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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

30 Abr, 2020

O Calvin

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O Calvin morreu no dia 30 de Abril de 2008.

Era um podengo médio de pêlo curto, muito senhor do seu nariz e muito independente, excepto em dias de trovoada. Nesses dias, saía de casa que nem um tiro, batia-me à porta do escritório e, mal a minha funcionária abria a porta, enfiava-se debaixo da minha secretária para que eu lhe valesse. E dali não arredava pé, enquanto a trovoada não passasse.

Foi o meu único cão que tinha a chave de casa. Só lhe faltava falar, mas toda a gente o entendia. Quando queria entrar em casa, dirigia-se à estação da rodoviária, que fica em frente da minha casa, e pedia ao senhor funcionário para lhe vir abrir a porta. O senhor abria-lhe o portão do quintal e ele entrava, sem nunca se esquecer de olhar para trás para agradecer. Resumindo, era um daqueles cães vadios que já nasceu educado.

Conhecemo-nos, por acaso, numa noite de Fevereiro de 1999 em que fui despejar o lixo ao contentor. Quando estava a despejar o lixo, um cãozito podengo saltou-me ao caminho para eu lhe fazer festas. Ficámos amigos e convidei-o para vir petiscar à minha casa. E por ali ficou. E como tinha um Husky Siberiano que se chamava Claine, baptizei o meu jovem amigo de Calvin.

Um dia, na época da caça, o Calvin saiu de casa, como de costume, e já não regressou. Corremos Ponte de Sor inteira, falámos à GNR e o cão não apareceu. Como era podengo, o mais certo, disseram-nos, era ter sido levado por caçadores.

Um mês mais tarde, quando a minha mãe vinha de Lisboa para Ponte de Sor de automóvel, ao chegar ao Cansado, passou por um cão que seguia pela berma da estrada no sentido de Ponte de Sor. E, nisto, teve um sobressalto: parece o Calvin. Parou o carro. “Calvin!”.

Quando o Calvin ouviu a voz da minha mãe, correu desenfreado na sua direcção, enfiou-se no carro e teimou em fazer o resto da viagem ao seu colo, fitando-a sempre no rosto. Tão depressa não saiu de casa. E quando voltou a sair, nunca mais ninguém o enganou.

Até que, no dia 30 de Abril de 2008, já velhote, ao atravessar a estrada em frente da minha casa, esqueceu-se de atravessar na passadeira e de olhar para os dois lados, como eu sempre lhe dizia... E esta desatenção foi fatal. Acabou por ser atropelado, sem culpa, saliente-se, da condutora do veículo.

O meu filho levou-o, de imediato, para o veterinário, onde eu o fui encontrar em cima da bancada para realizar o raio-x. Fiz-lhe umas festas para o animar e ele olhou-me com aquele seu olhar dos dias de trovoada em que só se sentia seguro debaixo da minha secretária. Mas, desta vez, eu não lhe podia valer. Tinha fracturado as duas pernas da frente e com a sua idade… E o Calvin percebeu no meu olhar que não havia nada a fazer. E, sem um lamento, nem uma queixa, despediu-se de mim com a dignidade com que sempre viveu, bem sabendo que, enquanto eu vivesse, podia sempre contar, nos dias de trovoada, com o seu lugar debaixo da minha secretária.

Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 12/8/2022

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Eu só tive verdadeiramente a consciência de que isto era assim (clicar sobre a foto para ler a notícia) quando li o estudo da Uefa de 2015 sobre a relação adeptos/clube por país. Até esta data, se alguém ler os meus post nos meus blogs "Rexistir", o primeiro (2004 a 2008), e "Coluna Vertical", a partir de Agosto de 2008, assim como o meu livro "A Terra de Ninguém", vai constatar que eu só muito raramente publiquei textos sobre futebol. Alguns sobre o Apito Dourado, mas todos eles criticando a organização do futebol português. E porquê? Porque, até ler aquele estudo de 2015, nunca me passou pela cabeça que, sobretudo o Benfica (com metade da população portuguesa) tivesse uma implantação tão grande em todo o território nacional, o que aliado ao novo discurso totalitário e hegemónico dos seus dirigentes, recuperando e empunhando, de novo, velhas bandeiras e estratégias do tempo do Estado Novo, era muito preocupante.

