractividade global das competições em que participam.

Pelo contrário, em Portugal, os presidentes dos grandes clubes sabem que o grosso das suas receitas depende da venda de jogadores, o que significa que, para sobreviverem, têm de garantir o acesso à montra europeia, o que implica recorrer a todos os meios para salvaguardar a sua posição dominante e vedar o acesso à montra dos outros clubes.

Daí que o futebol português seja dominado por organizações verdadeiramente mafiosas que lutam pelo controlo do negócio da venda de jogadores, não tendo qualquer interesse em investir na competitividade do campeonato que colocaria necessariamente em risco a sua posição dominante no mercado da compra e venda de jogadores. E, como todas as organizações mafiosas, os grandes clubes portugueses também têm os seus tentáculos no mundo da política, no mundo do banca, no mundo dos fundos e dos empresários do futebol e no sub-mundo do crime, ligado às máfias da noite e ao tráfico de droga.

Bruno de Carvalho foi o único dirigente do Sporting que percebeu como isto funcionava e quis entrar no jogo recorrendo aos mesmos métodos e disputando o território à lei da bala, sem olhar a meios. Bruno de Carvalho não foi derrotado nem pelos sportinguistas, nem pelos actos de demência que levou a cabo, mas por um erro de casting, o ataque a Alcochete, a que o Benfica, que, na altura, se encontrava nas cordas, se agarrou desesperadamente, supervalorizando a gravidade do ataque, através dos meios políticos e da comunicação social que controla, ao ponto de transformá-lo num ataque terrorista e, desta forma, assinar a sentença de morte de Bruno de Carvalho.

É precisamente por esta razão que Benfica e Porto não querem ouvir sequer falar em centralização dos direitos televisivos: os grandes clubes portugueses vivem da venda de jogadores, não vivem da venda do espectáculo, como acontece com todos os grandes clubes europeus. E quando ouvimos falar em 2028 para a implementação da centralização dos direitos televisivos em Portugal, só podemos desatar a rir às gargalhadas. Vivemos no século XXI. Daqui a dez anos já não haverá sequer televisões e, provavelmente, nem  liga portuguesa, quanto mais direitos televisivos.

Santana-Maia Leonardo

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Se não sabe o que é um alentejano, já vai sendo tempo de saber para não fazer figuras tristes. Eu sei que não há muitos por aí… A qualidade sempre foi um bem escasso. E, neste país, uma pessoa tem de explicar tudo tim-por-tim e, mesmo assim, têm dificuldade em perceber.

Em todo o caso, desta vez e à boa maneira alentejana, eu vou explicar bem devagar como se quem não soubesse o que é um alentejano fosse muito burro como efectivamente não pode deixar de ser.

A maioria das pessoas que não são alentejanas acham que um alentejano é um indivíduo que nasceu no Alentejo. Ora, é preciso não ter dois dedos de testa para não conseguir distinguir um alentejano de um indivíduo que nasceu no Alentejo mas que não é alentejano.

Qual é que é a diferença? Ora essa!... Então está-se mesmo a ver: o indivíduo que não é alentejano acha que é alentejano por ter nascido no Alentejo. Esta é que é a grande diferença. Qual é que é o alentejano que acha que é alentejano por ter nascido no Alentejo? Só se fosse estúpido é que pensava isso que é precisamente aquilo que um alentejano não é.

Eu sei que isto é um bocadinho difícil de perceber para quem não é alentejano, até porque é preciso ter um bocadinho de inteligência que é precisamente aquele bocadinho que mais falta por aqui. Mas eu vou tentar explicar. Ao contrário dos transmontanos, alfacinhas, beirões, minhotos e algarvios, um alentejano não se define pelo local do nascimento, até porque um alentejano não é esquisito: um alentejano nasce num sítio qualquer. Desde que não falte o pão, bem entendido...

Como já aqui expliquei um dia, ninguém nasce alentejano, é-se alentejano. O alentejano tem a ver com o SER e não com o NASCER.

Em todo o caso, não sei para que estou aqui com tantas explicações quando Sá de Miranda, no poema “A El-Rei D. João”, há mais de 400 anos, fez o retrato do alentejano com tanto rigor e pormenor que é preciso mesmo ser muito ignorante para não saber o que é um alentejano.

Como escreveu Sá de Miranda, um alentejano é precisamente isto sem tirar nem pôr:  “Homem de um só parecer,/ D'um só rosto, uma só fé,/ D'antes quebrar, que torcer, / Ele tudo pode ser/ Mas de corte homem não é.