Não há fome que não dê em fartura
Segundo consta, Pete Carvalho Djob terá pedido para sair na primeira parte do jogo de Juniores da AF Porto entre o Pedras Rubras e o Leça do Balio, alegando ter ouvido insultos racistas por parte de um adversário.
Portugal é mesmo assim: passa rapidamente do 8 para o 80 sem sequer parar, nem que seja por um um breve momento, no meio-termo que é precisamente onde está a virtude.
Ora, se alguém pensa que vai conseguir educar os seres humanos num jogo de futebol e transformá-los em pessoas educadas, que não dizem palavrões e não batem nos filhos, desimagine-se. O futebol é um espectáculo de paixões e, como tal, produz o mesmo efeito das bebidas alcoólicas: por mais que uma pessoa, quando está séria, jure que se vai comportar decentemente mesmo que beba uns copos a mais, isso não é garantido.
E das duas uma, ou acabam com o futebol e as bebidas alcoólicas ou temos de estar preparados para que haja indivíduos que não conseguem controlar as suas emoções, quando bebem uns copos ou vão a um estádio.
Além disso, é importante não confundir uma manifestação em coro de um estádio inteiro ou de uma determinada zona do estádio da falta de educação de uma pessoa determinada ou que está embriagada. São coisas totalmente diferentes.
Por outro lado, devo, desde já, dizer, não considero o termo "preto" ofensivo. Por outras palavras, para um racista, o termo "preto" é efectivamente ofensivo. No entanto, para uma pessoa que não seja racista, o termo "preto" não pode ser ofensivo, caso contrário seria admitir que há cores da pele mais prestigiantes ou desprestigiantes.
Aliás, nem me senti orgulhoso pelo facto de jovens moçambicanos me tratarem por "branco", quando estive em Moçambique ("passa a bola ao branco", "marca o branco"...), nem humilhado por um "branquelas" norueguês me chamar "preto".
O que acho absolutamente ignóbil e repugnante é tratarem-se os "pretos" por "afro-descendentes" como se não fôssemos todos afro-descendentes ou como se houvesse um distinção entre europeus pela cor da pele: os brancos seriam os europeus, por direito próprio, e os pretos, por direito adquirido. Ou seja, os brancos seriam os europeus puros, de primeira classe, e os pretos, seriam os afro-descendentes, europeus de segundo classe.
Ora, para se acabar com o racismo, também é importante educar as pessoas a não terem complexos com a cor da sua pele, da mesma forma que eu fui educado para não ter complexos por ter 1,92 m de altura e me chamarem "girafa" na escola, sob pena de ficar corcunda como acontecia com alguns dos meus amigos que andavam sempre dobrados para parecerem mais pequenos. Sendo certo que não há nada melhor para uma pessoa ganhar uma alcunha do que ficar ofendido com ela.
Santana-Maia Leonardo