Até ler aquele estudo, porque vivia em Ponte de Sor, uma pequena cidade alentejana próxima de Lisboa e que faz vida com Lisboa, eu pensava que Benfica, Sporting e Porto estariam para o futebol português como o Real Madrid e Barcelona estavam para Espanha. Ou melhor, pelo peso mundial dos dois colossos espanhóis, até pensava que o peso destes dois clubes em Espanha era superior ao dos três grandes clubes portugueses.

Consequentemente, não havendo nos arredores de Ponte de Sor qualquer clube na I Liga, era natural que os meus amigos pontessorenses fossem do Benfica ou do Sporting. Até eu tenho casa em Lisboa, junto à 2 Circular, onde passava grande parte dos meus fins de semana e, porque sou um apaixonado pelo futebol (enquanto jogo e não como religião, a que dou alérgico), fui, durante muito tempo sócio do Benfica e do Sporting.

Só quando li aquela publicação de 2015, constatei que a situação portuguesa não era equiparável sequer a qualquer país europeu, o que somado aos jogos da BTV, à não centralização dos direitos televisivos, ao aparecimento dos comentadores-adeptos, à comunicação social ao serviço do "clube que vende", à política de empréstimos, à falta de transparência das SAD, etc., fez soar, em mim, todos os alarmes. Até porque o caminho que estava a ser seguido pelo duo Filipe Vieira/Gomes da Silva era o mesmo que tinha sido seguido por Sócrates e com o mesmo aliado (Ricardo Salgado), só que com um exército de fiéis muito maior do que o do PS de Sócrates.

Só para se perceber a diferença entre a realidade portuguesa e espanhola, o Benfica tem mais adeptos do que os 8 maiores clubes espanhóis todos somados. Além disso, Real Madrid e Barcelona, com 33% dos adeptos espanhóis, têm o grosso dos seus adeptos concentrados nas suas regiões Castela-Leão e Catalunha. Em todas as cidades onde existem clubes a disputar as ligas profissionais, os clubes residentes têm a esmagadora maioria dos adeptos, hostis a Madrid e Barcelona, o que faz com que os jogos contra estes clubes sejam de vida ou de morte com estádios a abarrotar de adeptos da casa. Num jogo Bétis-Barça, por exemplo, num estádio de 65 mil lugares, apenas cerca de 500 são destinados a adeptos do Barça ou do Madrid.

Concluindo: se um Apito Dourado liderado pelo FC Porto, tinha a dimensão do escândalo do BPN (era grave mas era um tumor bem localizado que ainda era possível extirpar), um Apito Dourado liderado pelo Benfica tinha a dimensão do escândalo BES/CGD. Ou seja, é um tumor generalizado e com metástases por todo o lado.

30 Abr, 2020

A Íris

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A Íris morreu no dia 29 de Abril de 2014.

Era uma cadela podenga de pêlo cerdoso que apareceu ferida, perto da minha casa, em Março de 2006, na companhia de outro podengo, o Petit, e que viria a ser a mãe do Sebastião, um dos meus melhores amigos, também já falecido.

Na altura, já tinha onze cães, mas a minha filha insistiu tanto para que os deixasse levar para o quintal do escritório, jurando-me que, desta vez, era ela que ia tratar deles, que acabei por aceder, acabando, mais uma vez, por ser eu a tratar deles. É sempre a mesma conversa!

A Íris tem, no entanto, uma história muito peculiar que vão gostar de conhecer.

No dia 28 de Março de 2008, tinha um julgamento na cidade da Maia pelo que tive de regressar de Nova Iorque no dia 27, seguindo directamente do aeroporto de Lisboa para a cidade da Maia. Como tantas vezes sucedia naquele tempo, a viagem foi inglória, porque o julgamento foi, mais uma vez, adiado.

Quando regressava para Ponte de Sor (uma viagem de trezentos quilómetros), recebi um telefonema angustiado da minha filha, informando-me de que a Íris tinha sido roubada e que um vizinho lhe dissera que tinha sido por um cigano no dia anterior.

Importa fazer aqui um esclarecimento. A minha avó paterna morreu, quando o meu pai nasceu, e quem amamentou o meu pai foi a Rita Cigana, a quem o meu pai, enquanto viveu, tratou sempre por Mãe Cigana. Por esse motivo, ainda hoje ando a pagar o leite a prestações.

