Até o fim do mundo está de baixa prolongada
Não há nada que melhor defina o carácter do povo português que fica na praia, quando os mais afoitos se fazem (e faziam) ao mar, do que o catastrofismo com que justifica a sua cobardia e o pavor pelo risco. Como já aqui escrevi, os portugueses são capazes do 8 e do 80. O problema é que os capazes do 8, que ainda por cima são a maioria e têm direito a voto, ficam todos o que obriga os capazes do 80 a ter de partir se quiserem ser reconhecidos.
Não houve um único português que por aqui ficasse, seja no comentário televisivo, seja na mesa de café, que não prenunciasse o fim do mundo caso o Syriza vencesse as eleições na Grécia. Venceu o Syriza e o fim do mundo afinal não aconteceu. Depois era a Catalunha e agora é o Brexit... E o fim do mundo tarda em acontecer.
A hipocrisia, essa verdadeira instituição nacional, chegou a tal ponto que os mesmos que, ainda há pouco, tanto tremiam com o papão da independência da Catalunha falam agora com uma estranha satisfação da independência da Escócia.
Pessoalmente, continuo tranquilo até porque cresci e fui educado na convicção de que o fim do mundo ocorreria no ano dois mil. "A mil chegarás mas de dois mil não passarás". Isto era garantido. Mas por estes lados, pelos vistos, até o fim do mundo está de baixa prolongada.
Santana-Maia Leonardo - Diário As Beiras de 12-3-2020