Acontece que um dos netos da Rita Cigana, conhecido por Gaiulo, já falecido, foi meu amigo de infância. Por isso, pedi à minha filha para me enviar o número do telemóvel dele. Quando recebi o número, liguei-lhe, disse-lhe o que tinha acontecido e ele perguntou-me: “A que horas é que isso foi e como é que era o cigano?

Foi por volta do meio-dia e era um indivíduo alto e de barbas”, respondi.

Então foi o M… da cidade X”, respondeu, de imediato, o Gaiulo (não vou dizer nem o nome do indivíduo nem o nome da cidade da Margem Sul, porque as pessoas ainda estão vivas e não quero estigmatizá-las).

Arranja-me o número de telefone dele”, pedi-lhe.

Passado pouco tempo, o Gaiulo ligou-me e disse-me: “Não consegui o número de telefone dele, mas já falei com o seu irmão que vive na vila Y [uma pequena vila alentejana do distrito de Portalegre], que ligou para o irmão e que este lhe disse que não tinha lá a cadela”.

Dá-me lá o número do irmão.”

Tudo isto ia acontecendo, recordo, em plena viagem Maia – Ponte de Sor. Liguei para o tal irmão e, depois de me identificar, disse-lhe: “Diga ao seu irmão que eu vou a caminho do acampamento dele buscar a cadela.”

Já falei com o meu irmão e ele disse-me que não tem lá a cadela.”

Diga ao seu irmão que, se ele não tiver lá a cadela, quando eu lá chegar, vai ser pior para ele, porque vai passar a ter rusgas todos os dias, pode ter a certeza.”

Isso é uma declaração de guerra à minha família”, disse-me.

A cadela é da minha família”, respondi-lhe e desliguei-lhe o telefone.

Entretanto pedi à minha filha para ligar para o posto da PSP da tal cidade da Margem Sul e enviar a foto da cadela. Quando estava a chegar à tal cidade da Margem Sul, recebi um telefonema da PSP a informar-me de que já lá tinham a cadela. Segundo os agentes da PSP, que recolheram a cadela no acampamento, foi-lhes dito que não sabiam como a cadela lá tinha ido parar.

O senhor quer apresentar queixa?”, perguntaram-me.

Claro que não. O mais provável era a cadela ter vindo ver a família.

Com efeito, se a cadela era da minha família, também era da família deles por afinidade de leite.

Concluindo: tudo está bem, quando acaba bem. E depois de um desvio pela Margem Sul, pude finalmente regressar a casa com a minha amiga Íris.

Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 21/9/2022

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O Governo reuniu com os únicos clubes da Liga Profissional de Futebol que existem em Portugal. Se existissem mais clubes, como acontece nos outros países, o Governo teria reunido, obviamente, com a organização representante dos clubes. Mas em Portugal só existem estes três clubes. PONTO FINAL.

E não vale a pena enganarmo-nos e andar com mentiras piedosas porque toda a gente sabe está farta de saber que, em Portugal, só existem três clubes. Se existissem outros clubes, não seria possível o comentário desportivo diário ser realizado por adeptos de apenas três clubes. Não seria possível não haver centralização dos direitos televisivos. Não seria possível os jogos do Benfica darem na televisão do Benfica. Não seria possível os estádios por esse país fora (à excepção de Guimarães) terem mais adeptos visitantes do que adeptos da equipa da casa que, em boa verdade, não são da equipa da casa mas dos clubes adversários àquele contra quem estão a jogar. Etc. etc. etc.

MAS ISTO ESTÁ ABSOLUTAMENTE EXPRESSO NO ESTUDO DA UEFA DE 2015..

Portugal é o único país da UEFA e, provavelmente, do mundo que só tem TRÊS CLUBES. O Benfica (com metade dos adeptos portugueses) e o Sporting e o Porto (com a outra metade) reúnem a totalidade dos adeptos portugueses. Segundo o estudo, em 2015, existia apenas 3 a 4% da população portuguesa, dispersa pelo país inteiro, que não era adepta de nenhum destes três clubes. Mas hoje provavelmente o número ainda seria menor, tendo em conta os cinco anos de propaganda e intoxicação diária em todas as televisões onde não tem cabidela qualquer outro clube nem para comentar os casos e os jogos que disputam com os outros três.

Para terem a noção da diferença, a percentagem de adeptos dos 8 maiores clubes espanhóis, ingleses, italianos, alemães, franceses, holandeses, suecos, etc. etc. é inferior à do Benfica. Estamos a falar de percentagem de adeptos por país, porque, no mundo, Barça, Madrid e United têm 300 milhões de aficionados cada um.

No entanto, a Liga portuguesa continua a disputar-se como se houvesse mais do que três clubes (Guimarães é uma excepção, mas está refém do que recebe dos direitos televisivos), ou seja, entidades independentes economicamente, enraizadas em comunidades que representam e alicerçadas num conjunto de adeptos fiéis que querem que o seu clube ganhe SEMPRE.

Santana-Maia Leonardo

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"Um Clube como Estado Soberano" é o título deste artigo do The New York Times (clicar sobre a foto para ler a notícia).

E o lead acrescenta: “Juízes, procuradores e até o primeiro-ministro de Portugal são apoiantes do Benfica. Mas o que acontece quando esses fãs podem presidir casos que afetam os interesses do clube?

O jornal The New York Times não tem por hábito escrever textos sobre desporto e muito menos sobre clubes europeus. Mas o Benfica merece porque é o único clube no mundo que não é um clube: é o próprio Estado.

O 25 de Abril derrubou o Estado Novo mas deixou de pé a sua sua maior INSTITUIÇÃO. Ou melhor, A INSTITUIÇÃO. A maior pressupõe que existem outras. Ora, o Benfica, como o artigo reconhece e os benfiquistas orgulhosamente apregoam, é A INSTITUIÇÃO cujas ramificações capturaram o próprio Estado português, como, de resto, o estudo da Uefa de 2015 já indiciava. 

Quando um clube tem mais de 50% dos adeptos num país com uma cultura político-desportiva de carácter mafioso baseada no fanatismo cego, todas as instituições e poderes do Estado ficam reféns da INSTITUIÇÃO, por força da esmagadora maioria de fiéis.

Santana-Maia Leonardo

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Devemos ao 25 de Abril a entrada na União Europeia, o que nos garante a Democracia, a Liberdade e uma sociedade de bem-estar a que não teríamos qualquer hipótese de aceder de outra forma, tendo em conta o contexto iliberal, conformista e conservador (no mau sentido) em que os portugueses cresceram e foram educados, mais vocacionado para a pedinchice, a lamúria e a sabujice do que para liderar, agir e fazer.

Todas as instituições do Estado Novo chegaram ao dia 25 de Abril totalmente envelhecidas e corrompidas, incapazes de esboçar uma reacção, ainda que ligeira, ao movimento dos capitães.  O regime caiu da cadeira do poder da mesma forma que Salazar.

No entanto, o poder político saído do 25 de Abril, em vez de ter arrancado pela raiz as instituições herdadas do Estado Novo e ter plantado novas árvores recolhidas das democracias liberais mais consolidadas, limitou-se a fazer-lhes a poda. E ao limitar-se a fazer a poda, as instituições do Antigo Regime, com todos os seus piores vícios e defeitos (designadamente, o centralismo, o caciquismo, o servilismo, o maniqueísmo, a corrupção, a cunha, o compadrio, a subserviência, a inveja, o respeitinho, a censura e a cultura iliberal de rebanho e de funil) voltaram a ganhar raízes e a florescer ainda com maior pujança. Parafraseando Fernando Pessoa, também podemos concluir que, com o 25 de Abril, "Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. / Senhor, falta cumprir-se Abril!".

Existe, para mim, uma explicação óbvia para esta opção pela manutenção da estrutura centralista do regime, em vez de se ter optado pela estrutura descentralizada das democracias liberais consolidadas, assentes, como ensina Tocqueville, na dispersão do poder por um grande número de instituições, independentes umas das outras, e que se equivalem ("checks and balances"). 

Ao contrário das democracias liberais, os Estados fascistas assentam num centralismo que tem no topo da pirâmide o ditador muito semelhante ao centralismo democrático dos estados comunistas. Ora, o partido político mais esclarecido e organizado que emergiu da revolução do 25 de Abril foi o PCP e, como tal, quis aproveitar a organização do estado centralista do Antigo Regime para impor uma ditadura de sinal diferente, a que eufemisticamente chamava "centralismo democrático".

É certo que o PCP acabou por ser derrotado no 25 de Novembro, mas o centralismo já tinha voltado a ganhar raízes, sem que os partidos democráticos que foram vencendo as eleições, designadamente, o PS e o PSD, tivessem a coragem de lhe tocar. Na oposição, todos se queixam mas, quando chegam ao poder, os governantes nacionais, regionais e locais são incapazes de abrir mão do poder absoluto que o centralismo lhes oferece. 

A UE, felizmente, vai-nos garantindo a Democracia e a Liberdade. No entanto, se, do ponto de vista formal, somos uma democracia liberal e um Estado de Direito, a verdade é que, do ponto de vista da substância, ainda não somos nem uma verdadeira democracia liberal, nem um verdadeiro Estado de Direito. Ou seja, a forma ainda não condiz com o conteúdo. 

Santana-Maia Leonardo Diário As Beiras de 27-4-2020

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O jogo Barça - Sporting, no dia 23 de Abril de 2016, precisamente no dia de Sant Jordi, o feriado mais popular da Catalunha, coincide precisamente com o meu primeiro dia no exílio em Barcelona, a cidade que o meu coração escolheu para viver quando cheguei à conclusão de que havia uma divergência insanável entre a minha forma de entender a democracia, a cidadania, a justiça, a educação, o fair play e o desporto e a do povo português residual, que representa hoje 97% da população portuguesa residente em Portugal.

Sant Jordi é o santo padroeiro da Catalunha e, neste dia, Barcelona enche-se de rosas e livros, cumprindo-se a tradição de os homens presentearem as mulheres com rosas e em troca, receberem das suas companheiras um livro. 

Logo duas coisas que, por coincidência, têm a ver comigo: rosas e livros. 

Segundo a lenda, Sant Jordi, um bravo cavaleiro, enfrentou e venceu um poderoso dragão que vivia na região de Montblanc, aterrorizando os habitantes da região, quando a princesa foi seleccionada para ser oferecida em sacrifício ao monstro para o acalmar.

Segundo a lenda, no exacto lugar onde o sangue do dragão foi derramado, nasceu uma belíssima roseira. Daí a rosa e também o facto de o Dragão e Sant Jordi estarem imortalizados na cidade de Barcelona e em todas as obras de Gaudí.

Quanto aos livros, deve-se à feliz coincidência de o dia de Sant Jordi, o dia 23 de Abril, coincidir com o dia da morte de dois dos maiores escritores mundiais: William Shakespeare e Miguel de Cervantes. 

O início do meu exílio em Barcelona precisamente no dia de Sant Jordi, por feliz coincidência, foi premonitório. Ofereci à minha princesa uma rosa e Barcelona ofereceu-me o livro da Vida.

Porquê Barcelona? Porque Barcelona respira liberdade e harmonia por todos os poros.

Barcelona é a cidade mais aberta, cosmopolita e europeia da Península Ibérica, onde uma pessoa não se sente estrangeiro. Porque esteve do lado certo na guerra civil espanhola, do lado de Portugal na luta pela independência e não é subserviente a Madrid, nem gosta do Real Madrid. Porque é a cidade de Gaudí e do Barça. Porque é geométrica, cultural, tem mar e uma temperatura amena. 

Santana-Maia Leonardo

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O que nós precisamos é de cidadãos que valorizem a honestidade e a inteligência, sem complexos, amem a liberdade, o que significa ser responsável, e cultivem o respeito pelos outros e pela diversidade.

Ditadores e pastores é precisamente aquilo que nós, seres humanos, não precisamos, sejam eles inteligentes ou estúpidos.

Esta é precisamente a grande diferença entre o Homem e a ovelha.

Enquanto a ovelha anda sempre à procura de um pastor que a guie, os homens buscam sempre a Liberdade.

Como escreveu Jaspers, "Ser homem é ser livre. Tornarmo-nos verdadeiros homens, esse é o sentido da História."

Santana-Maia Leonardo

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